terça-feira, 30 de novembro de 2010

Combate ao tráfico

Lei da Oferta e da Procura

A atuação da Polícia Militar, Civil e Federal com a ajuda das Forças Armadas nas favelas do Rio surgiu como uma surpreendente ação no longo e falho combate contra o tráfico de drogas. Certamente a vinda ao Rio de Janeiro dos dois grandes eventos esportivos internacionais como a Copa e as Olimpíadas deve ter influenciado tal iniciativa, o que não deixa de ser um fato vergonhoso, pois há muito a manutenção da segurança pública deveria ter sido motivo suficiente para isso.

De qualquer forma, a presença das autoridades nos Morros do Rio finalmente expõe uma população ávida por mudanças, oprimida pela lei do silêncio e governada pelos imperativos do crime. Agora isso pode mudar. Há uma chance de aquelas pessoas poderem viver como cidadãs sem, com isso, terem de colocar a vida em risco. Basta saber, obviamente, se essa condição de liberdade irá perdurar.

Uma das principais perguntas a se fazer é se os soldados das Forças Armadas continuarão nos locais por tempo suficiente, a ponto de impedir a retomada dos traficantes. Contudo, a quantificação desse tempo é muito subjetiva, quantos dias de vigilância serão necessários para acabar de vez com o domínio do crime nos morros da cidade do Rio de Janeiro?

Infelizmente, para responder essa pergunta, apenas outra pergunta: como acabar com o tráfico de drogas eliminando apenas uma parte do negócio? Como extinguir a venda de drogas ilícitas quando, morro abaixo, existem inúmeros consumidores? São esses que patrocinaram as metralhadoras, os veículos, as mortes.

Parece, assim, incompleta a luta contra o tráfico de entorpecentes. Fica uma sensação de que algo ainda está errado, incompleto. Enquanto houver quem queira comprar, haverá sempre quem queira vender. De que adiantará prender os traficantes e os seus cúmplices nessa situação? Outros se aproveitarão da existência da procura pelas drogas, e se transformarão nos sucessores desse tipo de crime.

Assim, parece correto dizer que a presença dos policiais e soldados não deve se limitar apenas ao mundo dos menos favorecidos nas reentrâncias complexas das favelas sobre os morros, mas também deve migrar para as ruas arborizadas e elegantes da cidade, onde muitos contribuem para endossar essa aviltante prática, algoz da organização social e segurança pública.


Por Maricy Ferrazzo

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

ELEIÇÕES 2010

Candidatos “diferentes” colocam o Brasil no rol das curiosidades da mídia internacional

Não seria provável que a existência de alguns candidatos brasileiros passasse despercebida pela imprensa mundial. Na semana passada a BBC internacional divulgou imagens dos candidatos mais “diferentes” do Brasil, chamando-os de “candidatos malucos”.

A matéria atenta para a frase de um deles, que não se limitou a exemplo do absurdo somente no Brasil: “Vocês sabem o que faz um deputado federal? Eu também não. Mas votem em mim que eu vou descobrir com vocês.” Outra observação divulgada pela BBC foi a candidatura da “mulher em formato de pera” pelo Partido Trabalhista Nacional, que se orgulha quando os eleitores dizem que preferem votar nela a votar nos políticos corruptos.

A agência de notícias internacional AFP também circulou matéria sobre a candidatura da mulher-fruta, de título “Transformando o sex appeal em votos nas eleições do Brasil”, dando ênfase para o forte apelo sexual contido em tal candidatura.

Já o Herald Tribune destacou as tentativas de esportistas aposentados conseguirem uma cadeira no Congresso Nacional: “Depois de longas carreiras no futebol, os dois ex-jogadores agora esperam usar o reconhecimento de seus nomes entre os eleitores brasileiros para se lançarem no meio político.”

É uma pena que o Brasil, cujo sistema democrático de governo vem se consolidando e servindo de exemplo para muitos outros países, tenha que ser mencionado ora como o país do ‘mensalão’, ora como o país dos “candidatos malucos” e/ ou oportunistas.

Por Maricy Ferrazzo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

ELEIÇÕES


Liberdade ou loucura?

Com o início da propaganda eleitoral sendo divulgada em diversos veículos de comunicação, um triste retrato da situação política brasileira se repete. São os variados candidatos aos cargos de extrema importância e responsabilidade de nossa democracia que se apresentam como se toda a instituição democrática fosse, não a base sedimentar da coexistência justa e pacífica, mas um circo.

O momento da propaganda eleitoral é a exposição pública do comprometimento e dos ideais que o candidato pretende representar em nome do povo. Como pode ser aceitável que essa exposição não contenha nem o comprometimento, nem um mínimo conteúdo cidadão? Ao invés disso, depara-se com slogans que fazem troça do próprio Poder Legislativo, ironizando sua existência e, dessa forma, anulando a própria razão de ser do candidato.

A Constituição brasileira garante a liberdade de expressão, assim como também o direito à organização partidária, porém, não há coerência no uso desses direitos para depreciar exatamente a instituição que os garante. Porque as “brincadeiras” de alguns candidatos não estão criticando as políticas corrompidas atuais, mas aparecem a esmo, sem um conteúdo definido, ficando a piada pela piada.

Triste é constatar que há quem vote em tais candidatos. São brasileiros que desconhecem quão tortuosos foram os caminhos da humanidade até alcançarem o princípio democrático. Sem mencionar alguns países orientais, que ainda não permitem o voto, ou não o permitem a todos.

Antes todos tivessem o conhecimento de que nossa democracia é representativa, e nela o voto é o único momento amplo em que emana a vontade direta do povo. Antes todos tivessem a consciência de que os representantes eleitos serão um retrato de quem somos; e que esse retrato fosse de liberdade, mas não de loucura.


Por Maricy Ferrazzo


quinta-feira, 8 de julho de 2010

SOCIEDADE




O extremismo da censura



A desconfiança, o estranhamento e o medo do ‘outro’ são elementos que fazem parte da natureza do homem. Entretanto, basta a iniciativa de um primeiro contato pacífico para que, aos poucos, esse outro deixe de trazer no desconhecimento que representa uma ameaça. Essa possibilidade de aproximação, a capacidade de compreensão e tolerância são características que fazem do Homem um ser racional.

Hoje, quando mesmo depois dos avanços da comunicação, persistem os conflitos étnicos, culturais e religiosos, obviamente se pergunta o que torna uma população inimiga da outra além dos interesses óbvios em disputa. Há o termo xenofobia, ou seja, aversão ao desconhecido, que claramente não se limita às regiões em guerra, está por toda a parte, ocorre todos os dias entre estranhos no metrô, entre vizinhos, entre colegas de trabalho.

Outro termo muito usado pela mídia internacional é o “extremismo”. As facções terroristas, o governo ou o governante são extremistas. Contudo é interessante observar como os termos xenófobo e extremista não atingem certa fatia da população mundial. O dono da multinacional que resolve fazer lobby para degradar a qualidade do meio-ambiente nunca é chamado de extremista, muito embora sua atitude radical repercuta negativamente em grande escala; o político que propõem um projeto de lei discriminador e segregador dificilmente é chamado de xenófobo.

Ontem, uma editora da rede CNN foi demitida ao postar no Twitter um comentário sobre o falecimento do clérigo xiita, Mohammed Hussein Fadlallah, em que afirmava ter grande respeito por sua memória. A jornalista foi acusada de ser simpatizante do Hezbollah e, mesmo depois de ter esclarecido a manifestação de sua opinião, informando que o clérigo havia lutado, dentro do possível, por melhores condições de direitos humanos dentro do Islã, acabou sendo demitida.

O ocorrido com a jornalista é um bom exemplo de como existe uma tendência a agrupar e perpetuar os conflitos impedindo que as pessoas sigam sua própria consciência. O que para muitos poderia ser um passo em direção à paz, uma iniciativa em direção à compreensão e tolerância, para muitos é deserção, traição.

