sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

COP-15

Paradoxos expostos

Conforme a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática acontece em Copenhague, tanto os dirigentes dos governos como seus representantes estão enfrentando as dificuldades do diálogo em prol de um bem comum durante as inúmeras reuniões que estão acontecendo desde a abertura da conferência. A razão é que para estabelecer o diálogo universal em busca de um interesse geral há que se abrir mão de certas vantagens e se dispor a cumprir tal resolução. E obviamente que isso frustra certas intenções e ambições.

A questão ambiental está indissociavelmente entrelaçada à econômica e, dessa forma, encontrar uma coesão na hora de distribuir responsabilidades se mostra extremamente complexo, já que a própria distribuição de desenvolvimento é tão díspare de nação para nação. De um lado, os países ricos tentando (ou não) reduzir sua participação na emissão de CO2 na atmosfera e levantar verbas como incentivos às políticas de produção sustentável e preservação. De outro, os países pobres ou em processo de desenvolvimento lutando pelo seu direito de se industrializar e alargar sua produção.

Nessas tentativas de pesar quem tem mais responsabilidade diante do aquecimento global se encontra o perigo de desviar o verdadeiro intento da COP-15, que é oficializar o comprometimento de todos os países em acharem meios de tornar seu desenvolvimento menos agressivo ao meio-ambiente. Não importa quem poluiu durante o século XIX, XX, ou polui agora no XXI, a realidade não será alterada a tempo pela racionalidade dos direitos iguais, não nesse caso. Urgente é que cada país faça a sua parte, diminuindo significativamente suas emissões de CO2, buscando se adaptar a tecnologias e modos de produção sustentáveis. Isso não tem que ser distribuído com base em julgamentos históricos, tem que ser obrigatório para todos.

Ontem, o principal representante de negociações do G-77, Lumumba Stanislaus Di-Aiping, saiu de uma reunião com os dirigentes da ONU expondo abertamente seu ceticismo em relação aos rumos do acordo climático. Segundo ele, “a conferência será provavelmente arruinada pelas más intenções de algumas pessoas”.

O Primeiro-Ministro japonês, Yukio Hatoyama, havia prometido um corte de 25% das emissões de CO2 no país, mas na última sexta-feira anunciou que se os Estados Unidos e a China não aderirem aos cortes, o Japão também se isentará da obrigação. Mais uma vez fica provado que as exigências climáticas devem ser distribuídas como obrigatórias a todos. Não há tempo para discussões intermináveis e perigosas sobre quem deve mais.

Em resposta a mensagens criminosas que foram divulgadas pela Internet alegando que a mudança climática não era verdadeira, cientistas do mundo todo passaram a divulgar seus próprios depoimentos de que o aumento da temperatura média global é verdadeiro, além de obviamente perceptível. No Reino Unido, mais de 1700 cientistas assinaram um relatório afirmando que o aquecimento global é real e ocorre devido às atividades humanas.

Um estudo da Organização Internacional para a Migração mostrou que cerca de 1 bilhão de pessoas deverão abandonar suas casas nas próximas quatro décadas em função das consequências da alteração climática. Com essa declaração, todos deveriam lembrar dos dados da UNESCO, constatando que 2/3 da população mundial vive a até 50km do mar.

Fica claro que não investir urgentemente nas medidas contra o aquecimento global não só poderá atingir o comércio mundial devido às possíveis alterações na vida das pessoas, como provavelmente poderá até destruir permanentemente canais de comercialização e a estabilidade de muitos mercados.

Diante do presente sistema econômico, conseguir o comprometimento dos dirigentes dos países não é a única medida. Existem manifestações que vêm pedindo o engajamento de gigantes econômicos como o Google e a Microsoft. No entanto, nenhum acordo poderá vingar enquanto o fator primordial para garantir o futuro do planeta não for conquistado: a mudança de mentalidade das pessoas.

Impedir que as próximas gerações se criem com o incentivo ao consumismo irracional e desmedido também é uma precaução essencial. O mundo abriga 6,6 bilhões de pessoas e os recursos se esgotam. Uma saída a essa questão seria o consumo consciente, direcionado apenas aos produtos realizados dentro das normas sustentáveis.

Brasil

Porta-voz dos benefícios do etanol e do biocombustível, o Brasil não deixa de comemorar os futuros rendimentos do pré-sal, especialmente quando a Agência Internacional de Energia (IEA) divulgou estudo afirmando que a demanda por petróleo será 1,7% maior em 2010, ou seja, chegará a 86,3 milhões de barris diários. Fica a impressão de uma demagogia na retórica da sustentabilidade que o país está proclamando pelo mundo. Basta lembrar que não há investimentos para diminuir a necessidade da queima de dióxido de carbono em território brasileiro, o que poderia ser feito alterando o modelo de transporte viário pelo ferroviário, dado a larga extensão do país. O planeta precisa de mudanças verdadeiras e não apenas de atos simbólicos.


Por Maricy Ferrazzo


Fontes:
COP-15 - http://en.cop15.dk
Reuters
Terra Notícias
Folha Online
Imagens:
en.cop15.dk

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

MEIO-AMBIENTE

O mundo em vigília

Nos próximos dias 11 e 12 de dezembro haverá mais uma manifestação de apoio à causa ambiental no mundo. A campanha 350 chama todas as pessoas a engajarem suas comunidades para uma mostra de consciência durante os dias da Conferência das Nações Unidas em Copenhague para discutir as mudanças climáticas (COP-15).

A manifestação consistirá numa vigília pelo planeta, em que as pessoas deverão acender velas para marcar a vontade da população mundial pelas novas políticas sustentáveis.

A julgar pela extensa participação de pessoas do mundo todo no Dia Internacional de Ação Climática, esse novo evento promete ocorrer em igual ou maior intensidade.

Para saber mais sobre esse novo apontamento da campanha, visite o site www.350.org ou clique aqui.

Por Maricy Ferrazzo

Fonte e imagem: 350.org

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terça-feira, 3 de novembro de 2009

MEIO-AMBIENTE


Contagem regressiva para Copenhague


A WWF está pedindo a participação popular para a busca de mais comprometimentos ambientais por parte do Brasil e também dos outros países, especialmente agora que se aproxima a Conferência Climática de Copenhague.

Acesse para ajudar: http://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?22501/Acordo-climtico-em-risco-Lula--hora-de-agir



Para saber mais:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u646793.shtml

http://www.wwf.org.br/informacoes/?22640/O-acordo-de-clima-em-Copenhague-no--apenas-possvel---absolutamente-necessrio


Que marcas você quer deixar no planeta? Calcule sua Pegada Ecológica.

Por Maricy Ferrazzo

Imagem: globalwarming.com


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

COMPORTAMENTO


Vida só se for ao vivo

O vídeo dos adolescentes fazendo sexo que se espalhou pela Internet chocou muita gente no país. Logo, o assunto tornou-se pauta nos lares, nas escolas e, é claro, nos programas de televisão. Pais, mestres e apresentadores se perguntam o que se passa na mentalidade desses jovens para agirem de tal forma.
É necessário partir do pressuposto de que o estranho nesse caso não é o sexo, embora precoce – mas sim a vontade de exibi-lo publicamente, já em tão tenra idade. Seria uma atitude para desafiar a sociedade? Mostrar-se independente? Rebelar-se contra os pais ou a escola? Possivelmente. Contudo, existe a possibilidade, senão certeza, do papel de um outro fator nessa discussão. A questão dos modelos.

