quarta-feira, 29 de julho de 2009

H1N1

Invisível, indecifrável e letal



Para os microscópios não, mas para as pessoas de todo o planeta a influenza A é uma ameaça invisível e que, a despeito das iniciativas do setor de saúde, ainda permanece misteriosa. A contaminação é fácil e, estranhamente, as vítimas fatais parecem ser justamente aquelas que estavam com o sistema imunológico e saúde de uma maneira geral em boas condições.

Há quem afirme que a influenza A ou gripe suína é uma gripe como qualquer outra. Está enganado. O vírus que transmite a gripe A é uma mutação de vários vírus de gripe diferentes. Tanto que a Organização Mundial da Saúde ainda não conseguiu traçar exatamente os grupos de risco em relação a essa doença. No entanto, grávidas e crianças parecem estar mais expostas à contaminação. E isso sozinho já é um fator alarmante.

Durante a primeira postagem sobre o assunto neste blog, no estado de São Paulo o número de mortos pela gripe totalizava 15, era dia 20 de julho. Hoje, este número já subiu para 27. 56 no país, confirmados. No entanto, há aqueles casos abafados pelas prefeituras, em diversas cidades. Em pleno século XXI as pessoas ainda não tiveram a prática do direito por transparência assegurada.

Fala-se muito nas formas de prevenção contra o contágio, mas nada sobre as medidas de tratamento. Segundo o atendimento via telefone que o Ministério da Saúde vem prestando para a população, o Disque Saúde (0800 61 1997), a única orientação é que o indivíduo com suspeita de contaminação se dirija a um posto de saúde onde poderá receber um diagnóstico. Ainda segundo o serviço, a rede pública tem os medicamentos para tratamento, que são aplicados em até 48 horas após o diagnóstico. Mas as pessoas contaminadas estão morrendo em sete dias, nem todas desconfiam nos primeiros dias que se trata do vírus A, o que leva à conclusão que a gripe suína, neste país, é praticamente letal. Especialmente se lembrarmos de regiões mais carentes, de pessoas que não irão procurar tratamento, de hospitais superlotados...

Máscaras pontilham cidades como São Paulo, a proibição aos fretados deixa as linhas de metrô ainda mais lotadas nos horários de pico, o frio e a chuva intermitentes completam o cenário favorável à pandemia. Parece a descrição de um desses filmes sobre o fim do mundo, em que a raça humana está para ser varrida do planeta. Mas esse cenário não se limita a São Paulo nem muito menos ao Brasil. Em países do hemisfério norte onde já não há mais o frio canalizador do vírus, vários continuam morrendo. Lá, neste momento, as pessoas estão comprando modelos mais elaborados de máscaras faciais para saírem nas ruas.

Embora milhões tenham morrido, a História conserva os registros de outras epidemias que não extinguiram a raça humana: a gripe espanhola no século XX, a peste negra no século XIV, mas uma sinistra diferença nos separa desses episódios e agrava nossas perspectivas: somos um mundo globalizado. Estamos intermunicipal, interestadual e internacionalmente ligados. Temos uma coisa chamada transporte público. Como conter algo tão facilmente disseminado num ambiente assim?


Por Maricy Ferrazzo


TRÂNSITO

Rodízio de congestionamento

Não é possível compreender a restrição à circulação de fretados na cidade de São Paulo. Essas pessoas que optaram por esse tipo de transporte vêm de muito longe para arcar com o gasto e o tempo prolongado de pegar três, às vezes até quatro, conduções por dia (e para voltar tudo de novo). Proibir a ajuda que a civilizada possibilidade dos fretados proporcionava não parece justo. Há pessoas que podem ter sido prejudicadas a ponto de terem ficado sem alternativas para chegar ao trabalho a tempo.

É estranho que os responsáveis por tal decisão não tenham cogitado cerca de 40 carros a mais nas ruas de São Paulo para cada ônibus proibido de circular. Ainda mais nessa época em que todos querem evitar o transporte público temerosos de serem contaminados pela indecifrável gripe suína.

