segunda-feira, 26 de outubro de 2009

HISTÓRIA E PROPAGANDA

O passado obscuro das propagandas de cigarro

Quem já não foi ou é influenciado por uma propaganda na hora de escolher um produto em vez de outro? De forma a usar uma marca de valor mais alto ao invés de optar por uma mais barata? Muitas vezes, quando assistimos a um comercial de carro pela TV somos capazes de nos teletransportar, mentalmente, para dentro do veículo e viver todas as aventuras que o comercial promete, incluindo até mesmo a ‘bela’ companhia que anunciam junto. Mas, então, acordamos e percebemos que o orçamento doméstico não é compatível com o preço do carro e, mais importante: que ele não é garantia das felicidades que prometeu.

De qualquer forma, hoje, é preciso muita persuasão para seduzir o consumidor. Ele se tornou mais exigente e tem como obter informações sobre um artigo antes de adquiri-lo. O que não acontecia há algumas décadas atrás, quando era muito mais fácil ludibriar o consumidor. A indústria de cigarros foi um bom modelo de enganação. Se atualmente existem fumantes conscientes do mal que o vício provoca, antes eles não tinham idéia dos malefícios do fumo e, influenciados por uma bem ‘arquitetada’ campanha publicitária, tornaram-se dependentes químicos.

Indústria forte – A indústria do fumo se propagou na Europa e nas Américas, a partir da Primeira Guerra Mundial, com a distribuição de cigarros aos soldados nas trincheiras. O que antes era costume de poucos, o comércio para as massas, as alterações sociais do novo sistema econômico e a influência dos anúncios publicitários tornaram hábito de muitos. Os apelos psicológicos nas propagandas forneceram condições suficientemente favoráveis para alastrar o fumo pelos cinco continentes.

Em 1900, só nos Estados Unidos, o consumo anual era de cerca de dois bilhões de cigarros; em 1930 eram 200 bilhões, de acordo com o livro “O Cigarro”, de Mário César Carvalho (Publifolha). Em 1945, os executivos da indústria do tabaco já tinham comprovações científicas sobre os males do cigarro e esconderam do público. Os fabricantes demoraram um bom tempo para admitir que o hábito de fumar causa câncer e doenças cardiovasculares, tarde demais para milhares de usuários, que já haviam morrido devido à nicotina e outros componentes, e para tantos outros que mesmo com tal informação não conseguiam mais largar o vício, ou que até mesmo não acreditavam nos avisos. Como disse o filósofo Edgar Morin, “uma convicção bem arraigada destrói a informação que a desmente”.

O planejamento para ocultar qualquer indício sobre os efeitos nocivos do fumo envolveu a complacência de médicos, com depoimentos que incentivavam a ‘tragada’ para evitar dentes amarelos, melhorar a saúde ou mascarar a sensação de irritação na garganta. Na propaganda da ‘Camels’ os médicos são protetores da saúde 24 horas por dia. “Uma horinha de sono, um cigarro e ele está pronto para o trabalho”, ressalta o cartaz. As necessidades eram artificialmente estimuladas, sobretudo ressaltando somente um ‘suposto lado positivo’ do produto.

No início do século XX, predominavam propagandas para um consumo alienado, muitas vezes voltadas para o trabalhador, prometendo quebrar a rotina da jornada diária, prometendo satisfação numa maior parte de sua vida, diante da obrigação de fazer tarefas desinteressantes.

Por volta de 1920, a indústria resolveu dobrar o número de consumidores. Como? Os publicitários precisavam levar as mulheres a adquirirem o hábito, sem denegrir a imagem delas, já que na época não era comum o hábito de fumar entre o sexo feminino. Para o autor Jesús Martín-Barbero, em ensaio do livro “Sujeito, o lado oculto do receptor” – os publicitários sabem que ‘para atingir realmente a sensibilidade das pessoas, devem-se pôr em movimento outras dimensões da vida, do imaginário, outras representações do social, do cultural, do prestígio, do poder, da beleza, da juventude’.

A maioria das propagandas era protagonizada por artistas de Hollywood, envolvendo, assim, símbolos de modernidade e glamour. O editor de Economia do Le Monde, Yves Mamou, em ‘Ensaio sobre a fabricação da informação’ (1991), escreveu que “a Philip Morris não é apenas um dos maiores anunciantes publicitários do planeta com o Marlboro, mas é também o mecenas de uma grande quantidade de artistas dos Estados Unidos e da Europa”. O ator Sylvester Stallone declarou, recentemente, que recebeu US$ 500 mil para fumar em filmes. No entanto, pior que apelar para o espírito natalino ou a Ronald Reagan, era usar fotos de bebês , explorando, assim, sem nenhum pudor, a inocência da criança.

Segundo a OMS cerca de 1,2 bilhões de pessoas são fumantes em todo o mundo e estimativas da organização calculam que 10 milhões sofrem de câncer do pulmão. O saldo que a industria tabaqueira internacional deixou irá perdurar por muito tempo, interferindo diretamente na saúde da população que fuma e que está exposta a fumaça.

Por Joelma Godoy de Mello

Fontes: http://www.propmark.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=53852&sid=6&tpl=printerview
http://www.drauziovarella.com.br/artigos/cigarro_historia.asp
http://www.drauziovarella.com.br/artigos/cigarro_propaganda.asp

Fotos: http://hypescience.com/10-inacreditaveis-anuncios-propagandas-cigarros


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