Estará o mundo inteiro em constante guerra? Pois é na guerra que em nome de uma ideologia generalizante se mata um oponente que nunca fez mal a ninguém. É na guerra que é proibido pensar, individualizar. “Ou se está conosco ou se está com eles”. Será esse o novo modus operandi do pensamento contemporâneo?

A rede CNN explicou sua decisão afirmando que o comentário da jornalista havia prejudicado sua credibilidade. Ledo engano, a credibilidade dela está melhor que nunca.


Por Maricy Ferrazzo


Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=597MON009
Imagem: worldofstock.com

quarta-feira, 7 de julho de 2010

CRIME CONTRA O MEIO-AMBIENTE

Democracia doente

Não podemos deixar que transformem em propriedade o que é legado da humanidade

A clara manipulação que está ocorrendo no Congresso Nacional para que o relatório da reforma do Código Florestal do deputado Aldo Rebelo (PCdoB) seja aprovado é mais um exemplo de conduta vergonhosa em nosso Legislativo. Uma proposta que mal pretende disfarçar os interesses da minoria agricultora no país, passando por cima da mínima noção de responsabilidade ambiental.

O relatório já foi aprovado no Congresso por 13 votos a cinco e vai aguardar aprovação no plenário após as eleições. É interessante observar como essas propostas aparecem em período de transição de mandatos, quando as atenções estão mais esparsas.

Mais uma vez, os membros do Legislativo, cujo papel é representar a vontade do povo brasileiro, estão agindo em favor de seus próprios interesses ou protegidos, arrastando nossa democracia de volta aos tempos do coronelismo. A remoção do deputado ambientalista Ricardo Trípoli (PSDB) da comissão especial dois dias antes da votação é um visível exemplo disso.

Um tema de importância vital – e que o termo ‘vital’ seja entendido no sentido literal – não pode ser conduzido da forma como está acontecendo. Parece ser necessário explicar mais uma vez a esses políticos que o meio-ambiente não é propriedade, é legado. E de todos.

Tal assertiva sugere que seria muito mais justo que uma reforma no Código Florestal fosse posta a referendo (art. 14, CF), para que o povo – real legitimador do governo – se expressasse sobre o assunto. Obviamente que não é do interesse daqueles que não representam a vontade popular que isso ocorra. Principalmente se a opinião dos que perderam tudo com as enchentes do ano passado e do atual forem ouvidos. Ou aqueles que sofreram com as doenças potencializadas pelas altas temperaturas e chuvas constantes, ou pela seca cada vez pior.

Num momento em que o mundo todo discute formas de assumir medidas que impeçam o desmatamento, o Brasil, tão alardeado nas conferências mundiais, vai permitir que tantos passos sejam dados para trás.

A saída é, além de tomar muito cuidado na hora de votar neste ano, exigir que um assunto tão importante como as leis florestais seja discutido por meio de um mecanismo de representação popular direta, já que o Congresso está do lado da moto-serra.


Por Maricy Ferrazzo

Imagens: G1,ANB e Rede Brasil Atual

segunda-feira, 21 de junho de 2010

SOCIEDADE

Consumidor brasileiro – um Davi diante de vários Golias

Nem todos são politicamente, ecologicamente ou desportivamente ativos, porém, em nosso presente sistema econômico, há algo que todos não têm como escapar de ser: consumidores. Somos consumidores 24 horas por dia, inclusive nas horas de inconsciência, durante o sono, ou mesmo parados, dentro do carro, presos num congestionamento. Não obstante, o consumidor brasileiro ainda não conseguiu o respeito devido que tal significativa atribuição deveria lhe proporcionar.

O Brasil se destaca no plano internacional como um território com grande massa potencial de consumidores, grande parte da recente credibilidade do país é devida à ascensão do poder de compra do brasileiro médio. Os outros países exportadores mantêm grandes olhos na direção do mercado brasileiro, um contingente a ser conquistado. Contudo, o brasileiro quando vai consumir ainda tem a sensação de que está “recebendo um favor” ao invés de sustentar todo o sistema produtivo de seu país. Por que será?

Tratado como se a sua participação crucial no sistema da oferta e demanda fosse meramente dispensável, o brasileiro enfrenta filas enervantes para comprar bens de primeira necessidade (do supermercado à loja de departamentos), tem dores de cabeça intermináveis com planos de operadoras de celular e telefone fixo, retira produtos já danificados das lojas (do notebook ao carro) e contrata serviços que são prestados (quando são) com menos da metade da qualidade oferecida e prometida. Ainda como se já não bastasse ter que procurar os planos de saúde em detrimento da ineficiência do sistema público, volta a encontrar muitas das mazelas das quais tentou escapar.

Por que o consumidor brasileiro é tão desprezado?

São passados 20 anos desde que o Código de Defesa do Consumidor trouxe novas condições de igualdade nas relações de consumo, porém, quem já não se sentiu lesado quando o produto/ serviço pelo qual pagou desconsiderou a obrigação primordial que é a de satisfazer o motivo do consumo em si? Muitas vezes, quando a pessoa lesada processa a empresa que não agiu de boa fé, resta, ainda, a sensação de um dano não meramente individual, mas geral, referente à postura constante da empresa em face da responsabilidade de sua atuação. Algumas, recordistas de reclamações e intimações, deveriam ter de prestar mais minuciosas explicações aos órgãos reguladores, pois muitas vezes fica implícita a falta de boa fé generalizada.

Muitos se sentem desmotivados em exigir seus direitos diante de grandes conglomerados ou multinacionais; a ponto de tal disparidade de poderes remontar à história da luta do pequeno Davi contra o gigante Golias, no entanto, é muito importante que os direitos previstos por lei sejam constantemente exigidos para que o consumidor não tenha sua importância ainda mais diminuída.

Para isso, o consumidor conta com três aliados na hora de se defender de abusos nas relações de consumo: além do Código de Defesa do Consumidor, ele pode apelar para a imprensa (as seções de reclamações dos jornais estão cheias dessas manifestações) ou para os espaços de divulgação na Internet e, o mais importante método de todos: simplesmente deixar de consumir aquele produto ou serviço que tenha lhe causado alguma espécie de dano.


Por Maricy Ferrazzo

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Outros motivos para nacionalismo além da Copa

Muito embora as expectativas insurgentes em época de Copa do Mundo sejam por causa do futebol, há alguns fatos que todo brasileiro deveria saber. São eles os agentes da nova projeção geopolítica do Brasil no plano internacional.

Em detrimento da recente decisão do Brasil de apoiar o enriquecimento de urânio do Irã, o ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, Rubens Barbosa, falou à mídia sobre a crecente presença internacional do Brasil. Segundo ele, primeiramente, há que se considerar todas as mudanças conjecturais pelas quais o mundo vem passando nos últimos anos, desde o âmbito social até o político e econômico. O fim da era do unilateralismo norte-americano possibilitou o surgimento de diversas outras fontes de poder descentralizado. É nesse momento que o Brasil começa a galgar um caminho mais relevante para maior credibilidade internacional. Segundo o ex-embaixador, o Brasil estaria “se beneficiando da desordem internacional”.

O motivo inicial para esse alargamento da presença brasileira junto à comunidade internacional seria a questão doméstica. A democracia brasileira teria conseguido se fortalecer durante os momentos de estabilidade dos governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula, também relacionados ao equilíbrio inflacionário, à situação fiscal em boas condições e a taxa de câmbio flutuante. Todos esses fatores, mais o crescimento industrial tão ou quase tão expoente como o crescimento da classe consumidora, teriam dado o esteio econômico basimentar para o processo de fortalecimento político.

Nesse quesito, a globalização de empresas brasileiras são provas de sua modernização. Outro fator marcante seria a diversificação do setor de serviços e o desenvolvimento do setor agricultor, cuja presença no mercado externo é protagonista. Viu-se o risco país diminuir e o capital estrangeiro voltar seu olhar perspicaz para essa direção.

