A atuação da Polícia Militar, Civil e Federal com a ajuda das Forças Armadas nas favelas do Rio surgiu como uma surpreendente ação no longo e falho combate contra o tráfico de drogas. Certamente a vinda ao Rio de Janeiro dos dois grandes eventos esportivos internacionais como a Copa e as Olimpíadas deve ter influenciado tal iniciativa, o que não deixa de ser um fato vergonhoso, pois há muito a manutenção da segurança pública deveria ter sido motivo suficiente para isso.
De qualquer forma, a presença das autoridades nos Morros do Rio finalmente expõe uma população ávida por mudanças, oprimida pela lei do silêncio e governada pelos imperativos do crime. Agora isso pode mudar. Há uma chance de aquelas pessoas poderem viver como cidadãs sem, com isso, terem de colocar a vida em risco. Basta saber, obviamente, se essa condição de liberdade irá perdurar.
Uma das principais perguntas a se fazer é se os soldados das Forças Armadas continuarão nos locais por tempo suficiente, a ponto de impedir a retomada dos traficantes. Contudo, a quantificação desse tempo é muito subjetiva, quantos dias de vigilância serão necessários para acabar de vez com o domínio do crime nos morros da cidade do Rio de Janeiro?
Infelizmente, para responder essa pergunta, apenas outra pergunta: como acabar com o tráfico de drogas eliminando apenas uma parte do negócio? Como extinguir a venda de drogas ilícitas quando, morro abaixo, existem inúmeros consumidores? São esses que patrocinaram as metralhadoras, os veículos, as mortes.
Parece, assim, incompleta a luta contra o tráfico de entorpecentes. Fica uma sensação de que algo ainda está errado, incompleto. Enquanto houver quem queira comprar, haverá sempre quem queira vender. De que adiantará prender os traficantes e os seus cúmplices nessa situação? Outros se aproveitarão da existência da procura pelas drogas, e se transformarão nos sucessores desse tipo de crime.
Assim, parece correto dizer que a presença dos policiais e soldados não deve se limitar apenas ao mundo dos menos favorecidos nas reentrâncias complexas das favelas sobre os morros, mas também deve migrar para as ruas arborizadas e elegantes da cidade, onde muitos contribuem para endossar essa aviltante prática, algoz da organização social e segurança pública.
Por Maricy Ferrazzo
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