Não é necessário ser um psicólogo para comentar a adolescência, basta ter passado por ela. Não é uma época em que estamos sempre nos perguntando se somos iguais, se o que somos ou temos é normal? Não é uma época de um tumultuado autoconhecimento, constantes comparações e busca por parâmetros?
Para as gerações anteriores a adolescência sempre foi complicada, o que dirá atualmente com as redes sociais online, o Google e o You Tube! Para os adultos essa profusão de informações – boas e ruins – já é um desafio constante. Quantas vezes não usamos de nossos valores para filtrar esses conteúdos, sendo que sem esses valores estaríamos irremediavelmente expostos a toda espécie de teores prejudiciais.

O adolescente, então, diante do convívio não apenas com os pais, professores e amigos, mas com todo aquele infinito de ideias e conceitos incessantemente transmitidos pela TV e Internet , acaba passível de se perder nesse caleidoscópio de paradoxos.

O que é estranho é a sociedade não perceber de imediato onde esses jovens estão buscando os modelos que os fazem acreditar que exibir relações sexuais em público é normal. Fica até um tanto óbvio.

Há alguns anos os programas tipo reality shows se tornaram febre. Existem vários, com temas e objetivos diferentes, mas a base do entretenimento prometido com eles é sempre a mesma: a exposição. E nem todos contam com participantes maiores de idade, há os reality shows que acompanham famílias em seu cotidiano, mostram as dificuldades de pais despreparados com os filhos, nem os animais de estimação escapam.

Recentemente o mundo todo acompanhou o caso dos pais que forjaram um acidente com o filho num balão para ganhar a atenção da mídia, expondo a criança e colocando-a em segundo plano em comparação a sua vontade de serem ‘famosos’. Parece claro que a espetacularização da vida é uma triste tendência.

No caso dos adolescentes do vídeo, como repreendê-los se grande parte dos brasileiros se dedicam a assistir os tais reality shows em que participantes fazem a mesma coisa em frente às câmeras? E como podem os porta-vozes da TV se chocarem tão profundamente com o fato se eles mesmos tornam o “show da vida” um modelo aceitável, o divulgando e enaltecendo? Aquele indivíduo ainda formando seu caráter se depara com a maneira como essas exibições são naturalmente aceitas entre as pessoas de seu convívio e aprende que tudo isso é simplesmente normal. A relação com a mídia, desde o seu início, sempre foi cíclica.

Cria-se uma sociedade em que a exposição pública figura como um sinal de autenticidade, ou seja, acontecimentos só o são se tiverem público, esvaziando-se, dessa forma, o valor da privacidade. Como o sociólogo Zygmunt Bauman analisou, a exposição do privado, na sociedade atual, passou a ser vista como uma virtude, até mesmo um dever público. E essas projeções da vida privada se tornam produtos: aumentam os acessos do site, o ibope da TV e a venda dos jornais. Logo, é uma opção de cada pessoa querer ou não se tornar uma imagem – descartável - para consumo.
Por Maricy Ferrazzo
Fontes:
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Jorge Zahar, 2001.
Imagem: eikongraphia.com

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Passavam na TV

Interessante também observar como a indústria do cigarro costumava anunciar nos primeiros anos de transmissão televisiva. Seguem alguns links interessantes desses vídeos.

Dança dos cigarros/ Lucky Strike (1948) – praticamente uma hipnose http://www.youtube.com/watch?v=psN9uRe5l1o

Nem o Fred Flinston escapou/ Winston ( - )
http://www.youtube.com/watch?v=mZvHiiWFbBU

Cigarros fazem bem!/ Camels – ( - ) e quem diz é um médico!
http://www.youtube.com/watch?v=WI25DmCoWvI

Papo de mulher/ Camels – (1950) Cantora de ópera Marguerite Piazza diz que fumar faz bem para sua voz
http://www.youtube.com/watch?v=ESUPRjUfqUw&feature=related

Mas as propagandas de cigarro não ficaram num passado distante. O vídeo seguinte reúne algumas cenas do cinema que mostram pessoas fumando:
http://www.youtube.com/watch?v=RrOCJ6Ygt14



Por Maricy Ferrazzo


Imagem e vídeos: youtube.com

HISTÓRIA E PROPAGANDA

O passado obscuro das propagandas de cigarro

Quem já não foi ou é influenciado por uma propaganda na hora de escolher um produto em vez de outro? De forma a usar uma marca de valor mais alto ao invés de optar por uma mais barata? Muitas vezes, quando assistimos a um comercial de carro pela TV somos capazes de nos teletransportar, mentalmente, para dentro do veículo e viver todas as aventuras que o comercial promete, incluindo até mesmo a ‘bela’ companhia que anunciam junto. Mas, então, acordamos e percebemos que o orçamento doméstico não é compatível com o preço do carro e, mais importante: que ele não é garantia das felicidades que prometeu.

De qualquer forma, hoje, é preciso muita persuasão para seduzir o consumidor. Ele se tornou mais exigente e tem como obter informações sobre um artigo antes de adquiri-lo. O que não acontecia há algumas décadas atrás, quando era muito mais fácil ludibriar o consumidor. A indústria de cigarros foi um bom modelo de enganação. Se atualmente existem fumantes conscientes do mal que o vício provoca, antes eles não tinham idéia dos malefícios do fumo e, influenciados por uma bem ‘arquitetada’ campanha publicitária, tornaram-se dependentes químicos.

Indústria forte – A indústria do fumo se propagou na Europa e nas Américas, a partir da Primeira Guerra Mundial, com a distribuição de cigarros aos soldados nas trincheiras. O que antes era costume de poucos, o comércio para as massas, as alterações sociais do novo sistema econômico e a influência dos anúncios publicitários tornaram hábito de muitos. Os apelos psicológicos nas propagandas forneceram condições suficientemente favoráveis para alastrar o fumo pelos cinco continentes.

Em 1900, só nos Estados Unidos, o consumo anual era de cerca de dois bilhões de cigarros; em 1930 eram 200 bilhões, de acordo com o livro “O Cigarro”, de Mário César Carvalho (Publifolha). Em 1945, os executivos da indústria do tabaco já tinham comprovações científicas sobre os males do cigarro e esconderam do público. Os fabricantes demoraram um bom tempo para admitir que o hábito de fumar causa câncer e doenças cardiovasculares, tarde demais para milhares de usuários, que já haviam morrido devido à nicotina e outros componentes, e para tantos outros que mesmo com tal informação não conseguiam mais largar o vício, ou que até mesmo não acreditavam nos avisos. Como disse o filósofo Edgar Morin, “uma convicção bem arraigada destrói a informação que a desmente”.

O planejamento para ocultar qualquer indício sobre os efeitos nocivos do fumo envolveu a complacência de médicos, com depoimentos que incentivavam a ‘tragada’ para evitar dentes amarelos, melhorar a saúde ou mascarar a sensação de irritação na garganta. Na propaganda da ‘Camels’ os médicos são protetores da saúde 24 horas por dia. “Uma horinha de sono, um cigarro e ele está pronto para o trabalho”, ressalta o cartaz. As necessidades eram artificialmente estimuladas, sobretudo ressaltando somente um ‘suposto lado positivo’ do produto.

No início do século XX, predominavam propagandas para um consumo alienado, muitas vezes voltadas para o trabalhador, prometendo quebrar a rotina da jornada diária, prometendo satisfação numa maior parte de sua vida, diante da obrigação de fazer tarefas desinteressantes.

Por volta de 1920, a indústria resolveu dobrar o número de consumidores. Como? Os publicitários precisavam levar as mulheres a adquirirem o hábito, sem denegrir a imagem delas, já que na época não era comum o hábito de fumar entre o sexo feminino. Para o autor Jesús Martín-Barbero, em ensaio do livro “Sujeito, o lado oculto do receptor” – os publicitários sabem que ‘para atingir realmente a sensibilidade das pessoas, devem-se pôr em movimento outras dimensões da vida, do imaginário, outras representações do social, do cultural, do prestígio, do poder, da beleza, da juventude’.

