O extremismo da censura
A desconfiança, o estranhamento e o medo do ‘outro’ são elementos que fazem parte da natureza do homem. Entretanto, basta a iniciativa de um primeiro contato pacífico para que, aos poucos, esse outro deixe de trazer no desconhecimento que representa uma ameaça. Essa possibilidade de aproximação, a capacidade de compreensão e tolerância são características que fazem do Homem um ser racional.
Hoje, quando mesmo depois dos avanços da comunicação, persistem os conflitos étnicos, culturais e religiosos, obviamente se pergunta o que torna uma população inimiga da outra além dos interesses óbvios em disputa. Há o termo xenofobia, ou seja, aversão ao desconhecido, que claramente não se limita às regiões em guerra, está por toda a parte, ocorre todos os dias entre estranhos no metrô, entre vizinhos, entre colegas de trabalho.
Outro termo muito usado pela mídia internacional é o “extremismo”. As facções terroristas, o governo ou o governante são extremistas. Contudo é interessante observar como os termos xenófobo e extremista não atingem certa fatia da população mundial. O dono da multinacional que resolve fazer lobby para degradar a qualidade do meio-ambiente nunca é chamado de extremista, muito embora sua atitude radical repercuta negativamente em grande escala; o político que propõem um projeto de lei discriminador e segregador dificilmente é chamado de xenófobo.
Ontem, uma editora da rede CNN foi demitida ao postar no Twitter um comentário sobre o falecimento do clérigo xiita, Mohammed Hussein Fadlallah, em que afirmava ter grande respeito por sua memória. A jornalista foi acusada de ser simpatizante do Hezbollah e, mesmo depois de ter esclarecido a manifestação de sua opinião, informando que o clérigo havia lutado, dentro do possível, por melhores condições de direitos humanos dentro do Islã, acabou sendo demitida.
O ocorrido com a jornalista é um bom exemplo de como existe uma tendência a agrupar e perpetuar os conflitos impedindo que as pessoas sigam sua própria consciência. O que para muitos poderia ser um passo em direção à paz, uma iniciativa em direção à compreensão e tolerância, para muitos é deserção, traição.
Estará o mundo inteiro em constante guerra? Pois é na guerra que em nome de uma ideologia generalizante se mata um oponente que nunca fez mal a ninguém. É na guerra que é proibido pensar, individualizar. “Ou se está conosco ou se está com eles”. Será esse o novo modus operandi do pensamento contemporâneo?
A rede CNN explicou sua decisão afirmando que o comentário da jornalista havia prejudicado sua credibilidade. Ledo engano, a credibilidade dela está melhor que nunca.
Por Maricy Ferrazzo
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=597MON009
Imagem: worldofstock.com
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