De acordo com as estatísticas de diversos órgãos de regulação econômica internacional (Banco Mundial, OMC), Brasil e China são os principais países liderando o ranking de expoentes mundiais em crescimento, porém com uma essencial diferença: o Brasil prospera dentro de um sistema democrático, que muito embora tenha falhas e ainda precise de reformas, ainda é reconhecidamente credível diante do mundo. Diferente do que ocorre na China, onde o capital é atraído apoiado na exploração da mão-de-obra barata e desprotegida legalmente.

Dessa forma, como novo e significativo “player” do tabuleiro geopolítico, a voz do Brasil não pode mais ser ignorada em questões mundialmente relevantes como direitos humanos, comércio internacional, mudança climática, energia, entre outras de grande importância.

O histórico pacífico do país tem também em muito contribuido para a sua credibilidade junto às organizações multilaterais, onde o Brasil é conhecido pela capacidade de buscar e aplicar “consensos”. No plano social, a possibilidade da coexistência de diversas etnias e religiões em solo brasileiro também é um fator que chama a atenção, especialmente quando o mundo sofre com manifestações xenófobas e a existência do terrorismo. Obviamente, faz-se aí a ressalva dos casos isolados, não em pequena quantidade, que todos os dias ocorrem no país, no entanto, de forma geral, não têm sido suficientes para inclur o Brasil na lista dos países em conflitos culturais-religiosos. Além disso, diametralmente oposto à antiga racionalidade da Guerra-Fria, hoje, o fato de o Brasil não ser uma potência nuclear tem aumentado seu poder de influência.

Segundo o Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos, será o Brasil a nova superpotência econômica nos próximos 15 anos, porém, se as reformas necessárias forem realizadas, basicamente as reformas: tributária, política, trabalhista e da securidade social.

É melhor o brasileiro torcer para isso também.


Por Maricy Ferrazzo

Fonte: BBC International

sexta-feira, 21 de maio de 2010

ECO-ECONOMIA II

Marketing Ecológico - O que é negócio também pode se tornar exemplo

Várias empresas estão adotando o ‘marketing ecológico’ para divulgarem seus produtos ao consumidor. As campanhas publicitárias vão além de vincular o conceito de sustentabilidade à marca, elas ‘incentivam’ o consumidor a participar ou se comprometer a uma causa ambiental.

A Danone, por exemplo, com o slogan “Danoninho pra Plantar” oferece um sachê com sementes, anexo à bandeja de iogurte, para plantar no próprio potinho após o consumo do produto. A criança também pode ‘cultivar’ uma árvore virtual na “Floresta do Dino” ao acessar o site da marca. Para cada árvore virtual cultivada, o consumidor contribui para o reflorestamento de um metro quadrado de floresta por meio da parceria com o Instituto de Pesquisas Ecológicas. A Avon começou um projeto parecido chamado “Viva o amanhã mais verde” – cada $ 2,00 doados representam a vida de uma nova árvore. A empresa de cosméticos doou, inicialmente, um milhão de dólares para plantar um milhão de árvores na Mata Atlântica. A campanha é feita junto com a UNEP – Programa Nações Unidas para o Meio Ambiente. O Sport Club Corinthians e o Banco Cruzeiro do Sul adotaram o slogan: “Jogando pelo meio ambiente”, que promete plantar 100 espécies de plantas nativas por gol feito. As mudas serão cedidas ao governo estadual paulista, que irá disponibilizar a área para o plantio.

Em 2007, a Ypê saiu na frente com o marketing: “Ypê plantando árvores para você”, com a ONG SOS Mata Atlântica, no qual plantou 200 mil árvores em Campinas, SP. Além de impulsionar as vendas do ‘detergente’, que contém tensoativo biodegradável, a marca foi vencedora do prêmio Folha Top of Mind, na categoria Top Meio Ambiente, de 2009.

Investir na preservação da natureza é um ótimo negócio, pois só traz benefícios – ninguém perde, todos ganham, além de agregar valor positivo à marca. Nenhuma corporação quer ter seu nome relacionado a um produto que desrespeita o meio ambiente e não valoriza o consumidor. Esta é uma das razões pela qual se combate tanto o comércio pirata, que passa longe de qualquer controle de qualidade. Os preços baixos não compensam os prejuízos materiais e ambientais que causam. Por isso, apesar da iniciativa de ‘plantar’ ser boa, ela não é suficiente para compensar as emissões de CO2 na atmosfera, se as empresas não controlam ou evitam que outros poluentes cheguem ao ar. De acordo com o Instituto Ecoar, em média cada árvore absorve 180 kg de CO2 em 30 anos.

Logística Reversa – Algumas empresas fazem ações mais efetivas para amenizar futuros danos na natureza como, por exemplo, evitar o descarte do lixo eletrônico em lugares inadequados. A indústria eletrônica e entidades das mais variadas áreas engajadas nesse mesmo objetivo disponibilizam postos de coleta. A empresa HP brasileira recebe baterias e impressoras descartadas pelos clientes, nas lojas de serviços autorizados. Após a coleta, o material é encaminhado para dois centros próprios da HP para reciclagem nos EUA. A fabricante de celulares americana Motorola, assim como a Apple e Sony, recolhe os próprios equipamentos usados para serem reaproveitados na linha de produção. O banco Santander oferece aos clientes que possuem o cartão Van Gogh o serviço “Descarte Certo” de coleta e transporte do lixo eletrônico. O caminho inverso do consumidor de volta à empresa é conhecido como ‘logística reversa’, ou seja, a reciclagem de equipamentos usados. A Natura e o Boticário investem na reciclagem de suas embalagens, que podem ser devolvidas por meio de consultores ou nas lojas, respectivamente.

A Natura, por exemplo, vai mais além, ela mantém um controle rigoroso de cada etapa da cadeia de produção. A empresa dispõe, em seu site, relatórios anuais detalhados do desempenho ambiental. A linha de sabonetes Ekos é feita por 263 famílias de diferentes comunidades na Amazônia, utilizando sistemas que conservam cerca de 100 km de floresta, e mantêm três mil árvores nativas em pé. Em 2009, a Natura foi eleita a ‘empresa mais admirada do Brasil’, no item responsabilidade social, da revista Carta Capital.

Quando o marketing ecológico se torna um compromisso com a sociedade e com o planeta, sem alvejar apenas o lucro, ele supera as expectativas e firma parceria com o consumidor, que é seu maior beneficiário. Porque cuidar do planeta é responsabilidade de todos.


Por Joelma Godoy de Mello


Para consultar empresas e produtos amigos da natureza:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI8493-15224,00.html

sexta-feira, 23 de abril de 2010

COMPORTAMENTO


O vexame que virou negócio


A ex-estudante do curso de Turismo da Uniban, Geisy Arruda, após ter processado a universidade devido ao seu quase linchamento, já apareceu em programas de televisão, foi destaque no desfile de Carnaval do Rio e agora vai lançar uma linha de vestidos cor-de-rosa numa estranha alusão ao famigerado vestido que despertou a ira de inúmeros estudantes em outubro do ano passado.

Segundo o site oficial da agora modelo e empresária, a coleção de vestidos se chamará “Rosas Divinos” e estará à venda no site, com a promessa de não serem tão curtos quanto o vestido que a lançou como figura pública (na época da confusão o vídeo que mostra o acontecido na Uniban teve milhões de acessos na Internet e virou notícia em diversos sites e jornais do mundo todo).

Há 50 anos, um incidente como o ocorrido com Geisy teria isolado a jovem da sociedade, por valores hoje quase extintos. Contudo, além da especulação da mídia tê-la tornado outro desses espectros pop, o banimento moral que lhe ocorreu naquele dia na faculdade se tornou substância inspiradora para sua própria iniciativa comercial.