A maioria das propagandas era protagonizada por artistas de Hollywood, envolvendo, assim, símbolos de modernidade e glamour. O editor de Economia do Le Monde, Yves Mamou, em ‘Ensaio sobre a fabricação da informação’ (1991), escreveu que “a Philip Morris não é apenas um dos maiores anunciantes publicitários do planeta com o Marlboro, mas é também o mecenas de uma grande quantidade de artistas dos Estados Unidos e da Europa”. O ator Sylvester Stallone declarou, recentemente, que recebeu US$ 500 mil para fumar em filmes. No entanto, pior que apelar para o espírito natalino ou a Ronald Reagan, era usar fotos de bebês , explorando, assim, sem nenhum pudor, a inocência da criança.

Segundo a OMS cerca de 1,2 bilhões de pessoas são fumantes em todo o mundo e estimativas da organização calculam que 10 milhões sofrem de câncer do pulmão. O saldo que a industria tabaqueira internacional deixou irá perdurar por muito tempo, interferindo diretamente na saúde da população que fuma e que está exposta a fumaça.

Por Joelma Godoy de Mello

Fontes: http://www.propmark.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=53852&sid=6&tpl=printerview
http://www.drauziovarella.com.br/artigos/cigarro_historia.asp
http://www.drauziovarella.com.br/artigos/cigarro_propaganda.asp

Fotos: http://hypescience.com/10-inacreditaveis-anuncios-propagandas-cigarros


terça-feira, 20 de outubro de 2009

EXPOSIÇÃO

Como o cigarro enganou a todos

Em tempo, o Intercontextos sugere a exposição “Propagandas de Cigarro – como a Indústria do Fumo Enganou Você” em mostra na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. São cerca de 60 cartazes com propagandas de cigarro que utilizaram desde a imagem do Papai Noel até um inocente bebê para convencer as pessoas de que fumar não é um problema e, pasme, "pode até fazer bem"! A visão de frases como “Camels – nenhum caso de irritação de garganta” e “Lucky – para ter um corpo esbelto” já deixam bem clara a escolha do título da exposição. Muito interessante para todos, mas essencial para quem ainda fuma!

Livraria Cultura
Avenida Paulista, 2073 – das 9h às 22h, de segunda a sábado. Até 26/10 (gratuito)
Por Maricy Ferrazzo

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

RIO

Prioridades em ordem inversa

As expectativas para os dois próximos eventos esportivos na cidade do Rio de Janeiro não poderiam ter sofrido pior boicote após as últimas notícias sobre a conflagração do conflito entre a polícia militar e o crime organizado na região norte da cidade. Após circularem notícias pelo mundo sobre a conquista de credibilidade do Brasil a ponto de conseguir a vaga de sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas, imagens do chocante embate substituíram os espaços das páginas de jornal e sites onde, até então, notícias sobre o país vinham aparecendo positivamente.

A glória de conquistar a confiança internacional e receber expoentes esportivos e suas comitivas do mundo todo não pode coexistir com problemas tão sérios como a violência gerada a partir de um problema estrutural tão arraigado como o que existe no Rio de Janeiro. O terrível ciclo do tráfico de drogas (traficantes – violência – polícia – violência – consumidores de drogas – violência) e seus resultados: cada vez mais mortes - em número até maior do que o necessário em outros países para se admitir uma guerra civil.

Após a divulgação de imagens típicas de cenas de guerra, a Secretaria Nacional de Segurança Pública prometeu liberar uma verba de R$ 100 milhões para adquirir outro helicóptero no lugar do que foi derrubado pelos criminosos e reforçar a segurança.

Certamente o Brasil está numa situação delicada, a de arcar com a responsabilidade que assumiu ao se candidatar para os eventos internacionais no que diz respeito à segurança. Num ambiente cada vez mais violento, em que nem a própria polícia consegue ter controle sobre as ações do crime organizado, como receber centenas de atletas e milhares de turistas?

Contudo, ainda mais importante, como se pode voltar investimentos para recepcionar os eventos esportivos no Rio quando há tantas necessidades e deficiências ameaçando a sobrevivência de sua própria população? Enfim, que festa será essa?


Por Maricy Ferrazzo
Imagem: reuters.com

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ARTE REVISITADA


Cachimbos, locomotivas e o surrealismo da profusão de imagens

Há aproximados 80 anos, René Magritte afirmou enfaticamente sob a figura que acabara de pintar, “isto não é um cachimbo”. Hoje, imagens flutuam nas telas e impressas sobre legendas que afirmam inúmeras coisas, as quais nem sempre são possíveis de acontecer numa realidade cuja lei gravitacional ou ordem das espécies continua a mesma. São imagens de tsunami gigantes, animais mutados, ou simplesmente distorções contextuais de tempo e espaço que manipulam a verdade dos fatos.

O pintor surrealista havia proposto um exercício de desconstrução cognitiva e um diálogo acerca do ardil de que as imagens são capazes, afirmando que o que estava representado em sua tela não era um cachimbo, era apenas a imagem de um. Magritte argumentou que não se poderia acender aquele cachimbo pintado e, com isso, expressou uma forma de capacidade crítica diante da ilusão das imagens. Mas o cinema há algumas décadas já atraía os olhos do mundo exatamente para a ilusão que as imagens poderiam criar.

Paris, 28 de dezembro de 1895: no café Salon Indien, a platéia presente foge assustada com a imagem de uma locomotiva que se aproxima em direção à tela num filme dos irmãos Lumière. Hoje: pessoas abordam atores nas ruas chamando-os pelo nome de seus personagens, movimentos culturais surgem a partir de imagens e suas representações (Warhol não retratou Norma Jeane Mortenson, mas a Marilyn Monroe do vestido esvoaçante).
A Internet trouxe aos cidadãos comuns um lugar à tela. Qualquer pessoa pode se inserir nas luzes da ribalta que uma página virtual pode oferecer. Nesse espaço, figuram milhões de exemplos das tentativas de construção de imagens a que as pessoas se submetem, não havendo mais o fator material como variável. Até mesmo quem disponibiliza imagens a esmo no espaço virtual está de alguma forma construindo uma representação vulnerável à interpretação subjetiva de tantos outros.

Em relação à mídia, o que não diz respeito apenas ao jornalismo, a utilização de imagens não poderia ser mais variada. Muitas vezes, a mesma fotografia circula vinculada a conceitos opostos; noutras, uma única fotografia é considerada prova irrefutável de certa realidade, a ponto de não haver suscitações acerca do que o ângulo e a luz encerraram naquele excerto.

Se hoje não nos assustamos mais com trens que avançam em direção à tela do cinema, ainda assim buscamos certa experiência catártica ao nos interessarmos por filmes de ação, imagens de dilúvios e outros fenômenos. Se vivenciamos experiências sem registrá-las imageticamente, a impressão é de que elas não aconteceram; a sociedade contemporânea parece, assim, estar indissociavelmente ligada à imagem como nunca antes na História, a ponto da escritora Susan Sontag afirmar que a proliferação de fotografias estava criando dentro das pessoas uma “relação crônica de voyeurismo”.