O difícil de equacionar nessa questão é a tomada de tal resolução quando há inúmeros outros fatores que minam a fluidez do trânsito em São Paulo. Existem tantas leis e proibições, mas não há fiscalização séria. Por que os congestionamentos de quilômetros ocorrem nas marginais? Às vezes porque um único caminhão quebrou. Qualquer um que dirija nessa cidade sabe dos inúmeros veículos que descaradamente transitam sem a menor condição, prestes a quebrar ou causar uma colisão a qualquer momento.

Em relação à poluição, existe um número para denúncia de veículos emitindo gás carbônico em demasia pelos escapamentos, mas do que adianta? E as motocicletas? Não são todas, é claro, mas muitas contribuem para a poluição sonora da cidade. Qualquer motorista ou passageiro provavelmente já teve os tímpanos agredidos pelos sons de motores desregulados desses veículos.

Se por algum tempo a organização a que as leis servem fosse posta em prática em São Paulo, haveria muito mais resultado do que decisões como a que cerceou a circulação dos fretados. Afinal de contas, não há impostos para custear os serviços de manutenção e fiscalização das ruas?

E o outro fator chave: A cidade não quer atrair cada vez mais investimento, movimentação de capitais, logo, capital humano? O governo federal não facilita a compra de automóveis anulando impostos? A que outro resultado tal equação poderia chegar? Obviamente a metrópole mais rica do país acabaria entupida, literalmente. Dessa forma, tentativas superficiais de resolver um problema estrutural certamente só servem para “deslocar” o problema. Aí está mais um rodízio para São Paulo, o rodízio de congestionamento. Hoje aqui, amanhã lá.





Por Maricy Ferrazzo
Imagem: www.ultimosegundo.ig.com.br

Velocidade permitida


O carro é símbolo de independência entre os meios de locomoção. Ele pode ser considerado uma das invenções mais importantes da modernidade, exigente de individualismo e rapidez. Substituímos o lombo do cavalo e as longas viagens de carroça pelo conforto e a agilidade do carro. Porém é preciso dirigir com responsabilidade, do contrário, o automóvel se torna uma arma descontrolada e perigosa, coisa que dificilmente ocorria na época dos cavalos e carroças.

Vivemos num país que carece de transporte público de qualidade e eficiência, e apesar de congestionar ruas e avenidas, causar poluição sonora e ambiental, o carro é cada vez mais essencial para a nossa condução, pelo menos, nas capitais brasileiras que continuam investindo em obras que privilegiem veículos e não pedestres. Mas, saber dirigir ‘bem’ é essencial e somente a carteira de motorista não é suficiente para qualificar aquele que conduz a própria vida e de outras pessoas também. Há de existir ética humana, respeito pela vida do próximo.

Aproximadamente, 35 mil mortes são registradas por ano, em acidentes de trânsito, no Brasil; ou seja, uma média de 95 pessoas por dia. De acordo, com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país gasta anualmente R$ 30 bilhões no atendimento das vítimas. Motoristas embriagados e os que se locomovem em velocidade acima do limite estão entre as causas mais recorrentes que incluem os acidentes fatais.

As leis vêm numa tentativa de reduzir as tragédias. Após finalizar um ano de existência, no dia 20 de junho deste ano, a chamada Lei Seca reduziu em 23% o número de acidentes de trânsito no país. Somente no estado de São Paulo uma morte por dia foi evitada durante o primeiro ano da vigência da lei, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Porém, no Distrito Federal e na capital paulista e carioca ainda falta conscientização dos motoristas ao dirigir sem beber. Mesmo ao completar 11 meses da lei Seca no Distrito Federal os relatórios ainda indicavam que 3.521 motoristas haviam sido flagrados dirigindo bêbados. Num levantamento encomendado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia realizado em 13 universidades do Rio e São Paulo, 1.030 universitários foram ouvidos antes e depois da lei seca e 80% deles admitiu pegar carona com amigos que ingeriam bebidas alcoólicas. (De acordo com o Ministério da Saúde é considerado como consumo ‘abusivo’ pelo menos quatro doses de álcool para as mulheres e cinco doses para os homens. Lembrando que uma dose equivale a um copo de cerveja.)