Mais um exemplo de como o imediatismo e as novas ferramentas de comunicação estão possibilitando a criação desses modismos tão superficiais quanto efêmeros, mas que, aos poucos, estão instituindo um desligamento moral do conteúdo existente em cada produto de nossa sociedade consumista, instaurando uma apreciação que não leva em conta se algo é bom ou mau, contanto seja novo e inédito.
Por Maricy Ferrazzo
Imagem: veja.com

quinta-feira, 1 de abril de 2010

DIÁLOGO AMBIENTAL


Conto sobre uma aula de História – nosso presente num futuro possível


Um dia também seremos protagonistas nas aulas de História. O que ensinarão sobre nós?


A um milênio de nossa época, um garotinho comparece a sua aula de História. O tema do dia é o período da Idade do Quase-Fim, mais conhecido como Era das Trevas II, ocorrido durante o vigésimo-primeiro milênio segundo o antigo calendário cristão.

O professor começa a explicar esse remoto período extremamente importante na formação dos alunos, por conter uma lição de ética humana, servindo como um conhecimento agregador de valores e consciência essenciais para a construção e manutenção da sociedade atual.

“A Idade do Quase-Fim ocorreu há aproximadamente mil anos, e recebeu esse nome exatamente porque em tal época o planeta quase enfrentou a extinção de todas as formas de vida que nele coexistiam”, conta o professor. O garotinho ao ouvir tal informação sente certa agonia, pois a ideia de que tudo o que existe um dia quase acabou lhe era extremamente assustadora. O professor continua:

“O perigo pelo qual a população do mundo inteiro passou foi causado por atitudes anti-sustentáveis que visavam as vantagens na época conhecidas por lucro, e que desconsideraram as consequências que a constante exploração do ecossistema poderia causar a médio e longo prazo”.

Um outro aluno levanta o braço e pergunta: “O que é lucro?”

O professor, então, explica que a palavra ‘lucro’ era o tema usado no sistema econômico antigo para designar uma vantagem advinda de alguma atividade que rendesse mais dinheiro, ou mais crédito.

“E por que precisavam de mais dinheiro ou crédito?”

“Porque através da posse do dinheiro as pessoas poderiam fazer mais dinheiro, e naquela sociedade uma pessoa só poderia viver bem se o tivesse”.

O garotinho franziu a testa, estranhando. Estava um pouco difícil compreender essa parte da história. Se na era do Quase-Fim eles estavam prestes a enfrentar inúmeros desastres por causa das medidas não-sustentáveis, então por que continuar fazendo mais e mais lucro ou dinheiro? Do que iria adiantar ter um monte de dinheiro se não haveria mais chances de se viver? Ele resolveu reclamar:

“Professor, desculpe, mas não faz sentido, uma sociedade totalmente dedicada à busca do lucro enquanto o planeta se deteriorava rapidamente... “

O professor compreende a dificuldade dele e tenta esclarecer: “Acontece que você tem que considerar que mil anos atrás a mentalidade dos homens não era tão desenvolvida como era agora. Veja este exemplo: em várias cidades bastante populosas algumas pessoas jogavam lixo nas ruas durante períodos de chuva contínua, desconsiderando que a estrutura urbana toda asfaltada não podia escoar satisfatoriamente a água acumulada, o que causava enchentes e destruía partes inteiras da cidade, matando pessoas e desabrigando muitas outras.”

O menino arregala os olhos, chocado. Uma menina também participa:

“É verdade que houve uma época em que as ruas das cidades estiveram cheias de veículos a ponto das pessoas não conseguirem se locomover mais?”

“Sim, é verdade”, responde o professor. “As cidades estavam cada vez maiores e as pessoas não queriam mais caminhar, além de não terem desenvolvido os meios de transporte eficientes e sustentáveis que temos hoje, mil anos depois. O que acontecia era que todos queriam ter seu próprio automóvel, mas o espaço urbano acabou se esgotando para tantos veículos, de forma que em pouco tempo as ruas ficaram apinhadas deles e todos presos no mesmo lugar por horas.”

Algumas risadas ecoaram na classe e outro aluno comentou: “Que ridículo! Por acaso eles não tinham desenvolvido cérebro no século XXI?” Mais risadas. O professor não aprovou.

“Vocês não devem rir disso. Foi a precariedade dessa época que ensinou ao Homem a construir um mundo melhor, o qual vocês habitam. Muitos tiveram que sofrer e perecer para hoje estarmos em condições melhores.”

O garotinho resolveu perguntar novamente: “Professor, não entendo como puderam ter desenvolvido um transporte coletivo eficiente como os trens no século XX e chegarem ao XXI tão individualistas e poluidores com os chamados carros...”

“Bom, existia nesse sistema econômico um formato que praticamente demandava o uso do automóvel. O consumismo alienado da época fazia com que as pessoas acreditassem que ter bens além das necessidades reais as inseriam melhor socialmente, o que atualmente já foi superado. E em relação ao transporte ferroviário, certamente teria sido uma forma de melhorar as condições do trânsito, mas devemos lembrar que todos os meios de transporte da época ainda não haviam sido remodelados de forma a utilizarem energia sustentável renovável”, explicou o professor.

“Então além de ficarem presos nas ruas das próprias cidades eles ainda poluíam a atmosfera? Será que não havia ninguém que percebesse como isso não era inteligente?” perguntou a aluna.

“Havia pessoas conscientes, que tinham enxergado o perigoso caminho que estava sendo trilhado, mas eram poucas em relação à maioria, principalmente porque em grande parte do mundo as pessoas nem sempre tinham a chance de serem educadas e desenvolverem capacidade crítica.”

“Que absurdo! Mas e os governantes, eles podiam fazer alguma coisa, não podiam?”

O professor balançou a cabeça. “Podiam, mas relutavam demais em terem iniciativas, mais uma vez por causa daqueles interesses econômicos. Muitos devem ter se arrependido, pois tiveram que assistir as muitas desgraças que se seguiram à abstenção de suas atitudes...”

O garotinho levantou a mão mais uma vez: “É verdade que eles matavam muitos animais?”

“Sim. Diferentemente de épocas ainda mais remotas quando o homem não dominava o sistema de plantações para subsistência, no século XXI muitos animais morreram para dar lugar à estradas, resorts de luxo, ou simplesmente porque se tornaram iguarias alimentares exóticas.”

As crianças todas fizeram caretas. Era realmente cruel.

“E depois chegou o momento em que as pessoas se perguntavam por que não viam mais os bichinhos que davam tanta beleza ao mundo...

“E o que aconteceu depois?” perguntaram.

“Depois chegou a época do desespero. O planeta começou a dar os primeiros sinais das consequências que estavam por vir. Houve alterações climáticas que dizimaram várias espécies, desequilibrando o ecossistema. Essas mesmas alterações de temperatura desenvolveram organismos novos que se mostraram nocivos à saúde do homem. Novas doenças apareceram. O calor excessivo em algumas regiões causou a superpopulação de espécies que asfixiaram outras. O ar poluído deu cabo de mais algumas. O desmatamento das florestas também. Surgiram zonas desertificadas, o solo rachou e abalou estruturas de cidades inteiras, derrubando construções. As chuvas intensas e constantes também. Muitos morreram soterrados. Os buracos na camada de ozônio comprometeram as temperaturas oceânicas, alteraram a formação de ventos, tsunamis atingiram faixas litorâneas e sepultaram ilhas e seus habitantes para sempre no fundo do mar.

Os alunos estavam todos assombrados.

“E o Homem continuou poluindo. Produtos industrializados com embalagens plásticas em excesso, e mais uma infinidade de produtos descartáveis desse material que não era reciclada. Lixo tóxico envenenou o solo, pilhas, baterias, etc. Mais árvores eram derrubadas todos os dias, as zonas de purificação do ar foram escasseando. O solo para plantio era fustigado por secas e por períodos de enchente. De repente, faltou comida. Os preços subiram. Muitos não tiveram mais como se alimentar. Milhões de pessoas morreram. E, então, foi dado o golpe final. O calor extremo e a ausência de posturas ambientais éticas fizeram com que a água potável restante diminuísse exponencialmente. Logo, deixou de haver água para muitos, o que acabou por desestruturar as construções sociais e políticas do planeta. Houve invasões de países com nascentes e, por fim, a guerra.