Há ainda outro fator relevante: a manipulação estética. Comparar, por exemplo, uma revista de moda da década de 1980 a uma atual significa constatar que atualmente as imagens de pessoas estão fantasticamente livres de falhas físicas. Chega-se, assim, a uma fase pós-fotografia, em que há literalmente uma decodificação da imagem em pixels, processo que não se limita ao que foi colhido do mundo material. Mas o preocupante diante de tais atividades não é tanto a manipulação propriamente dita quanto a difusão e aquiescência dessas imagens pelas pessoas. E o processo de autoconhecimento de que tanto se falava quando dos primeiros daguerreótipos ao alcance da população comum? Não era nessa época, há mais de 100 anos, que as pessoas se pegavam maravilhadas diante de suas próprias imagens congeladas e planificadas, isentas do olhar viciado daquele que se mira no espelho?

O cachimbo de Magritte não pode ser aceso, assim como a locomotiva dos Lumière não pode atropelar, assim como não se pode amar um astro do cinema a quem nunca se conheceu. Por tudo isso, a mensagem que Magritte tentou passar em sua série de pinturas “A Traição das Imagens” figura como um interessante lembrete à nossa sociedade, cada vez mais imersa no mundo das representações, que ver, embora seja principalmente uma atividade para os olhos, também se faz com os outros quatro sentidos.



Por Maricy Ferrazzo

Imagem 01: wikipedia.com
Imagem 02: nationalcorridors.org
Imagem 03: faculty.weber.edu

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

BRASIL

O país do futuro

Desde que o descobrimento do pré-sal foi divulgado a posição do Brasil perante o mundo deu um salto em popularidade. Além de já figurar entre os BRIC, o país, então, passou a ter muito daquilo que todo o mundo quer: petróleo. De qualquer forma, riquezas materiais a parte, o Brasil surpreende por uma qualidade que hoje em dia é rara mundo a fora: diversidade.

Temos petróleo, mas também uma enorme frota de veículos abastecidos por álcool; temos uma população mista, somos brasileiros, mas muitos ítalo-brasileiros, sino-brasileiros, afro-brasileiros, árabe-brasileiros, entre outros; temos taxas de pobreza ainda altas, mas um dos maiores mercados consumidores do mundo; temos a miséria, mas ao mesmo tempo uma população que nas pesquisas revela se considerar feliz em comparação aos deprimidos países mais ricos.

É comum encontrar turistas estrangeiros surpresos com tamanha diversidade. É freqüente o interesse do capital estrangeiro diante de tantas possibilidades. E, por tudo isso, é possível chamar o Brasil de país do futuro. O motivo? Diante dos inúmeros exemplos de enrijecimento da capacidade de diálogo e cooperação pelo planeta, as muitas pluralidades do Brasil formam um exemplo a ser seguido.

Hoje, o principal símbolo dessa elevação de credibilidade é a escolha do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas em 2016. Hobsbawn já havia analisado o papel das Olimpíadas no cenário político, e no site da Foreign Policy circula atualmente um artigo intitulado “Why Brazil Won” (Por que o Brasil ganhou?) que, juntos, excluem a necessidade de discorrer mais uma vez sobre a relação Olimpíadas - política externa, basta dizer que nada acontece por acaso.

Outra estrela que brilha no céu brasileiro é a ascensão do país para a posição de 75º no ranking de IDH mundial, o que significa que o Brasil tem melhorado exponencialmente seu índice de desenvolvimento.

São vários os elementos positivos, mas, infelizmente, para comprovar a afirmação de diversidade acima, há também o outro lado: a corrupção e o seu ciclo vital cíclico, o desmatamento de áreas de preservação, as regiões onde falta infra-estrutura contra intempéries (nordeste com a seca e agora o sul com as tempestades), a carga tributária fantástica, o índice de analfabetismo, a precariedade do sistema de saúde, a violência urbana, o tráfico de drogas, entre outros problemas tão ou mais sérios.

Como se pode ver, o desafio que o Brasil lança a qualquer governo é sempre multidisciplinar e, embora seja um motivo de orgulho conquistar a credibilidade do resto do mundo, o primordial é garantir os direitos da população nacional.


Por Maricy Ferrazzo


HOBSBAWM, Eric. A invenção das tradições. Paz e Terra, 2002.
Imagem 01: nytimes.com
Imagem 02: foreignpolicy.com

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CONSCIENTIZAÇÃO


Feirão do imposto


Aos que defendem teorias de conspiração, a verdade: quem está por trás de tudo é o IMPOSTO!

Quase metade do que se paga numa lata de refrigerante é imposto sobre mercadoria, apenas 20% do preço de um pacote de biscoitos não é imposto, em um forno de microondas 57% do preço é. Fazendo as contas, a quantidade dos gastos ao se comprar produtos no Brasil suscita questionamentos acerca da carga tributária no país.

Para levar conscientização aos consumidores brasileiros, acontece, hoje, na estação de metrô Cinelândia, no Rio, o Feirão do Imposto 2009, evento que reunirá informações sobre os produtos e as respectivas indicações de percentuais de tributos pagos na aquisição de cada um deles. O feirão passará por cidades como São Paulo, Palmas, Curitiba, Fortaleza, Aracaju, Brasília, Goiânia, Teresina, Porto Alegre, Vitória, Salvador, Florianópolis, Joinville (SC), São José (SC), Chapecó (SC), entre outras 100, simultaneamente, amanhã (2 de outubro).

A iniciativa parte do Conaje (Confederação Nacional do Jovens Empresários) e do Conjove (Conselho Empresarial de Jovens Empreendedores), além das associações comerciais municipais. Para mais informações sobre o evento, e também sobre alíquotas, visite o site: http://www.feiraodoimposto.com.br/.


Por Maricy Ferrazzo


Imagem: 20somethingfinance.com

sábado, 19 de setembro de 2009

Copenhague 2009 - Justiça Climática


Em dezembro desse ano, representantes de vários países se reunirão em Copenhague para discutir a situação climática do planeta e tentarão chegar a acordos que forçem os países mais industrializados a estabelecerem limites de emissão de gases nocivos a atmosfera.

O link abaixo faz parte de uma iniciativa brasileira para reforçar a participação popular na busca por normas mais rígidas de respeito ao meio-ambiente. Por meio dele é possível assinar uma petição e saber mais sobre os diversos movimentos que vão ocorrer para chamar a atenção internacional até o dia do evento na Dinamarca. Essa é uma das raras iniciativas que dão ao povo a chance de ter uma voz nos acontecimentos importantes acontecendo pelo mundo. Não pode passar em branco.


Por Maricy Ferrazzo

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

TERREMOTO


Com a intensificação dos projetos sobre a exploração do pré-sal no Brasil, volto a temer a aproximação de mais um terremoto no estado de São Paulo...
Imagem: Folha/ USGC

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O valor do consumidor brasileiro

Novas leis de trânsito, Código do Consumidor, Procon, Inmetro... tais instituições seriam a garantia de uma sociedade segura e justa se houvesse fiscalização e se, com ela, a prática do disposto na lei fosse realizada. Mas não há.

É impossível não colocar em dúvida o status do Brasil de país em desenvolvimento quando se depara com agressões aos direitos humanos, civis e do consumidor, todos de uma vez só, ao constatar que a vida do brasileiro não inspira respeito. As imagens acima foram tiradas por mim de dentro de um ônibus, de linha intermunicipal, no litoral sul de São Paulo. O cinto de segurança da poltrona de número 15 estava literalmente rasgado, faltava um pedaço, não era mais cinto, muito menos de segurança.

Isso é a imagem do desrespeito ao ser humano, ao brasileiro e, finalmente, ao consumidor. Esses três diferentes caráteres de um mesmo indivíduo, que paga seus impostos, suas tarifas e taxas em demasia, estão em perigo neste país.

