terça-feira, 3 de março de 2009

Uma força de outra grandeza

No dia 8 de março, celebrar o Dia Internacional da Mulher é lembrar quão tortuoso têm sido o caminho trilhado pelas mulheres em busca de igualdade. Mas é também constatar que o erroneamente tido como “sexo frágil” teve que usar de muita força para chegar até aqui.





Direitos da Mulher


Os direitos da mulher no mundo contemporâneo, ainda que não completos, resultam de uma história em que, aos poucos, e ao longo de muito sofrimento, os conceitos de igualdade e liberdade foram defendidos. Nas épocas primitivas, quando o ser humano habitava cavernas e ainda não havia desenvolvido a capacidade de organização social, as mulheres eram submetidas ao domínio masculino por não se equipararem em força corporal.

A ascensão das mulheres a uma posição de igualdade em relação aos homens significa, então, primordialmente, uma vitória da capacidade mental sobre a força física. Significa que, aos poucos, a civilização se desenvolve em direção à racionalidade e se firma num sistema baseado na capacidade do pensamento. Obviamente, o papel fisiológico do sexo feminino não pode se alterar, mas passa a ocorrer baseado na vontade e não na submissão.

Falar em igualdade entre homens e mulheres é, pelo menos, complexo. Para cada região ou cultura do planeta a história é diferente. No entanto, tanto a civilização ocidental quanto a oriental compartilham conquistas em prol da autonomia feminina, mesmo que, muitas vezes, pequenas ou aparentemente insignificantes. É curioso constatar que nem sempre foi o lado ocidental do hemisfério que permitiu mudanças positivas para as mulheres. A tão criticada cultura islâmica no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade elaborou reformas sobre direitos no casamento, de divórcio e de herança já na Idade Média - séculos antes que as populações do Ocidente. Entre eles, o direito da mulher administrar os bens que gerasse com seu próprio trabalho.
Em contraposição, o direito a voto é hoje menos abrangente nas culturas do Oriente Médio, muito embora existam esparsas iniciativas femininas que clamam por esse direito, e que talvez já o tivessem alcançado não fosse a generalizada crise democrática que a região enfrenta.

Infelizmente, ainda há muito para mudar em prol da mulher. Os problemas continuam e assolam tanto o lar quanto a constituição do papel da mulher na sociedade: são a agressão doméstica, a violência e exploração sexual, a desigualdade nos direitos do trabalho, o veto ao direito do voto e outras igualdades políticas em relação aos homens, o impedimento do controle da saúde reprodutiva e o preconceito de uma forma geral.

Entre as iniciativas existentes, a ONU mantém o UNIFEM - ou Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher, que trabalha para promover a igualdade de gênero e os direitos humanos das mulheres. Fundado em 1976 após a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher na Cidade do México, o Fundo fornece assistência técnica e financeira a programas e estratégias que visam melhorar os direitos humanos das mulheres.

A construção do direito a serviço de uma sociedade mais igualitária é o principal instrumento existente. No entanto, por vezes, o que se vê discutido são direitos “de” mulher e não direitos “da” mulher. Há que se exigir respeito pelos direitos conquistados e exigir também que sua existência não seja vista como uma evidência de fraqueza ou inferioridade do sexo feminino. A mulher não quer se igualar ao homem quando reivindica os mesmos direitos, pelo contrário, quer sim chamar a atenção para outras formas de força, e para a mesma capacidade de evolução. Numa construção lógica e simples: é a sua diferença que sustenta seu direito por igualdade.

A verdade é que cada passo em direção a essa evolução é decisivo e deve continuar a figurar entre tantas outras reivindicações humanas que miram um mundo melhor.


Nem tudo é coisa do passado


No início do século XX era comum jovens mulheres trabalharem em fábricas em países industrializados ou em processo de industrialização, como o Brasil. Nos Estados Unidos, em 1911, uma fábrica de camisas de Nova York se incendiou e mais de 140 mulheres (entre elas crianças) morreram queimadas porque as instalações do prédio não tinham os mínimos cuidados de segurança. No entanto, havia algo mais incriminador: o testemunho dos bombeiros que tentaram apagar o fogo do prédio revelava que a porta de saída da fábrica estava trancada. E mais, os donos do negócio vinham enfrentando reclamações das trabalhadoras que clamavam por melhores condições de trabalho. No dia em que os donos da fábrica compareceram a julgamento, todos os jurados eram homens – nessa época as mulheres não tinham direito a voto nem a participar de júris. Os donos da fábrica foram condenados a pagar U$ 75 por família de cada vítima.

O mais assustador é que essa história vem se repetindo até hoje.

Lenasia, África do Sul - 17 de novembro de 2000 – 11 mulheres morreram queimadas num incêndio que destruiu as instalações da ESS Chemicals. As evidências mostraram que o incêndio ocorreu devido às perigosas condições de trabalho a que as operárias estavam expostas. Houve rumores de que elas estariam trancadas no local quando o fogo começou.
Daca, Bangladesh – 3 de maio de 2004 - cinco mulheres foram mortas numa explosão que destruiu uma fábrica de roupas em Mirpur.
Pune, Índia – 27 de agosto de 2008 – dez mulheres morreram incineradas numa fábrica que manipulava substâncias químicas para construção de munição.
Beed, Índia – 28 de janeiro de 2009 – seis mulheres foram mortas numa explosão em uma fábrica de fogos de artifício. Logo após o ocorrido, o dono da fábrica fugiu.
China – 23 de fevereiro de 2009 – 2 mil mulheres são mantidas em condições sub-humanas de trabalho em fábrica de computadores. Os turnos duram 12 horas sem interrupção e há câmeras que vigiam para impedir qualquer movimento de distração.



Por Maricy Ferrazzo



UNIFEM - http://www.unifem.og/Gourley, Catherine. Gibson Girls and Suffragists. Twenty-first Century Books, 2007.


Imagem/ Pankhurst: www.wikipedia.org

Nenhum comentário:

Postar um comentário