Silêncio na classe.
Até que alguém levantou a mão, timidamente:

“E então, professor, o que aconteceu? O que aconteceu com todos?”

“Bem, então, fizemos uma escolha.”

“Uma escolha?”

“Sim. Escolhemos recomeçar e compreendemos que não há como construir nada se o princípio da vida não for respeitado.”

“E o que teria acontecido se não tivéssemos feito essa escolha, professor?”

“Não estaríamos aqui agora.”

Termina a aula de História daquele dia. Os alunos ficam agradecidos. Não pelo fim da aula, mas sim porque estudar o século XXI era muito terrível. Ainda bem que ele acabou, e bem.



Por Maricy Ferrazzo



Imagem: meme.yahoo.com/bio_logica/2/

segunda-feira, 15 de março de 2010

domingo, 7 de março de 2010

8 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Veja outros artigos que o “Intercontextos” já publicou sobre a mulher

8 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Zilda Arns - Uma vida pela solidariedade

Num Brasil carente de bons exemplos, de justiça, compaixão, de políticos honestos e comprometidos com a área social, de pessoas dispostas a ajudar sem ambicionar vantagens com o sofrimento alheio, quando surge alguém capaz de preencher uma dessas lacunas já somos eternamente gratos.

Assim, também, devem se sentir milhares de crianças que foram salvas graças às ações simples, porém eficientes feitas pela Pastoral da Criança, que teve como fundadora Zilda Arns. Ela foi responsável por comandar uma rede de voluntariados para diminuir a mortalidade infantil. Em Florianópolis, a primeira cidade a ser atendida - de um índice de 127 mortes a cada mil crianças, recuou para 28 mortes a cada mil nascimentos após um ano de atividade da Pastoral.

Filantropia – Em 1983 surgiu a Pastoral da Criança, ligada a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com a missão de educar para passar adiante o conhecimento básico de saúde, voltado à prevenção. Zilda Arns propagou a receita do ‘soro caseiro’ em mais de 32 mil comunidades carentes por todo o Brasil e que são visitadas todos os meses pela entidade. Sua competência e dedicação viajaram o mundo e a médica, especializada em educação física e pediatria, viúva, mãe de cinco filhos, foi indicada três vezes ao prêmio Nobel da Paz, recebeu várias condecorações como as Woodrow Wilson e Opus Prize, entre outras.

Em 2009, Zilda completou 50 anos de medicina, embora tenha atuado mais como educadora que como médica. “Sem educação, trava-se uma luta pela sobrevivência, não para se desenvolver”, disse em entrevista à revista Sorria (março, 2009). Reconhecida mundialmente por meio do trabalho na Pastoral, Zilda levou seu conhecimento para ajudar outros 17 países. No começo deste ano, a médica sanitarista estava no Haiti para realizar mais uma palestra sobre a Pastoral da Criança, quando houve o terremoto.

Ela tinha 75 anos quando morreu, mas deixou para todos os brasileiros e voluntários estrangeiros um grande e valioso exemplo de vida. Se uma pequena semente é plantada com amor e carinho, ela cresce forte, vira uma árvore e dá muitos frutos. Atualmente, a Pastoral da Criança atende cerca de dois milhões de crianças ou 20% das crianças pobres do Brasil, sem contar sua ramificação, a Pastoral da Pessoa Idosa, auxiliando cerca de 130 mil idosos.

No dia Internacional da Mulher devemos sempre lembrar daquelas que enfrentaram muitos desafios para tentar mudar a realidade de uma época repleta de machismo, preconceito, indiferença, desigualdade e violência. Mulheres de fibra que não se curvaram e nem se abateram ao primeiro obstáculo encontrado e, sim, seguiram adiante. Hoje, desfrutamos de suas conquistas. Zilda Arns fez parte desse seleto grupo de mulheres.


Por Joelma Godoy de Mello

Imagem: Zilda Arns por Lina Faria - jornale.com.br

quinta-feira, 4 de março de 2010

8 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Marie Curie – uma vida pela Ciência

A vida não é fácil para nenhum de nós. Mas e daí? Devemos ter perseverança e, sobretudo, confiança em nós mesmos. Devemos acreditar que temos um dom para algo e que esse algo deve ser alcançado.”
Marie Curie

Numa época em que infelizmente grande parte das mulheres conquista notoriedade perante a sociedade em detrimento apenas de qualidades físicas, relembrar a trajetória de vida de Marie Curie pode servir como grande incentivo para todas aquelas que sonham com realizações profissionais e em desbravar campos anteriormente creditados apenas ao trabalho dos homens.

Marie Curie (neé Skłodowska) foi o que se pode chamar de uma mulher completa. Viveu para a vida científica, para a vida familiar, e ainda deixou um legado em pesquisa ao qual a humanidade precisa ser grata. Nascida em 1867 em Varsóvia, Polônia, a quinta filha de um casal de professores, Marie passou por necessidades quando ainda era muito jovem. Tanto ela como seus irmãos e irmãs queriam continuar os estudos, mas a família, empobrecida, não podia financiar a vida acadêmica de nenhum deles. Marie, então, fez um acordo com uma das irmãs, ela trabalharia para pagar seus estudos e, quando estes chegassem ao fim, a irmã faria a mesma coisa por ela.

Depois de iniciar seus primeiros treinamentos científicos nos laboratórios do Museu da Indústria e Arquitetura de Varsóvia, Marie rumou para a Sorbonne em Paris, onde passou a estudar física, química e matemática com grande brilhantismo. Lá, ela conheceu seu futuro marido, Pierre Curie, um instrutor da École Supérieure de Physique et de Chimie Industrielles de la Ville de Paris. Naquele mesmo ano, Marie se candidatou a um cargo de professora na Universidade da Cracóvia, o qual lhe foi negado por ela ser mulher.

Em 1896, já casada e mantendo um laboratório junto com o marido em Paris, Marie passou a realizar experimentos com o recém-descoberto urânio, constatando que os raios desse elemento tinham o poder de transformar o ar num condutor de energia. Suas pesquisas incansáveis mostraram que a radiação não surgia da interação entre moléculas, mas provinham do próprio átomo. O que pode parecer uma constatação simples, daria base para diversas tecnologias no futuro, como a invenção do raio-x e da quimioterapia, por exemplo.

Sabendo que a sociedade científica de sua época dificilmente reconheceria tais descobertas como sendo de uma mulher, Marie Curie se apressou em publicá-las na revista da Académie des Sciences. Em dezembro de 1898, Marie e Pierre Curie publicaram outra descoberta, o rádio, um metal altamente radiativo.

Enquanto o casal trabalhava incessantemente em seus experimentos científicos, ainda não desconfiavam das consequências que o manuseio de tais elementos traria para sua saúde. A exposição à radiação em seu laboratório era tão alta que, à noite, quando iam se deitar, as mãos e partes da roupa emanavam um brilho azul-esverdeado no escuro.

Em 1903, Marie recebeu o Prêmio Nobel em Física. Oito anos depois, já mãe de duas filhas, recebeu o Prêmio Nobel em Química, se tornando um nome conhecido e respeitado, porém não o suficiente para ser aceita como membro da Académie des Sciences; o motivo, novamente: por ser mulher. No mesmo ano, Marie foi hospitalizada com complicações de saúde.

As consequências da exposição à radiação haviam começado. A saúde do casal fora afetada, mas, mesmo a par dos riscos, e depois da morte do marido, Marie decidiu continuar sua dedicação à Ciência. Os últimos anos de sua vida ela passou em seu laboratório e realizando atos beneficentes. Em 1934, morreu do que na época foi diagnosticado como um tipo avançado de anemia, o que, hoje, é conhecido por leucemia e que, graças ao seu legado, pode ser tratada.