A qualidade do bem-estar social de uma nação não se mede pelas estatísticas plasticamente perfeitas dos websites governamentais ou pelo discurso de seus dirigentes, mas sim na simples e cotidiana tarefa de procurar o cinto de segurança num veículo de transporte público. Há tanta penalidade para o motorista individual irregular, e ao mesmo tempo se permite que uma empresa privada deixe uma unidade de sua frota circular nesse estado?

Não seria porque todos visam o Brasil e sua gigantesca massa consumidora destituída de capacidade crítica? Ah! Então isso explicaria a recorrente queda de qualidade de diversos serviços e produtos de alguns anos pra cá.

Obviamente, antes que se cogitem as desculpas, as estatísticas duvidosas e o tradicional otimismo alienado, na volta, novamente me deparei com um cinto de segurança inutilizável.

Esse me parece o pior estado de natureza, sem um Estado que o organize e ao mesmo tempo explorado por um capital que o desconsidera.
Por Maricy Ferrazzo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Lei Arouca

Não à regulamentação da crueldade!

A Lei Arouca propõe a regulamentação de procedimentos com uso de animais em experimentos científicos e foi aprovada no Brasil em setembro de 2008.Tal lei vem para o lucro da indústria farmacêutica, que já não encontra mais respaldo em países em que as experiências em animais foram banidas, como no caso da União Européia, em março deste ano.

A verdade é que muitas empresas com postura ecologicamente sustentável já produzem sem a necessidade de submeter animais a testes e outros procedimentos cruéis, portanto, não há desculpa para se manter uma lei que vai contra a ética da vida.

Pode-se assinar uma petição online se posicionando contra a Lei Arouca:



Por Maricy Ferrazzo

Colaboradores da vida

Ajudando os animais



Fora as grandes organizações em prol dos animais e da natureza, como a WWF e o Greenpeace, há, muitas vezes mais próximas do que imaginamos, pessoas com verdadeira vocação para contribuir para a vida no planeta. E embora exista sempre a urgência dos animais em extinção, esta não anula o sofrimento de milhões de outros animais abandonados e negligenciados pelas ruas de todo o país. Cães e gatos na maioria.


É vergonhoso constatar que nem sempre as cidades contam com os serviços de zoonoses por parte da administração pública, permitindo a reprodução incontida de animais que serão gerados com o único objetivo de sofrer a fome, a doença e muitas vezes a violência. Ainda há casos em que o próprio sistema de vigilância sanitária se encarrega de “exterminar” animais abandonados, expondo-os ao frio e à fome, animais estes que não estariam fadados a tanto sofrimento se houvesse um melhor controle e conscientização.


Felizmente, nem todos conseguem se conformar com esses fatos. São pessoas que todos os dias abrigam um animalzinho de rua e passam a cuidar dele. Ou são pessoas que se unem e formam entidades protetoras dos animais. Tais iniciativas deveriam ser motivo de orgulho de prefeitos, governadores e presidentes, mas o que ocorre é que animais não votam.


De qualquer forma, esses voluntários são um sopro de esperança na construção de um mundo mais sustentável e harmonioso, pois se esforçam para ajudar o maior número de vidas possível, mesmo com todas as dificuldades e falta de incentivo. Por isso, é essencial apoiarmos pessoas que estão fazendo o que podem para contribuir para a formação de um mundo melhor, fazendo não só a sua parte como a de outros que se abstraem.


Abaixo, segue uma lista de links para algumas dessas entidades:


ARCA Brasil – Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal
http://www.arcabrasil.org.br
WSPA Brasil – Sociedade Mundial de Proteção Animal
http://www.wspabrasil.org
SUIPA – Sociedade União Internacional Protetora dos Animais
http://www.suipa.org.br
UIPA – União Internacional Protetora dos Animais
HTTP://www.uipa.org.br
Cão sem donowww.caosemdono.com.br
Adote um mascotewww.adoteummascote.com.br
Adote um gatinhowww.adoteumgatinho.com.br
SOS Gatinhoswww.sosgatinhos.com.br
SOS Vida Animalwww.sosvidaanimal.com.br
SOS Animaiswww.sosanimais.org.br


Importante: Denuncie maus-tratos contra animais. A ARCA Brasil traz em seu site informações de como fazê-lo: http://www.arcabrasil.org.br/animais/caes_e_gatos/maustratos.htm


Há diversas outras ONGs e associações em prol da vida animal por todo o Brasil, basta procurar a mais próxima e ajudar.


Por Maricy Ferrazzo

quarta-feira, 29 de julho de 2009

H1N1

Invisível, indecifrável e letal



Para os microscópios não, mas para as pessoas de todo o planeta a influenza A é uma ameaça invisível e que, a despeito das iniciativas do setor de saúde, ainda permanece misteriosa. A contaminação é fácil e, estranhamente, as vítimas fatais parecem ser justamente aquelas que estavam com o sistema imunológico e saúde de uma maneira geral em boas condições.

Há quem afirme que a influenza A ou gripe suína é uma gripe como qualquer outra. Está enganado. O vírus que transmite a gripe A é uma mutação de vários vírus de gripe diferentes. Tanto que a Organização Mundial da Saúde ainda não conseguiu traçar exatamente os grupos de risco em relação a essa doença. No entanto, grávidas e crianças parecem estar mais expostas à contaminação. E isso sozinho já é um fator alarmante.

Durante a primeira postagem sobre o assunto neste blog, no estado de São Paulo o número de mortos pela gripe totalizava 15, era dia 20 de julho. Hoje, este número já subiu para 27. 56 no país, confirmados. No entanto, há aqueles casos abafados pelas prefeituras, em diversas cidades. Em pleno século XXI as pessoas ainda não tiveram a prática do direito por transparência assegurada.

Fala-se muito nas formas de prevenção contra o contágio, mas nada sobre as medidas de tratamento. Segundo o atendimento via telefone que o Ministério da Saúde vem prestando para a população, o Disque Saúde (0800 61 1997), a única orientação é que o indivíduo com suspeita de contaminação se dirija a um posto de saúde onde poderá receber um diagnóstico. Ainda segundo o serviço, a rede pública tem os medicamentos para tratamento, que são aplicados em até 48 horas após o diagnóstico. Mas as pessoas contaminadas estão morrendo em sete dias, nem todas desconfiam nos primeiros dias que se trata do vírus A, o que leva à conclusão que a gripe suína, neste país, é praticamente letal. Especialmente se lembrarmos de regiões mais carentes, de pessoas que não irão procurar tratamento, de hospitais superlotados...

Máscaras pontilham cidades como São Paulo, a proibição aos fretados deixa as linhas de metrô ainda mais lotadas nos horários de pico, o frio e a chuva intermitentes completam o cenário favorável à pandemia. Parece a descrição de um desses filmes sobre o fim do mundo, em que a raça humana está para ser varrida do planeta. Mas esse cenário não se limita a São Paulo nem muito menos ao Brasil. Em países do hemisfério norte onde já não há mais o frio canalizador do vírus, vários continuam morrendo. Lá, neste momento, as pessoas estão comprando modelos mais elaborados de máscaras faciais para saírem nas ruas.

Embora milhões tenham morrido, a História conserva os registros de outras epidemias que não extinguiram a raça humana: a gripe espanhola no século XX, a peste negra no século XIV, mas uma sinistra diferença nos separa desses episódios e agrava nossas perspectivas: somos um mundo globalizado. Estamos intermunicipal, interestadual e internacionalmente ligados. Temos uma coisa chamada transporte público. Como conter algo tão facilmente disseminado num ambiente assim?


