quinta-feira, 8 de julho de 2010

SOCIEDADE




O extremismo da censura



A desconfiança, o estranhamento e o medo do ‘outro’ são elementos que fazem parte da natureza do homem. Entretanto, basta a iniciativa de um primeiro contato pacífico para que, aos poucos, esse outro deixe de trazer no desconhecimento que representa uma ameaça. Essa possibilidade de aproximação, a capacidade de compreensão e tolerância são características que fazem do Homem um ser racional.

Hoje, quando mesmo depois dos avanços da comunicação, persistem os conflitos étnicos, culturais e religiosos, obviamente se pergunta o que torna uma população inimiga da outra além dos interesses óbvios em disputa. Há o termo xenofobia, ou seja, aversão ao desconhecido, que claramente não se limita às regiões em guerra, está por toda a parte, ocorre todos os dias entre estranhos no metrô, entre vizinhos, entre colegas de trabalho.

Outro termo muito usado pela mídia internacional é o “extremismo”. As facções terroristas, o governo ou o governante são extremistas. Contudo é interessante observar como os termos xenófobo e extremista não atingem certa fatia da população mundial. O dono da multinacional que resolve fazer lobby para degradar a qualidade do meio-ambiente nunca é chamado de extremista, muito embora sua atitude radical repercuta negativamente em grande escala; o político que propõem um projeto de lei discriminador e segregador dificilmente é chamado de xenófobo.

Ontem, uma editora da rede CNN foi demitida ao postar no Twitter um comentário sobre o falecimento do clérigo xiita, Mohammed Hussein Fadlallah, em que afirmava ter grande respeito por sua memória. A jornalista foi acusada de ser simpatizante do Hezbollah e, mesmo depois de ter esclarecido a manifestação de sua opinião, informando que o clérigo havia lutado, dentro do possível, por melhores condições de direitos humanos dentro do Islã, acabou sendo demitida.

O ocorrido com a jornalista é um bom exemplo de como existe uma tendência a agrupar e perpetuar os conflitos impedindo que as pessoas sigam sua própria consciência. O que para muitos poderia ser um passo em direção à paz, uma iniciativa em direção à compreensão e tolerância, para muitos é deserção, traição.

Estará o mundo inteiro em constante guerra? Pois é na guerra que em nome de uma ideologia generalizante se mata um oponente que nunca fez mal a ninguém. É na guerra que é proibido pensar, individualizar. “Ou se está conosco ou se está com eles”. Será esse o novo modus operandi do pensamento contemporâneo?

A rede CNN explicou sua decisão afirmando que o comentário da jornalista havia prejudicado sua credibilidade. Ledo engano, a credibilidade dela está melhor que nunca.


Por Maricy Ferrazzo


Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=597MON009
Imagem: worldofstock.com

quarta-feira, 7 de julho de 2010

CRIME CONTRA O MEIO-AMBIENTE

Democracia doente

Não podemos deixar que transformem em propriedade o que é legado da humanidade

A clara manipulação que está ocorrendo no Congresso Nacional para que o relatório da reforma do Código Florestal do deputado Aldo Rebelo (PCdoB) seja aprovado é mais um exemplo de conduta vergonhosa em nosso Legislativo. Uma proposta que mal pretende disfarçar os interesses da minoria agricultora no país, passando por cima da mínima noção de responsabilidade ambiental.

O relatório já foi aprovado no Congresso por 13 votos a cinco e vai aguardar aprovação no plenário após as eleições. É interessante observar como essas propostas aparecem em período de transição de mandatos, quando as atenções estão mais esparsas.

Mais uma vez, os membros do Legislativo, cujo papel é representar a vontade do povo brasileiro, estão agindo em favor de seus próprios interesses ou protegidos, arrastando nossa democracia de volta aos tempos do coronelismo. A remoção do deputado ambientalista Ricardo Trípoli (PSDB) da comissão especial dois dias antes da votação é um visível exemplo disso.

Um tema de importância vital – e que o termo ‘vital’ seja entendido no sentido literal – não pode ser conduzido da forma como está acontecendo. Parece ser necessário explicar mais uma vez a esses políticos que o meio-ambiente não é propriedade, é legado. E de todos.

Tal assertiva sugere que seria muito mais justo que uma reforma no Código Florestal fosse posta a referendo (art. 14, CF), para que o povo – real legitimador do governo – se expressasse sobre o assunto. Obviamente que não é do interesse daqueles que não representam a vontade popular que isso ocorra. Principalmente se a opinião dos que perderam tudo com as enchentes do ano passado e do atual forem ouvidos. Ou aqueles que sofreram com as doenças potencializadas pelas altas temperaturas e chuvas constantes, ou pela seca cada vez pior.

Num momento em que o mundo todo discute formas de assumir medidas que impeçam o desmatamento, o Brasil, tão alardeado nas conferências mundiais, vai permitir que tantos passos sejam dados para trás.

A saída é, além de tomar muito cuidado na hora de votar neste ano, exigir que um assunto tão importante como as leis florestais seja discutido por meio de um mecanismo de representação popular direta, já que o Congresso está do lado da moto-serra.


Por Maricy Ferrazzo

Imagens: G1,ANB e Rede Brasil Atual