O laboratório de Marie está atualmente preservado no Museu Curie, em Paris. Suas anotações, objetos de trabalho, e até mesmo seu livro de receitas culinárias estão guardados em caixas especiais, devido à alta radiação que ainda emana deles (ainda brilham no escuro), e para serem consultados exigem todos os aparatos anti-contaminação.

Marie Curie é um exemplo de coragem e competência. Primeira mulher a receber um Prêmio Nobel, ela é uma das responsáveis por provar que a mulher é tão capaz quanto o homem intelectualmente. Devido à doação que fez da própria vida para a física e a química, hoje milhares de mulheres têm chances de sobreviver ao câncer.


Por Maricy Ferrazzo


Fontes: Wikipedia.com
nobelprize.org

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

VIOLÊNCIA

Triste realidade


Mais uma dessas pessoas humildes e trabalhadoras, mais uma história de opressão. Sandra, nome fictício, pessoa real. Doméstica, honesta, corajosa. Uma mulher que cria os filhos sozinha, sem nem ao menos fazer uso do direito da pensão alimentícia. Moradora de bairro pobre, longínquo, escuro à noite.

Sandra há pouco tempo havia atendido ao pedido dos filhos que consistia em terem um gatinho de estimação. Conseguiu um filhote de uma conhecida. As crianças ficaram encantadas. O bichinho foi batizado, recebeu casa comida e amor.

Contudo, há poucos dias, a família de Sandra teve que enfrentar o horror de encontrar seu mascote retalhado, num corte limpo, de ponta a ponta, se arrastando para casa, mais morto que vivo. Certamente a violência foi dupla.

Fazer mal a um animal é crime. Atingir crianças por meio de um crime contra um animal também é. Não há argumento que possa eximir da culpa (e da maldade) a pessoa que deliberadamente fere um animal inofensivo. Se fosse possível agrupar as mentes criminosas, quão distantes ficariam aquelas que torturam um bicho daquelas que torturam crianças?

Entretanto, há mais uma questão indignante neste fato. Muitas vezes é óbvia a identidade do agressor, não há necessidade de se morar no bairro de Sandra para saber disso, entretanto, só quem mora no bairro dela sabe que é uma impossibilidade se revoltar contra tal crime. Ela mesma não tem ilusões em relação a isso. Por lá, melhor engolir o choro e a indignação quando esfaqueiam seu bicho de estimação. Não há segurança nem mesmo para se exigir um direito ou defender a ética humana, a não ser, é claro, que se queira colocar a própria vida em risco.

Injusto é um país onde todos se acomodam e esperam pelo julgamento das leis. Porque dessa forma o que se combate são apenas os casos sem volta, o crime de facto; quando o que deveria ser combatido é a derrocada do humanismo, o desrespeito à vida. Infelizmente, o individualismo está alimentando o medo e a covardia de muitos, tornando nossa sociedade um território de silêncios oprimidos e violência livre.


Por Maricy Ferrazzo

Imagem: jie.itaipu.gov.br

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

HISTÓRIA

O mistério da “Praga da Dança” de 1518


Absolutamente curioso o livro do historiador americano, John Waller, sobre uma praga que teria acometido a população de Estrasburgo, então parte do Sacro Império Romano-Germânico, no ano de 1518, e levado muitos à morte. Porém, diferentemente das doenças que infestavam as sociedades da época, como a sífilis, a lepra ou tipos de febres mortais, a praga que acometeu os alsacianos se manifestou em forma de dança, ou seja, fazendo com que as pessoas dançassem sem parar, até a exaustão e consequentemente a morte.

Muito embora a história pareça material típico de lendas ou contos de fadas (Hans Christian Andersen escreveu sobre uma menina que não parou de dançar até que providenciou a amputação dos próprios pés no conto Os Sapatos Vermelhos), o historiador reuniu em sua obra uma pesquisa que expõem fatos e evidências na tentativa de comprovar a ocorrência da história.

Aparentemente, as danças involuntárias seriam manifestação em grupo de um histerismo gerado pela fome e outras privações ocasionadas por um período de baixas na agricultura e outros problemas de organização política e econômica. O frenesi dançante desses camponeses ficou conhecido por "A Dança de São Vito", iniciado com uma mulher chamada Troffea, que teria começado a dançar freneticamente na rua, no dia 14 de julho do ano mencionado, e permanecido nessa atividade por dias, mesmo com os sapatos encharcados de sangue e contra a própria vontade. Até o fim daquela semana outras 34 pessoas teriam se juntado a ela. Até o final do mês o total seria de 400 pessoas, transformando o ocorrido numa epidemia que matou por exaustão, ataque cardíaco ou desidratação.

Há teses que explicam a praga da dança como originada pela ingestão de uma espécie de fungo que se desenvolve no centeio mofado, e que libera Tartarato de ergotamina, substância componente do ácido lisérgico ou LSD. Entretanto, Waller discorda dessa explicação, afirmando que tal substância poderia causar reações alucinógenas, mas não colocar um grupo inteiro de pessoas a realizar movimentos coordenados, uma dança propriamente dita.

Mesmo com estudos voltados a explicar essa manifestação de horrores do século XVI, ainda assim permanece o mistério acerca desse fenômeno de 500 anos, que o livro de Waller, A Time to Dance, A Time to Die: The Extraordinary Story of the Dancing Plague of 1518 (Icon Books, 2008) propõe explicar. Que a praga da dança realmente aconteceu é fato registrado e documentado, o difícil é elucidar como camponeses esfomeados, mesmo no caso de histeria coletiva, teriam forças para terem permanecido por dias em constante atividade física. Há, inclusive, uma corrente supersticiosa sobre o caso: existem relatos de que o corpo de Frau Troffea teria continuado a dançar mesmo depois de sua morte, e que a Praga de São Vito era enviada às populações descrentes e blasfemas.

Na cultura medieval europeia existe universalmente a alegoria conhecida por Danse Macabre, uma narrativa do poder da morte, personificada como superior às distinções de classe, infalível. A parábola foi constantemente ilustrada no período e era utilizada como um memento mori ou também como sermão religioso. De qualquer forma, o relato de Estrasburgo sobre uma epidemia de dança involuntária não é o único nem ocorreu somente no continente europeu (ela teria se repetido ainda no século XVI na Bélgica e Holanda), tendo acontecido igualmente em 1840, em Madagascar, e em 1963 na Tanzânia.

Contaminação, histerismo ou castigo sobrenatural, o caso de Estrasburgo é mais um mistério histórico especialmente interessante, pois, nas deduções que desperta, se posiciona exatamente na linha entre o céu e a terra a que Shakespeare aludiu.

Por Maricy Ferrazzo

Fontes: G1
thepsychologist.org.uk Dancing Plagues and Mass Hysteria.
Wikipédia.com

Images: Detalhe de The Dancing Plague, Peter Brueghel, 1564.
Icon Books

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

CINEMA

AVATAR: Efeito (e enredo) especial
Há quem evite assistir filmes de ficção-científica por não conseguir se identificar com o enredo, personagens, ambiente da história. Em contraposição, muitos são apreciadores do gênero exatamente por ele oferecer uma válvula de escape para além da realidade cotidiana. Para qualquer um dos dois tipos de público, Avatar é uma ótima produção.

O filme traz a boa e velha dicotomia cinematográfica do bem contra o mal? Sim. Como todo sci-fi se passa no futuro? Sim. A história se desenrola num ambiente de guerra? Sim. Porém, diferentemente de muitos do mesmo gênero, Avatar traz várias mensagens de valor.