Por Maricy Ferrazzo


TRÂNSITO

Rodízio de congestionamento

Não é possível compreender a restrição à circulação de fretados na cidade de São Paulo. Essas pessoas que optaram por esse tipo de transporte vêm de muito longe para arcar com o gasto e o tempo prolongado de pegar três, às vezes até quatro, conduções por dia (e para voltar tudo de novo). Proibir a ajuda que a civilizada possibilidade dos fretados proporcionava não parece justo. Há pessoas que podem ter sido prejudicadas a ponto de terem ficado sem alternativas para chegar ao trabalho a tempo.

É estranho que os responsáveis por tal decisão não tenham cogitado cerca de 40 carros a mais nas ruas de São Paulo para cada ônibus proibido de circular. Ainda mais nessa época em que todos querem evitar o transporte público temerosos de serem contaminados pela indecifrável gripe suína.

O difícil de equacionar nessa questão é a tomada de tal resolução quando há inúmeros outros fatores que minam a fluidez do trânsito em São Paulo. Existem tantas leis e proibições, mas não há fiscalização séria. Por que os congestionamentos de quilômetros ocorrem nas marginais? Às vezes porque um único caminhão quebrou. Qualquer um que dirija nessa cidade sabe dos inúmeros veículos que descaradamente transitam sem a menor condição, prestes a quebrar ou causar uma colisão a qualquer momento.

Em relação à poluição, existe um número para denúncia de veículos emitindo gás carbônico em demasia pelos escapamentos, mas do que adianta? E as motocicletas? Não são todas, é claro, mas muitas contribuem para a poluição sonora da cidade. Qualquer motorista ou passageiro provavelmente já teve os tímpanos agredidos pelos sons de motores desregulados desses veículos.

Se por algum tempo a organização a que as leis servem fosse posta em prática em São Paulo, haveria muito mais resultado do que decisões como a que cerceou a circulação dos fretados. Afinal de contas, não há impostos para custear os serviços de manutenção e fiscalização das ruas?

E o outro fator chave: A cidade não quer atrair cada vez mais investimento, movimentação de capitais, logo, capital humano? O governo federal não facilita a compra de automóveis anulando impostos? A que outro resultado tal equação poderia chegar? Obviamente a metrópole mais rica do país acabaria entupida, literalmente. Dessa forma, tentativas superficiais de resolver um problema estrutural certamente só servem para “deslocar” o problema. Aí está mais um rodízio para São Paulo, o rodízio de congestionamento. Hoje aqui, amanhã lá.





Por Maricy Ferrazzo
Imagem: www.ultimosegundo.ig.com.br

Velocidade permitida


O carro é símbolo de independência entre os meios de locomoção. Ele pode ser considerado uma das invenções mais importantes da modernidade, exigente de individualismo e rapidez. Substituímos o lombo do cavalo e as longas viagens de carroça pelo conforto e a agilidade do carro. Porém é preciso dirigir com responsabilidade, do contrário, o automóvel se torna uma arma descontrolada e perigosa, coisa que dificilmente ocorria na época dos cavalos e carroças.

Vivemos num país que carece de transporte público de qualidade e eficiência, e apesar de congestionar ruas e avenidas, causar poluição sonora e ambiental, o carro é cada vez mais essencial para a nossa condução, pelo menos, nas capitais brasileiras que continuam investindo em obras que privilegiem veículos e não pedestres. Mas, saber dirigir ‘bem’ é essencial e somente a carteira de motorista não é suficiente para qualificar aquele que conduz a própria vida e de outras pessoas também. Há de existir ética humana, respeito pela vida do próximo.

Aproximadamente, 35 mil mortes são registradas por ano, em acidentes de trânsito, no Brasil; ou seja, uma média de 95 pessoas por dia. De acordo, com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país gasta anualmente R$ 30 bilhões no atendimento das vítimas. Motoristas embriagados e os que se locomovem em velocidade acima do limite estão entre as causas mais recorrentes que incluem os acidentes fatais.

As leis vêm numa tentativa de reduzir as tragédias. Após finalizar um ano de existência, no dia 20 de junho deste ano, a chamada Lei Seca reduziu em 23% o número de acidentes de trânsito no país. Somente no estado de São Paulo uma morte por dia foi evitada durante o primeiro ano da vigência da lei, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Porém, no Distrito Federal e na capital paulista e carioca ainda falta conscientização dos motoristas ao dirigir sem beber. Mesmo ao completar 11 meses da lei Seca no Distrito Federal os relatórios ainda indicavam que 3.521 motoristas haviam sido flagrados dirigindo bêbados. Num levantamento encomendado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia realizado em 13 universidades do Rio e São Paulo, 1.030 universitários foram ouvidos antes e depois da lei seca e 80% deles admitiu pegar carona com amigos que ingeriam bebidas alcoólicas. (De acordo com o Ministério da Saúde é considerado como consumo ‘abusivo’ pelo menos quatro doses de álcool para as mulheres e cinco doses para os homens. Lembrando que uma dose equivale a um copo de cerveja.)

Contudo, somente as estatísticas não são capazes de ilustrar o sofrimento das famílias por trás dos fatos, nem sensibilizar a opinião pública para a gravidade da situação. Esse ‘alguém’ que morreu num acidente automobilístico deixou irmãos, filhos, pai, mãe ou um outro ‘ente querido’ convivendo com a ausência, suportando a dor e tendo que lidar, na maioria dos casos, com a impunidade. Por isso, dirigir com responsabilidade não se reduz a dominar a direção, mas também a ter humanidade, pois se o melhor motorista do mundo não respeitar a vida de todos a sua volta, não haverá técnica nem habilidade que o impedirá de cometer crimes.

Quando estamos ao volante todo cuidado é pouco - ultrapassagens, avançar o sinal ou consumir álcool, mesmo que seja apenas um gole, não importa - são infrações, mas ignorar todas elas também é crime. Se formos coniventes com pequenos delitos, então estaremos abrindo espaço para os grandes delitos.

A velocidade permitida no trânsito é aquela que deve sempre respeitar o próximo acima de tudo. Se a invenção do carro fez parte de um processo evolutivo que resultou em vários modelos até chegar ao estágio atual, da mesma forma a educação no trânsito também depende de um processo, pois passa pela percepção de que respeitar as leis é também dar valor a vida e preservar o bom senso para evitar tragédias.


Por Joelma Godoy de Mello



Imagem: www.otempo.com.br

segunda-feira, 20 de julho de 2009

H1N1

15 mortes e novo protocolo no Brasil


Nova postura de prevenção epidemiológica está sendo iniciada pelo Ministério da Saúde conforme o número de mortes causadas pela gripe A H1N1 chegou a 15. Agora, a prioridade passará a ser impedir novos óbitos ao invés de simplesmente investigar casos suspeitos. Primeiramente, a atenção estava voltada para evitar a disseminação do vírus, porém o crescente número de mortes exigiu nova tática. Suspeitos de contaminação recebem aconselhamento pARa permanecer em casa, como nos casos de gripes comuns.

Contudo, a grande impressão é que as providências são muito amenas e que a população está extremamente vulnerável. O motivo mais básico pelo qual o Brasil deveria tomar medidas mais elaboradas é óbvio. Um país continental com realidades contrastantes e um sistema de saúde historicamente falho parece estar em apuros quando se fala em epidemia viral.

Para ilustrar, uma das recomendações passadas para a população se proteger é de que se lavem as mãos com bastante freqüência, mas este é um país onde algumas regiões mal têm água para a população. Recomenda-se evitar multidões, mas este é um país onde milhões de trabalhadores se amontoam nos veículos do transporte público todos os dias. Isso torna imaginar esse vírus por aqui um tanto assustador.