Contudo, somente as estatísticas não são capazes de ilustrar o sofrimento das famílias por trás dos fatos, nem sensibilizar a opinião pública para a gravidade da situação. Esse ‘alguém’ que morreu num acidente automobilístico deixou irmãos, filhos, pai, mãe ou um outro ‘ente querido’ convivendo com a ausência, suportando a dor e tendo que lidar, na maioria dos casos, com a impunidade. Por isso, dirigir com responsabilidade não se reduz a dominar a direção, mas também a ter humanidade, pois se o melhor motorista do mundo não respeitar a vida de todos a sua volta, não haverá técnica nem habilidade que o impedirá de cometer crimes.

Quando estamos ao volante todo cuidado é pouco - ultrapassagens, avançar o sinal ou consumir álcool, mesmo que seja apenas um gole, não importa - são infrações, mas ignorar todas elas também é crime. Se formos coniventes com pequenos delitos, então estaremos abrindo espaço para os grandes delitos.

A velocidade permitida no trânsito é aquela que deve sempre respeitar o próximo acima de tudo. Se a invenção do carro fez parte de um processo evolutivo que resultou em vários modelos até chegar ao estágio atual, da mesma forma a educação no trânsito também depende de um processo, pois passa pela percepção de que respeitar as leis é também dar valor a vida e preservar o bom senso para evitar tragédias.


Por Joelma Godoy de Mello



Imagem: www.otempo.com.br

segunda-feira, 20 de julho de 2009

H1N1

15 mortes e novo protocolo no Brasil


Nova postura de prevenção epidemiológica está sendo iniciada pelo Ministério da Saúde conforme o número de mortes causadas pela gripe A H1N1 chegou a 15. Agora, a prioridade passará a ser impedir novos óbitos ao invés de simplesmente investigar casos suspeitos. Primeiramente, a atenção estava voltada para evitar a disseminação do vírus, porém o crescente número de mortes exigiu nova tática. Suspeitos de contaminação recebem aconselhamento pARa permanecer em casa, como nos casos de gripes comuns.

Contudo, a grande impressão é que as providências são muito amenas e que a população está extremamente vulnerável. O motivo mais básico pelo qual o Brasil deveria tomar medidas mais elaboradas é óbvio. Um país continental com realidades contrastantes e um sistema de saúde historicamente falho parece estar em apuros quando se fala em epidemia viral.

Para ilustrar, uma das recomendações passadas para a população se proteger é de que se lavem as mãos com bastante freqüência, mas este é um país onde algumas regiões mal têm água para a população. Recomenda-se evitar multidões, mas este é um país onde milhões de trabalhadores se amontoam nos veículos do transporte público todos os dias. Isso torna imaginar esse vírus por aqui um tanto assustador.

Talvez o pior seja que se tratam de sintomas com os quais todos estão acostumados a conviver de vez em quando. Parece uma gripe comum. Das duas formas a situação pode ficar insustentável, se todos ignorarem que sua gripe possa ser a suína e se todos passarem a procurar o sistema de saúde por medo, que em dias normais sempre esteve superlotado.

Dessa forma, parece relevante temer as futuras consequências da gripe suína no Brasil. Falava-se que se tratava de um vírus extremamente disseminável, mas cuja capacidade de matar era muito pequena e hoje são 15 os casos de morte só no Brasil. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), já são 120 os países atingidos e um total de 429 mortes, 95 mil pessoas contaminadas. Entretanto, há uma semana atrás, a organização divulgou que não daria mais conta de contar os casos individuais e desistiu de emitir boletins globais com os números mundiais.

Vírus como o H1N1 costumam atingir um pico de contaminação antes de diminuirem os casos, segundo o conhecimento atual dos especialistas. No Brasil, o pico ainda está por vir. Prevê-se que até aproximadamente 67 milhões de brasileiros ainda serão contaminados e dentre estes, até 4,4 milhões precisarão ser hospitalizados.


Por Maricy Ferrazzo


Veja a última nota à imprensa divulgada pelo Ministério da Saúde sobre os casos da Influenza A (H1N1) às 19h44 no dia 15 deste mês: http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=10402

Fonte: Folha
Imagem: newscycle.wordpress.com