Além de uma produção espetacular, cheia de criações originais e minuciosamente elaboradas, o filme de James Cameron nos transporta para um mundo onde podemos visualizar em menor tempo e mais nitidamente os problemas pelos quais o nosso próprio planeta vem passando ao longo de muitos anos, que é a deterioração de nosso meio-ambiente, sendo meio-ambiente não só a natureza, mas o nosso ethos, nossa mentalidade. O filme nos põe no ângulo de visão do antropólogo, nos dá, por meio da fantasia, a chance de enxergar nosso próprio poder de destruição, a banalidade da ambição desmedida, o horror da violência.

O filme revela um mundo onde a maior riqueza de seus seres é a mãe natureza, uma força onipresente e plena, com a qual a espécie nativa interage harmoniosamente, seguindo e respeitando o ciclo de vida. Uma sabedoria há muito esquecida e perdida no planeta Terra. No planeta dos seres longilíneos, de traços felinos e pele azulada, não há exploração da natureza, há convívio. Tanto que daí se forma a crítica existente na guinada do personagem principal para um genoma diferente do humano, demonstrando que muito além da espécie, os seres devem se agregar em nome de uma consciência comum.

Em tempos de insucesso nos acordos ambientais internacionais, Avatar é basicamente pedagógico. Em tempos de produções cinematográficas vazias, onde a estética aparece desamparada de conteúdo, Avatar é um resgate de esperança.


Por Maricy Ferrazzo


Imagem: io9.com

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

SOCIEDADE

Audição – sentido involuntário

A preocupação com a poluição sonora no Brasil é contraditória. Ao mesmo tempo em que o barulho gerado pelo trânsito intenso de veículos nos grandes centros urbanos é tema de inúmeras pesquisas e preocupação entre moradores e profissionais da política de saúde, os costumes populares no país integram e aceitam, digamos, sons mais abrangentes.

No cotidiano do brasileiro, essa poluição sonora parte, além do tráfego de veículos, de carros com alto-falantes para fins publicitários, de estabelecimentos comerciais que colocam caixas-acústicas nas calçadas para divulgar promoções estridentemente, sem contar os caminhões de som que, quando não passam tocando jingles de candidatos políticos, são usados como mais um guia comercial e promocional de eventos. Todos em decibéis impossíveis de ignorar, configurando uma agressão tanto física como de direito.

Ainda outra fonte de agressão sonora se encontra entre os motoristas que não se satisfazem em manter a música de seu aparelho de som como uma experiência individual. Pelo contrário, fazem questão de alardear seu gosto pessoal, praticamente impondo o som aos que transitam ao redor. O mais preocupante é que existe todo um segmento tecnológico e comercial para suprir esses agressores sonoros. São aparelhos que potencializam o tocador de som do carro aumentando a capacidade do volume. Isso porque existe resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) de número 204/06 proibindo que o som dos carros ultrapasse 104 decibéis a meio metro de distância.

Há quem ainda ache interessante aposentar os fones de ouvido e circular com o aparelho celular ou de som portátil de forma a “espalhar” o seu gosto musical, e isso é feito até mesmo em veículos de transporte público como ônibus e vagões de metrô, locais onde é proibida qualquer difusão sonora eletrônica.

O resultado de todas essas fontes de barulho é um pandemônio de sons misturados, que acabam por perder o sentido e servem apenas para ferir tanto os ouvidos como a paz das pessoas, afinal de contas, a audição é um sentido involuntário, não há como interromper quando conveniente.

O Ministério Público de Pernambuco, por exemplo, está lançando campanha publicitária para combater a poluição sonora no estado, fazendo parceria com a Polícia Militar e o Disque-Denúncia. A intenção é difundir o direito ao silêncio, incentivando a participação da população. Para isso, está se oferecendo até mesmo recompensas em dinheiro para quem fizer denúncias. Tal medida parece vir para proteger um direito constitucional há muito tempo negligenciado no Brasil. Os outros estados deveriam se inspirar nessa iniciativa.

De qualquer forma, há como combater a poluição sonora simplesmente se todos passarem a exigir seus direitos. Há como fazê-lo individualmente com uma ação judicial ou coletivamente por meio de ação civil pública, protegida pelo artigo 225 da Constituição Federal. A perturbação do sossego alheio também é prevista como crime pela Lei das Contravenções Penais, artigo 42, no que concerne à proteção da paz pública, sendo que o desrespeito a essa lei pode levar a até três meses de prisão.

Contudo, se tratando de um país imenso como o Brasil, a reforma terá de ser geral. Não bastará a fiscalização ou a punição por lei, a poluição sonora também é necessário combater com a educação, com a noção de cidadania e respeito pelo outro.

Por Maricy Ferrazzo

Fontes: Jornal do Commercio e dji.com.br
Imagem: rondonia.ro.gov.br

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

COMPORTAMENTO

Casamento entre homossexuais – a igualdade também está na diferença


O Parlamento de Portugal reconheceu, no último dia 8, o direito de pessoas homossexuais se casarem aprovando um projeto de lei que havia sido proposto pela ala socialista e, embora o primeiro-ministro, José Sócrates, tenha chamado tal aprovação de “um momento histórico contra a discriminação que existia na sociedade portuguesa”, os partidos conservadores já procuram levar a lei a referendo nacional na esperança de vetarem a mudança.

Pouco antes, no final de dezembro do ano passado, um casal de homossexuais argentinos teve que, literalmente, peregrinar pela Argentina para conseguir licença para se unirem em matrimônio. Após terem obtido autorização de um magistrado de Buenos Aires, antes de conseguirem formalizar a união, um juiz federal ordenou a suspensão da autorização usando como argumento a constituição nacional argentina que define o matrimônio como uma união “entre um homem e uma mulher”.

Decididos a concretizarem sua vontade, os dois argentinos seguiram, então, para a Terra do Fogo, onde, após terem obtido residência local, receberam da governadora, Fabiana Rios, - do partido Afirmação para uma República de Iguais (ARI) - nova autorização, e o primeiro casamento entre homossexuais de toda a América Latina foi realizado.

Esses dois recentes acontecimentos demonstram que há nichos de compreensão e tolerância em partes do mundo. Também demonstra o quão arraigado ainda é o preconceito. Tentar entender a origem desse preconceito talvez seja uma forma de melhor anulá-lo. A pergunta é: por que não aceitar que duas pessoas adultas, por vontade própria, se unam formalmente?

A civilização mundial, em sua maior parte, vem se desenvolvendo e trazendo consigo aquele princípio visceral que, seja por meio da religião ou até mesmo de valores cidadãos, clama pela responsabilidade da reprodução. O casamento como um rito social é importante em todas as civilizações, origens, religiões, porque é o que garante a continuação da raça humana, de uma sociedade ou de um grupo da mesma fé. Seria esse um dos fatores que despertam a não aceitação do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo? A impossibilidade de gerar e dar continuidade à humanidade?

Se esse é o principal motivo, que entre em pauta, então, não a união de casais gays, mas as inúmeras mazelas que toda sociedade do mundo enfrenta quando o assunto se refere à continuidade da vida. Se nossa sociedade é capaz de se mover tão enfaticamente para vetar esse direito aos homossexuais, poderia destinar tanta energia para combater as inúmeras agressões que diariamente são infligidas contra a mesma perpetuação da raça humana: a fome, o acesso precário ao sistema de saúde, o trabalho escravo, a violência e, principalmente, o abandono de crianças, a natalidade irresponsável e todas as suas consequências. Além do mais, como vem sendo tratado o casamento na atualidade? A forma como a “instituição” tem sido tratada por tantos heterossexuais poderia levar qualquer observador a achar que não se trata de um assunto tão levado a serio...

Qualquer tipo de preconceito acaba se tornando agente de segregação e esse é um dos fatores preocupantes inseridos na questão do veto aos direitos dos homossexuais. Como é tradicional acontecer, os partidos se dividem em posicionamentos e acaba ocorrendo uma espécie de polarização de opiniões, o que acaba manipulando as minorias. Ou seja, os partidos se aproveitam da luta de direitos para aliciar aquele determinado nicho, que acabará dependente e se tornando eleitorado crônico de políticos que nem sempre defendem a causa por realmente compartilharem da mesma opinião. Esse é mais um fator realista por que os legisladores devem de uma vez por todas reconhecerem essa prerrogativa dos casais gays e impedirem que a política a use por interesse próprio.