Talvez o pior seja que se tratam de sintomas com os quais todos estão acostumados a conviver de vez em quando. Parece uma gripe comum. Das duas formas a situação pode ficar insustentável, se todos ignorarem que sua gripe possa ser a suína e se todos passarem a procurar o sistema de saúde por medo, que em dias normais sempre esteve superlotado.

Dessa forma, parece relevante temer as futuras consequências da gripe suína no Brasil. Falava-se que se tratava de um vírus extremamente disseminável, mas cuja capacidade de matar era muito pequena e hoje são 15 os casos de morte só no Brasil. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), já são 120 os países atingidos e um total de 429 mortes, 95 mil pessoas contaminadas. Entretanto, há uma semana atrás, a organização divulgou que não daria mais conta de contar os casos individuais e desistiu de emitir boletins globais com os números mundiais.

Vírus como o H1N1 costumam atingir um pico de contaminação antes de diminuirem os casos, segundo o conhecimento atual dos especialistas. No Brasil, o pico ainda está por vir. Prevê-se que até aproximadamente 67 milhões de brasileiros ainda serão contaminados e dentre estes, até 4,4 milhões precisarão ser hospitalizados.


Por Maricy Ferrazzo


Veja a última nota à imprensa divulgada pelo Ministério da Saúde sobre os casos da Influenza A (H1N1) às 19h44 no dia 15 deste mês: http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=10402

Fonte: Folha
Imagem: newscycle.wordpress.com

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Homem no espelho


Ao longo de sua carreira com altos e baixos vertiginosos, Michael Jackson recebeu inúmeros adjetivos. De todos os que eram impressos nas manchetes, eu pessoalmente preferia gênio, inovador, humanista; e é nesses que eu acredito.

A rede de interesses que gira ao redor do mundo do entretenimento e da arte, que não se limita apenas à mídia, costuma se aproveitar até a última parcela de lucro que um nome e um talento podem gerar, seja para o bem ou para o mal. Quando essa rede percebeu que Michael poderia gerar mais lucro como o “excêntrico”, e mais tarde como o “esquisito”, trataram de armar o terreno para essa exploração.

Infelizmente, no caso de Michael, o que encontraram foi uma pessoa frágil o suficiente para ser manipulada em direção aos interesses escusos do dinheiro. Michael foi uma criança levada ao seu limite para realizar o que o talento já lhe proporcionava, contudo, sem a margem de erro a que todo ser humano tem direito. E acho que todos nós sabemos como a infância pode passar rápido. E fazer falta.

Mais tarde, já envolto por um sucesso que, ao mesmo tempo que enleva, causa uma pressão que nem todos conseguem suportar – continuou inovando, agradando, mas algo já se revolvia em seu íntimo, resultado de um psicológico exposto a singulares cobranças e outros traumas.

A alteração da aparência e do comportamento foram as consequências da dor e da solidão com a qual o astro convivia. Não acontece para todos, mas para alguns, muito dinheiro acaba trazendo mais decepção que satisfação. E em Hollywood, principalmente, o dinheiro tende a atrair toda espécie de sentimento não-genuíno e de atitudes perigosas. Podemos nos perguntar, quem foi o cirurgião que aceitou desfigurar o rosto do músico e por quanto? Onde estavam as pessoas que o amavam para orientá-lo? E a acusação de pedofilia – quanto rendeu ao garoto e sua família?

Tudo isso o sistema da rede de interesses não coloca em pauta. E ainda agora, após a morte do artista, cada manchete ainda movimenta lucro, não podemos esquecer. O bom de tudo isso é que uma nação inteira – e imensa – de fãs conseguem enxergar o ídolo mesmo escondido pela máscara da chocante decadência, e elevaram, numa demonstração de carinho e consideração, a essência de Michael, aquilo que realmente conta, aquilo que se leva da vida: a inocência, a bondade, a generosidade gigantesca, o humanismo, a preocupação em passar mensagens de esperança e solidariedade em muitas de suas músicas, a beleza de seu talento, e o que tudo isso junto significa num mundo atolado de superficialidades.

Acredito que a questão seja essa mesmo: aos que se apegam às superficialidades, o Michael falido e desfigurado. Aos que procuram a intenção e o coração, o Michael em seu auge, um artista no sentido total da palavra e um cidadão do mundo, que doou o que tinha de mais especial com tamanha intensidade que acabou por se consumir. Mas o legado de sua história é nosso. Aprendamos com ela.

Trechos da música Will you be there de Michael Jackson:

Everyone's taking control of me
(todos estão assumindo controle sobre mim)
Seems that the world's got a role for me
(parece que o mundo tem um papel para mim)
I'm so confused
(estou tão confuso)
Will you show it to me?
(você esclarecerá para mim?)
You'll be there for me
(você estará lá por mim)
And care enough to bare me
(e se importará o suficiente para me sustentar?)
Por Maricy Ferrazzo

sexta-feira, 19 de junho de 2009

QUEDA DO DIPLOMA DE JORNALISMO

Da responsabilidade de escrever


Desde as épocas mais remotas do uso da linguagem e da escrita, civilizações tinham como algo de extrema importância a perpetuação da memória dos fatos intrínsecos a sua evolução, fossem eles sermões filosóficos, narrativas de guerras ou descrições da sociedade. Instrumental para várias ciências, a narrativa da Guerra do Peloponeso foi o legado do historiador Tucídides; os remanescentes diálogos filosóficos de Aristóteles guiaram o desenvolvimento da civilização Ocidental; a prosa de Boccaccio descreveu agudamente a sociedade italiana do século XIV, a de Chaucer a inglesa, a de Vidyapati a indiana, e assim por diante.

Diferentemente em cada região do planeta, o conhecimento adquirido por meio da narrativa, da leitura, foi crucial para a noção e reconhecimento cultural do Homem, formando uma linha de evolução da comunicação que se iniciou com o surgimento da fala na pré-História, da escrita na Idade Antiga, se transformou a partir do aperfeiçoamento dos tipos móveis e da tecnologia da tipografia por Gutemberg no século XV, e teve sua apoteose com a internet recentemente.

Naturalmente, a história dos que escrevem também teve sua evolução. Até antes da impressão, quem deixava registros eram os historiadores, os filósofos, os romancistas e os teólogos, entre outros poucos. Com a impressão, o número de devotos da escrita se ampliou para o interesse de várias ciências e contribuiu para um grau maior de democratização do conhecimento. A revolução industrial criou a imprensa como a conhecemos. A nova ordem econômica tornou também a informação um produto a ser consumido, e “então” o conhecimento da leitura e da escrita passou a ser uma obrigação do Estado para com sua população. Nesse período surge o termo ‘jornalista’ e se consolida o jornalismo.

Ao longo do tempo, conforme os jornais ganharam seu lugar como elemento cotidiano, a imprensa passou a estabelecer uma relação cíclica com a sociedade, buscando nela as informações e em seguida lhe oferecendo uma análise das mesmas. A partir dessa interação, o jornalista conquistou o dever da responsabilidade social, e embora nem todos o tenham honrado, existem em nossa História Contemporânea passagens em que o jornalismo influenciou ou decidiu diretamente o destino de pessoas e governos inteiros.

Os leitores desse jornalismo cada vez mais dinâmico podiam optar por acreditar ou não no que liam, mas contavam que aquele que havia redigido a notícia houvesse sido ético e se comprometido com a verdade, pelo menos da melhor forma possível, afinal de contas, se ele trabalhava para o jornal em questão, deveria ser bom.

