Conforme a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática acontece em Copenhague, tanto os dirigentes dos governos como seus representantes estão enfrentando as dificuldades do diálogo em prol de um bem comum durante as inúmeras reuniões que estão acontecendo desde a abertura da conferência. A razão é que para estabelecer o diálogo universal em busca de um interesse geral há que se abrir mão de certas vantagens e se dispor a cumprir tal resolução. E obviamente que isso frustra certas intenções e ambições.
A questão ambiental está indissociavelmente entrelaçada à econômica e, dessa forma, encontrar uma coesão na hora de distribuir responsabilidades se mostra extremamente complexo, já que a própria distribuição de desenvolvimento é tão díspare de nação para nação. De um lado, os países ricos tentando (ou não) reduzir sua participação na emissão de CO2 na atmosfera e levantar verbas como incentivos às políticas de produção sustentável e preservação. De outro, os países pobres ou em processo de desenvolvimento lutando pelo seu direito de se industrializar e alargar sua produção.
Nessas tentativas de pesar quem tem mais responsabilidade diante do aquecimento global se encontra o perigo de desviar o verdadeiro intento da COP-15, que é oficializar o comprometimento de todos os países em acharem meios de tornar seu desenvolvimento menos agressivo ao meio-ambiente. Não importa quem poluiu durante o século XIX, XX, ou polui agora no XXI, a realidade não será alterada a tempo pela racionalidade dos direitos iguais, não nesse caso. Urgente é que cada país faça a sua parte, diminuindo significativamente suas emissões de CO2, buscando se adaptar a tecnologias e modos de produção sustentáveis. Isso não tem que ser distribuído com base em julgamentos históricos, tem que ser obrigatório para todos.
Ontem, o principal representante de negociações do G-77, Lumumba Stanislaus Di-Aiping, saiu de uma reunião com os dirigentes da ONU expondo abertamente seu ceticismo em relação aos rumos do acordo climático. Segundo ele, “a conferência será provavelmente arruinada pelas más intenções de algumas pessoas”.
O Primeiro-Ministro japonês, Yukio Hatoyama, havia prometido um corte de 25% das emissões de CO2 no país, mas na última sexta-feira anunciou que se os Estados Unidos e a China não aderirem aos cortes, o Japão também se isentará da obrigação. Mais uma vez fica provado que as exigências climáticas devem ser distribuídas como obrigatórias a todos. Não há tempo para discussões intermináveis e perigosas sobre quem deve mais.
Em resposta a mensagens criminosas que foram divulgadas pela Internet alegando que a mudança climática não era verdadeira, cientistas do mundo todo passaram a divulgar seus próprios depoimentos de que o aumento da temperatura média global é verdadeiro, além de obviamente perceptível. No Reino Unido, mais de 1700 cientistas assinaram um relatório afirmando que o aquecimento global é real e ocorre devido às atividades humanas.
Um estudo da Organização Internacional para a Migração mostrou que cerca de 1 bilhão de pessoas deverão abandonar suas casas nas próximas quatro décadas em função das consequências da alteração climática. Com essa declaração, todos deveriam lembrar dos dados da UNESCO, constatando que 2/3 da população mundial vive a até 50km do mar.
Fica claro que não investir urgentemente nas medidas contra o aquecimento global não só poderá atingir o comércio mundial devido às possíveis alterações na vida das pessoas, como provavelmente poderá até destruir permanentemente canais de comercialização e a estabilidade de muitos mercados.
Diante do presente sistema econômico, conseguir o comprometimento dos dirigentes dos países não é a única medida. Existem manifestações que vêm pedindo o engajamento de gigantes econômicos como o Google e a Microsoft. No entanto, nenhum acordo poderá vingar enquanto o fator primordial para garantir o futuro do planeta não for conquistado: a mudança de mentalidade das pessoas.
Impedir que as próximas gerações se criem com o incentivo ao consumismo irracional e desmedido também é uma precaução essencial. O mundo abriga 6,6 bilhões de pessoas e os recursos se esgotam. Uma saída a essa questão seria o consumo consciente, direcionado apenas aos produtos realizados dentro das normas sustentáveis.
Brasil
Porta-voz dos benefícios do etanol e do biocombustível, o Brasil não deixa de comemorar os futuros rendimentos do pré-sal, especialmente quando a Agência Internacional de Energia (IEA) divulgou estudo afirmando que a demanda por petróleo será 1,7% maior em 2010, ou seja, chegará a 86,3 milhões de barris diários. Fica a impressão de uma demagogia na retórica da sustentabilidade que o país está proclamando pelo mundo. Basta lembrar que não há investimentos para diminuir a necessidade da queima de dióxido de carbono em território brasileiro, o que poderia ser feito alterando o modelo de transporte viário pelo ferroviário, dado a larga extensão do país. O planeta precisa de mudanças verdadeiras e não apenas de atos simbólicos.
Por Maricy Ferrazzo
Fontes:
COP-15 - http://en.cop15.dk
Reuters
Terra Notícias
Folha Online
Imagens:
en.cop15.dk
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
COP-15
Paradoxos expostos
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