A solução se encontra na mentalidade das pessoas, afinal de contas, somente as leis não poderão oferecer paz se a comunidade não puder integrar essas minorias. A presente era vivida, com todos os seus avanços, desde as ciências exatas até as ciências sociais, não pode permitir que o preconceito seja um legado passado de geração a geração. O ser humano é naturalmente complexo, logo, é impossível e irracional impor um único formato de relacionamento interpessoal. A partir do momento em que duas pessoas adultas e detentoras da razão fazem uma escolha que não prejudique os direitos daqueles ao seu redor, essa escolha deve se tornar um direito.

O princípio de igualdade, tão enlevado nos governos que se autodenominam democráticos, não consiste em tornar todos iguais, afinal de contas, um formato único de ser consiste em material de governos totalitários. Defender a igualdade é também proteger a prerrogativa de ser diferente. A verdadeira igualdade é um direito, não um formato.


Por Maricy Ferrazzo


Fontes:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,casal-de-argentinos-celebra-1-casamento-gay-da-america-latina,488039,0.htm

http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2010/01/08/parlamento+portugues+aprova+lei+do+casamento+homossexual+9266540.html

Imagem: queenunique.wordpress.com

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

COMPORTAMENTO

Em favor da igualdade


Na véspera do Ano Novo, por causa de uma falha de áudio, um comentário, no mínimo infeliz e preconceituoso, foi feito por um âncora de telejornal logo após ter sido veiculada uma manifestação de “Feliz Ano Novo” de dois garis paulistanos. A observação foi parar no Youtube.

O comentário em questão, nem vale a pena registrar aqui, pois, além de conter palavras ‘chulas’, ofende a classe de trabalhadores braçais que mais colabora para a limpeza e manutenção da cidade de São Paulo. Sem eles, a capital paulista seria ainda mais caótica do que é em tempos de bueiros entupidos e enchentes. E, infelizmente, alguns somente valorizam o serviço desses indivíduos quando a sujeira, literalmente, bate à porta.

O jornalista, ainda que por um erro de áudio, não deveria ter feito tal comentário com seu companheiro de telejornal. Mas acabou indo ao ar. Mesmo com um pedido de desculpas tardio, o estrago já estava feito. Afinal de contas, apenas mostra o nível de arrogância que existe por trás da pessoa que transmite notícias sobre tragédias e má administração pública, cobra soluções eficazes por parte do Governo, mas ao mesmo tempo é capaz de agredir verbalmente simples cidadãos que tudo o que fizeram foi desejar um “Feliz Ano Novo”. Mesmo que esses trabalhadores fizessem parte da classe pertencente ao “mais baixo escalão”, - nos dizeres do próprio comunicador - ainda assim, como qualquer trabalhador, merecem todo o respeito.

Em países como o Japão, por exemplo, funcionários da limpeza pública são valorizados e bem remunerados porque lá todos reconhecem a importância do trabalho que exercem. Aqui, são seres invisíveis que recolhem a sujeira de todo morador ou transeunte, sem distinção – e ganham pouco comparado ao esforço diário de catar o lixo, varrer ruas e calçadas, seja com sol ou chuva, no frio ou no calor. Ainda assim, com um sorriso no rosto, na maior humildade, são capazes de mandar uma mensagem de otimismo e alegria, ao contrário de outros empregados recolhidos em escritórios com ar condicionado e que possuem um contracheque alto.

Não desmerecendo nenhuma profissão ou trabalho, todos são essenciais de alguma forma para o desenvolvimento do nosso país, entretanto, são os trabalhadores braçais que movem o Brasil. Seja na estrada, na terra, plantando e colhendo, construindo e limpando todos contribuem com o seu suor. Ninguém é melhor que ninguém, todos fazem parte da mesma engrenagem, tire uma peça e o sistema para.


Por Joelma Godoy de Mello

Imagem:esteestadisponivel.blogspot.com/2009/04/preco


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ENCHENTES

Hora da consequência
Igreja Matriz de São Luis do Paraitinga em junho de 2009 e depois da enchente

2010 chegou trazendo prelúdios de um futuro nada otimista por todo o mundo. O Brasil, muitas vezes chamado de terra sagrada por não sofrer com fenômenos naturais como terremotos e tornados, acabou também atingido pelo desequilíbrio por qual passa o meio-ambiente de todo o planeta. Hoje escrevo em primeira pessoa, pois as notícias que para muitos não passaram da televisão, para mim ressoaram muito próximas.

Surge uma certa noção de responsabilidade quando os caminhos que se trilhou há poucos meses de repente são inundados por infindáveis metros de água, surge um senso de dever quando os rostos que se viu e a vida que se presenciou se perdem debaixo de um rio. Essa foi apenas uma tragédia. A outra, ocorrida em Ilha Grande, me deixou sem uma amiga da melhor época da vida. Mas vou falar de chuvas e enchentes.

Tive a oportunidade de estar em São Luis do Paraitinga em junho de 2009 e, como todo jornalista, não perdi a chance de documentar a visita. A igreja que agora não passa de escombros eu havia fotografado com grande interesse. A praça, as casas, e o rio. É dolorosamente estranho ver as ruas por onde se passou surrealisticamente submersas.

Estive de passagem na região de Angra dos Reis em dezembro e, com muita chuva, o que vi foi assustador. As paredes de terra dos morros que emolduram toda a Rio-Santos estavam literalmente se diluindo, pequenas cachoeiras se formavam em toda a extensão do caminho, em alguns trechos havia correntezas de água laranja do barro, escorrendo caminho a baixo, lá onde os primeiros metros da água do mar estavam todos tingidos da mesma cor. Bairros inteiros sob o mesmo líquido barrento e a chuva pesada e incessante.

Fora esses dois locais, há hoje a extrema vulnerabilidade da cidade de São Paulo às chuvas, os estragos em Santa Catarina, as cidades cujas ruas começam a se encher de água com uma velocidade nunca antes vista quando há chuva.

Daqui e de outros lugares onde as catástrofes naturais estão destruindo vidas, a mensagem está muito clara. Chega a hora das consequências.

Senhores governantes, dirigentes, representantes, embaixadores, diplomatas, políticos, industriais, empresários, chegou a hora de pagar pelos excessos cometidos. Talvez, de onde estavam quando houve a oportunidade de tomarem uma atitude, não puderam enxergar o que se passa no planeta; talvez estejam míopes, mais provavelmente loucos. Se tiverem a ilusão de que as enchentes, os dilúvios e o superaquecimento se limitarão às fronteiras de outros países que não os seus, então estão mesmo loucos.

Não há política que negocie os imperativos da natureza, sabiam? Não acreditem que conferências, acordos, sanções ou armas nucleares possam dar ordem à chuva para deixar de chover ou ao vento para parar de ventar. Muito menos trarão de volta as vidas roubadas. Se toda essa irresponsabilidade e indiferença como a que vimos em Copenhague se explica pela ambição por lucro e poder, que tentem usar do dinheiro para barganhar de volta a vida e o tempo perdidos. Esses dois não há como tornar moeda de troca.

Se aquele que está num lugar de liderança não prioriza a vida e a continuidade desta, então é um criminoso, não um líder. O problema ambiental é global, não é 20% responsabilidade deste ou 4% daquele. Não é comensurável em lastro, não é previsível, não é reversível. Exige comprometimento geral. E urgente.
- Os moradores de São Luis do Paraitinga estão isolados e necessitam de ajuda. Os quartéis da Polícia Militar de todo o estado de São Paulo estão recolhendo doações como água, colchões, roupas e alimentos.


Por Maricy Ferrazzo
Fotos (respectivamente): Myfzz e Estadão - Sérgio Neves/AE