Mas então chegou a tecnologia da internet e com ela se abriram infinitos espaços de comunicação interativa, instantânea, democrática. Caíram tempo e espaço na profissão do jornalista. Cresceram vertiginosamente as fontes de informação, o tempo de vida das notícias diminui enquanto estas passaram a se multiplicar constantemente. A comunicação de massa ficou ainda mais volumosa. Ascenderam ao lugar de honra do mercado da comunicação as matérias ligadas ao entretenimento, aquelas intrusivas das vidas dos habitantes do mundo do showbusiness, os paparazzi se tornaram algo como um coro grego, a web 2.0 e o Google, o oráculo de todas as respostas.

Parece, dessa forma, que o papel do jornalista deixou de ser o de trazer o furo, a notícia, para se concentrar em proporcionar informação. Mas também nem toda informação proporciona conhecimento, portanto, graças a essa remanescente apreciação da qualidade e busca por conhecimento, o jornalista não foi extinto. O que não significa que não esteja ameaçado.

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal que desobriga do diploma a função do jornalista acaba de atirar os jornalistas por formação numa espécie de purgatório. Aqueles que freqüentaram uma universidade para absorver todo o conteúdo que a História da Comunicação e as técnicas de Jornalismo promovem, de forma a oferecer o exercício de seu ofício com responsabilidade e preparo, perderam a institucionalização de sua profissão. Esses profissionais haviam estudado o legado que a história de todos os grandes utilizadores da escrita, como os citados acima, proporcionou. Exatamente porque o jornalismo é uma profissão pluralista, que se desenvolve conforme busca contextos, esmiúça informações para obter uma visão macro, e não pode nunca deixar de se expandir em conhecimento. Diferentemente da profissão médica, por exemplo, que alcança louvor conforme se especializa.

O argumento que a obrigatoriedade do diploma fere os direitos constitucionais de livre expressão é falho. Não se discute o direito de escrever, de se posicionar, denunciar, expressar. Discute-se apenas o direito de assinar o texto como jornalista. Tal resolução não foi tomada em prol do leitor nem em prol do ‘escritor’, mas apenas para aqueles que manipulam o primeiro e se impõem ao segundo.



Maricy Ferrazzo
Jornalista por formação

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Jogo de azar?

É interessante observar a inatingibilidade das estatísticas de segurança do transporte aéreo. Nos últimos anos os casos de acidentes – na maioria das vezes fatais – aumentaram significativamente e, mesmo assim, a mídia, de uma maneira geral, insiste em afirmar que o transporte aéreo é o mais seguro em nosso não mais tão vasto planeta.

A crítica a tal afirmação, que apenas matematicamente se comprova, está, contudo, baseada num ângulo de análise chamado ‘contexto’. Não é sábio comparar o transporte terrestre ao transporte aéreo. Por um simples detalhe: o último, por ser coletivo, significa que a partir do momento em que um passageiro embarca num avião, ele está depositando 100% de sua vida nas mãos da empresa em questão.

No caso de um ônibus, se por acaso um passageiro mais apreensivo desconfia que há algo errado com o veículo ou com a condução do motorista, ele pode sempre pedir para descer, não importa onde; estará em terra firme e, embora possa se ver perdido em algum lugar inóspito, ainda é preferível a arriscar a própria vida.

Ora, no caso do avião, tal escolha não existe e os passageiros perdem, como diria Foucault, o poder sobre seus próprios corpos. Não seria então mais justo evitar fazer comparações entre o transporte aéreo e o que se dá nas estradas de rodagem?

A análise da segurança no que diz respeito a voar deveria ser feita separadamente, dentro de um contexto próprio, pois envolve elementos diferentes. Um acidente causado por um automóvel pode ou não ser fatal, pode ou não envolver mais automóveis, pode ou não envolver outras pessoas. Um acidente durante um voo a milhares de pés da superfície da terra é definitivo, significa morte.

Atentar para essa grande diferença deveria bastar para contribuir para um acréscimo na responsabilidade das companhias aéreas, dos pilotos, dos controladores de voos e etc. A intenção não é gerar pânico, mas sim uma noção mais realista do que é que está em questão. Mais do que o lucro, que a movimentação necessária aos intentos de nossa globalização, que o esteio do turismo, a vida de todos nós.


Veja algumas fontes de estatísticas:
Veja estatísticas de acidentes aéreos no mundo. G1: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1181784-5602,00.html
Plane Crash Info: http://www.planecrashinfo.com/cause.htm (em inglês)



Por Maricy Ferrazzo

Denuncie

Para denunciar casos de abuso sexual contra crianças, o número é 100
Para denunciar exploração do trabalho infantil, basta dirigir-se ao Conselho Tutelar de seu município ou entrar em contato com a Polícia por meio do número 190.
O importante é não se calar diante desses crimes!

Inocência perdida


A expansão do mercado europeu e o aparecimento de novos comércios no Oriente, assim como o desenvolvimento industrial entre os séculos XVI e XVIII, fizeram aumentar a procura por trabalhadores para atender à crescente demanda de mercadorias. Foi nessa época que crianças começaram a fazer parte da mão de obra barata e fácil que não difere muito dos dias atuais.

Países como o Equador e Costa do Marfim se aproveitam da exploração do trabalho infantil para manter-se no mercado globalizado. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) mais de 211 milhões de crianças, entre 5 e 14 anos, são obrigadas a trabalhar, sendo que 95% das que trabalham vivem em países pobres do Hemisfério Sul.

Porém, há outros fatores que colaboram para acabar com o sonho e o futuro de muitos menores. De acordo com a ONU, mais de 700 mil crianças são anualmente vítimas do tráfico de seres humanos. De 1990 a 2000, mais de 300 mil crianças foram recrutadas como soldados e mais de 2 milhões massacradas em guerras civis. Em 2006, mais de 20 mil crianças foram exploradas sexualmente para a produção de pornografia infantil, segundo dados da Unicef. O Brasil é o 4º maior do mundo em pornografia infantil na internet.

Os casos de pedofilia são um dos que mais chocam - um crime silencioso e perverso que muitas vezes só é descoberto depois de anos de abuso. Muitas vezes a pessoa que pratica este delito pode estar escondida debaixo de um manto religioso, ocupando um cargo no Legislativo ou mesmo alguém que pertence a família, isto quando não é o próprio pai.

Apesar de existirem leis específicas para proteger a criança e o adolescente, elas não são suficientes para impedir que menores fiquem expostos a situações de risco. Se a criança é o futuro de uma nação, dar a ela condições a esse futuro é um direito e zelar pela sua integridade física e moral, um dever. Provavelmente, nem todas as crianças terão a sorte e a fama do escritor inglês, Charles Dickens (1812 – 1870). Ele teve uma infância miserável trabalhando em uma fábrica lúgubre no século XIX, mas ficou conhecido mundialmente quando começou a escrever histórias, que se inspiraram na triste experiência que viveu no passado.

Espalhados pelo mundo, jovens talentos são desperdiçados por não terem a chance de viver plena e dignamente a infância. É comum observar menores sendo marginalizados, se prostituindo ou contaminados pelo vício porque moram nas ruas e permanecem sem o amparo da lei. Mesmo que a polícia recolha alguns deles, no dia seguinte eles são soltos e voltam às ruas, perpetuando, sem saber, o ciclo vicioso de um sistema que só existe para garantir a sua própria existência.


Por Joelma Godoy de Mello


Fontes:
http://diplo.uol.com.br/2002-07,a353

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/11/081125_exploracaosexual_ac.shtml

Para consultar:
www.fundabrinq.org.br – nomes de fornecedores e revendedores com o selo Amigo da Criança – garantia de que não usam o trabalho infantil.