sexta-feira, 24 de abril de 2009

Desemprego: o fantasma que ganhou corpo


Interdependência. Essa característica principal de nosso sistema mundial atual pode gerar inúmeros benefícios, no entanto, os contras são igualmente grandiosos. Um deles é a vulnerabilidade a que todos os países estão expostos economicamente. De certa maneira, essa constatação é óbvia, contudo, até então, ainda não havia sido sentida na prática, dado que a última recessão econômica ocorreu quando o sistema capitalista ainda não havia atingido tal grau de abrangência universal. Ainda assim, é complexo incluir o mundo inteiro na crise financeira, já que alguns países continuam a crescer conforme outros veem sua estabilidade econômica cair por terra.

No time dos que sofrem com a atual crise, a maioria está tendo de lidar com uma reconfiguração de papéis econômicos que está, basicamente, exterminando postos de emprego. O emprego é um dos principais índices da saúde da situação financeira de um país, principalmente porque é o fator que une inevitavelmente as dimensões econômica, social e política.

As conseqüências de perdas massivas de emprego figuram tragicamente na História além do puro desequilíbrio econômico e perda de produtividade e poder de compra. Socialmente, vão desde o aumento da criminalidade até epidemias e surtos de suicídio. Politicamente, acirram rivalidades, xenofobia, segregação.

É, dessa forma, surpreendente que não se veja nenhuma medida verdadeiramente de emergência por parte dos governantes. As reuniões de cúpula têm abordado inúmeros elementos da crise, tenta-se recuperar tal e tal instituição, enxertar dinheiro nesta ou naquela indústria, incentivar o capital privado, resgatar dívidas, fazer empréstimos. Mesmo que todas essas iniciativas ocorram em prol de um novo fôlego financeiro, o desemprego continua a crescer em todo o mundo e, mesmo que muitas economias estejam sustentadas por um modelo muito ligado ao crédito, até quando ele poderá ser sustentado? As notícias veiculadas de todos os lados do planeta mostram:

- EUA: até março cerca de 670 mil empregos haviam desaparecido; o número de desempregados se aproxima dos 12 milhões;
- França: o desemprego atinge seu nível mais alto desde dezembro de 1999, abrangendo aproximadamente 3 milhões de pessoas, num aumento exponencial de 0,1% à 10, 2% em apenas poucos meses;
- Espanha: o índice de desemprego chegou a 17%;
- Reino Unido: a estimativa é que o número de desempregados cresça dos 92 mil atuais para 1,68 milhões até junho;
- Japão: o desemprego chega a 4,4% em fevereiro deste ano, um aumento de 12,4% em relação ao ano passado;
- Iraque: embora o país tenha outro histórico de crise, a quantidade de desempregados alcançou 28% este ano. (60% dos trabalhadores no Iraque são, hoje, empregados pelo governo);
- Brasil: a taxa de desemprego cresceu pela terceira vez, atingindo 9% e se consolidando como a maior desde setembro de 2007;


Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), espera-se que mais 23 milhões de pessoas percam seus empregos na Ásia com a continuidade da crise global. Os estudos da organização também informaram que 60 milhões de trabalhadores formais migraram para o setor informal, que já em 2008 somava 1,08 bilhões de pessoas no continente asiático.

Estamos diante de uma grande fenda na organização econômica mundial, basta saber se a reconfiguração desse sistema será inclusora ou se haverá a necessidade de deflagração de outros grandes conflitos para novas reestruturações no cenário mundial.


Por Maricy Ferrazzo


Fontes: USA – Bureau of Labor Statistics – www.bls.gov
BBC News – www.bbc.co.uk/
International Labor Organization (ILO) – www.ilo.org
IBGE – www.ibge.gov.br
Japan Bureau of Statistics - http://www.stat.go.jp/english/

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pequeno grande negócio


Termos como fidelização do cliente e imaginário do consumidor não são novidade para os adultos consumidores que prestam o mínimo de atenção à retórica das propagandas, mas, também não deixam de figurar no que é conhecido como “marketing infantil”. A diferença está, obviamente, no fato de que as crianças não têm ainda bagagem social-psicológica para fazerem uma triagem do que lhes é benéfico ou não.

Produtos infantis utilizam-se de elementos diferentes para conquistar seus consumidores, há uma exploração do lúdico, da imaginação e do fantástico – fatores cruciais na infância e, por isso, a margem entre brinquedo e produto é quebrada, tornando quase imperceptível o limite entre o incentivo à diversão ou a necessidade por um produto e o consumismo puro e simples.

As provas estão nas vitrines. Calçados utilizam a imagem de super-heróis ou bonecas famosos para despertar uma vontade de incorporação do personagem na criança. A maioria traz uma espécie de souvenir, um brinquedo, etc. Os anuais ovos de páscoa aderiram à surpresa no interior do chocolate. Cadernos e canetas, não são mais simples objetos de estudo, são projeções do desenho animado ou do filme favorito. Mochilas, roupas, móveis, bolachas, balas, xampu, pasta de dente, toda espécie de produto destinado ao consumo das crianças se anuncia por meio de um nome, imagem ou idéia inspirados nas histórias e personagens infantis.

Há algo errado nisso? Não. Não há erro em tornar as coisas do cotidiano da criança coloridas, divertidas e criativas. Com exceção dos brinquedos reais, há erro, sim, em deixar que a criança desenvolva sua necessidade de consumo guiada por fantasias, o que claramente leva ao excesso e à tendência ao consumismo emotivo, desorientado.

Se por um lado as empresas esperam conquistar os “jovens consumidores”, por outro deve haver a orientação por parte dos pais para que se evite transmitir às crianças o hábito do consumismo. Comprar algo quando há necessidade faz parte do consumo saudável, comprar um produto para suprir alguma outra necessidade diferente da que ele se destina é um sintoma de que algo está errado nessa relação produto-consumidor. Deve-se lembrar que o atual sistema econômico literalmente exige um consumo interminável e rápido para se sustentar, a questão é saber se proteger da voz imperativa que manda o indivíduo comprar mesmo quando não há uma necessidade concreta. Então, se imagina, se os adultos têm dificuldades para lidar com a doença do século, quão importante é a necessidade de se proteger as crianças?

Regras

De qualquer forma, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) estabelece, desde 2006, regras às propagandas infantis e a todas as outras na hora de usar da imagem de crianças para anunciar produtos. Há uma preocupação em não envolver as crianças num consumo excessivo, especialmente no que diz respeito a produtos alimentícios que em grande quantidade possam fazer mal à saúde. Há também a proibição quanto a imagem de crianças em propagandas de bebidas alcoólicas e loterias. Contudo, a proibição que diz respeito à utilização de voz imperativa no anúncio de produtos muitas vezes é desrespeitada em certas embalagens e propagandas, que praticamente veiculam apelos intensos ao público infantil.




Por Maricy Ferrazzo


Fontes:
www.conar.org.br
www.medialit.org/reading_room/article61.html