quarta-feira, 29 de julho de 2009

Velocidade permitida


O carro é símbolo de independência entre os meios de locomoção. Ele pode ser considerado uma das invenções mais importantes da modernidade, exigente de individualismo e rapidez. Substituímos o lombo do cavalo e as longas viagens de carroça pelo conforto e a agilidade do carro. Porém é preciso dirigir com responsabilidade, do contrário, o automóvel se torna uma arma descontrolada e perigosa, coisa que dificilmente ocorria na época dos cavalos e carroças.

Vivemos num país que carece de transporte público de qualidade e eficiência, e apesar de congestionar ruas e avenidas, causar poluição sonora e ambiental, o carro é cada vez mais essencial para a nossa condução, pelo menos, nas capitais brasileiras que continuam investindo em obras que privilegiem veículos e não pedestres. Mas, saber dirigir ‘bem’ é essencial e somente a carteira de motorista não é suficiente para qualificar aquele que conduz a própria vida e de outras pessoas também. Há de existir ética humana, respeito pela vida do próximo.

Aproximadamente, 35 mil mortes são registradas por ano, em acidentes de trânsito, no Brasil; ou seja, uma média de 95 pessoas por dia. De acordo, com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país gasta anualmente R$ 30 bilhões no atendimento das vítimas. Motoristas embriagados e os que se locomovem em velocidade acima do limite estão entre as causas mais recorrentes que incluem os acidentes fatais.

As leis vêm numa tentativa de reduzir as tragédias. Após finalizar um ano de existência, no dia 20 de junho deste ano, a chamada Lei Seca reduziu em 23% o número de acidentes de trânsito no país. Somente no estado de São Paulo uma morte por dia foi evitada durante o primeiro ano da vigência da lei, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Porém, no Distrito Federal e na capital paulista e carioca ainda falta conscientização dos motoristas ao dirigir sem beber. Mesmo ao completar 11 meses da lei Seca no Distrito Federal os relatórios ainda indicavam que 3.521 motoristas haviam sido flagrados dirigindo bêbados. Num levantamento encomendado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia realizado em 13 universidades do Rio e São Paulo, 1.030 universitários foram ouvidos antes e depois da lei seca e 80% deles admitiu pegar carona com amigos que ingeriam bebidas alcoólicas. (De acordo com o Ministério da Saúde é considerado como consumo ‘abusivo’ pelo menos quatro doses de álcool para as mulheres e cinco doses para os homens. Lembrando que uma dose equivale a um copo de cerveja.)

Contudo, somente as estatísticas não são capazes de ilustrar o sofrimento das famílias por trás dos fatos, nem sensibilizar a opinião pública para a gravidade da situação. Esse ‘alguém’ que morreu num acidente automobilístico deixou irmãos, filhos, pai, mãe ou um outro ‘ente querido’ convivendo com a ausência, suportando a dor e tendo que lidar, na maioria dos casos, com a impunidade. Por isso, dirigir com responsabilidade não se reduz a dominar a direção, mas também a ter humanidade, pois se o melhor motorista do mundo não respeitar a vida de todos a sua volta, não haverá técnica nem habilidade que o impedirá de cometer crimes.

Quando estamos ao volante todo cuidado é pouco - ultrapassagens, avançar o sinal ou consumir álcool, mesmo que seja apenas um gole, não importa - são infrações, mas ignorar todas elas também é crime. Se formos coniventes com pequenos delitos, então estaremos abrindo espaço para os grandes delitos.

A velocidade permitida no trânsito é aquela que deve sempre respeitar o próximo acima de tudo. Se a invenção do carro fez parte de um processo evolutivo que resultou em vários modelos até chegar ao estágio atual, da mesma forma a educação no trânsito também depende de um processo, pois passa pela percepção de que respeitar as leis é também dar valor a vida e preservar o bom senso para evitar tragédias.


Por Joelma Godoy de Mello



Imagem: www.otempo.com.br

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