quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

DEMOCRACIA

Novo Código Federal, velha política dos coronéis, triste realidade

O Senado Federal aprovou ontem o texto base do projeto de lei que visa reformar o Código Florestal (Lei 4.771/65) com anistia para os depredadores e menos proteção às Áreas de Preservação Permanente, e, com isso, instituiu de uma vez por todas o retrocesso brasileiro em matéria de direito ambiental e democracia.

Não é necessário ser ambientalista para se inconformar com o tamanho descaso demonstrado pelos parlamentares. Deputados e senadores existem para representar a vontade do povo, e não das minorias. O que está sendo feito é uma afronta à nossa Lei Maior, à nossa Democracia e a todos os princípios mais básicos que a sustentam.

Voto de deputado e senador que não representa a vontade do povo é indicador de oligarquia, sintoma de colonialismo. Mesmo após o longo trajeto até a Constituinte de 1988, o que se vê perpetuar no Brasil é a mentalidade do explorador do século XVI, destituído de apego pela terra que usurpa.

Como será possível nos considerarmos uma nação quando não existe o mínimo nacionalismo, a mínima consciência cidadã? Aquele elemento que faz um grupo de pessoas se reconhecerem como iguais sobre um mesmo território e gritarem que são um país não existe no Brasil! A impressão que dá é que só existe o impulso do liberalismo desmedido, a busca pelo mercado, o grito do lucro e do consumismo.

Notícias sobre a vergonha do retrocesso legal e ambiental no Brasil já circulam por todo o mundo, já há quem esteja colocando em duvida a nossa capacidade de cuidar da Amazônia. Vejam o perigo. Numa época em que o Brasil tenta se projetar como um dos líderes da questão ambiental e a traz para o Rio+20, aprovar uma reforma como essa do Código Florestal é boicotar a própria soberania! Se os Estados fossem pessoas, poderiam interditar o Brasil por senilidade. Fala uma coisa e faz o oposto? Isso é sinal de razão?

A triste realidade é que sem a fiscalização dos eleitores, nossos mecanismos democráticos estão se tornando simulacros de democracia. O sistema está cada vez mais trabalhando pelo próprio sistema, e a vontade da nação está simplesmente sendo ignorada. Dia da Independência do Brasil e dia da Proclamação da República são apenas referências para os feriados no calendário. Dizem que a monarquia caiu, mas o que adianta se ver livre da aristocracia do sangue para viver sob os desmandos da aristocracia do dinheiro?

Por acaso a agricultura e a agropecuária estão ameaçadas de existir? Asfixiar ainda mais as áreas de preservação ambiental equilibrará as desigualdades do país, trará melhorias na qualidade de vida, aumentará a riqueza “nacional”?

Depois, quando a degradação fizer os rios transbordarem, as florestas secarem e a terra dos morros deslizar, vão culpar quem pelas mortes e destruição? As chuvas de verão estão chegando...

A última esperança é o protesto. Deixar clara nossa discordância. E lembrar que enquanto os brasileiros deixam mais essa passar, os políticos lá em Brasília dão risada e comemoram sua prepotência, dizendo uns para os outros “eu não disse?”.


Por Maricy Ferrazzo

Imagem: Greenpeace

Movimento "Veta Dilma" - http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Participe/Ciberativista/Codigo-Florestal-veta-Dilma1/

sexta-feira, 8 de abril de 2011

CHACINA NO RIO


Monstros existem?

O ataque à escola municipal do Rio que ceifou a vida de 13 crianças da forma mais brutal e banal possível já repercutiu o suficiente para que a respostas à pergunta acima seja “sim, eles existem”.

Os choques causados pelos desdobramentos da violência no Brasil, cada vez mais numerosos, já incitaram discussões que vão desde a diminuição da idade penal até mesmo à instituição da pena de morte, focando, assim, a punição ao invés da reforma basilar da sociedade.

Toda a insegurança e o medo que os milhares casos de violência cotidianos impõem à população já podem ser observados em inúmeras facetas da vida do brasileiro. Nossas casas assemelham-se cada vez mais a bases militares – com cercas, grades e câmeras de segurança; nossos carros são blindados; nossos olhares são desconfiados, os outros são sempre estranhos e perigosos. Contudo, enquanto não houver iniciativas de melhorar a própria sociedade, de nada adiantará se esconder atrás de grades ou vidros inquebráveis, pois, como o caso da chacina no Rio mostrou nessa quinta-feira, se você não sair, a violência entra para te pegar.

O genocida que enfileirou as crianças antes de executá-las assumiu mais ou menos o papel de um terrorista como quem copia um ídolo, porém diferentemente dos homens-bomba, lhe faltava a prerrogativa política por trás do crime. Ou seja, o ocorrido foi mesmo o ato de um monstro.

Monstro quase na acepção literal da palavra. A investigação acerca da vida e dos motivos do atirador deixaram claro que se tratava de uma pessoa com distúrbios mentais, mas não louca. Wellington Menezes de Oliveira aparentemente tinha também sido vítima psicológica de outras violências passadas, da exclusão e de traumas sociais que, quando encontram caráteres mais fracos, podem manufaturar tragédias e dar continuidade ao seu ciclo catastrófico.

Surgem muitas outras perguntas, mas o essencial é se perguntar por que existem os monstros, e averiguar se, por nossas omissões, não somos nós mesmos que os estamos criando. Por


Maricy Ferrazzo

Imagem: wellcultured.com

JAPÃO

Vazamento radioativo persiste e preocupa


Desde quando o terremoto de magnitude 9, seguido por tsunami, atingiu a região nordeste do Japão e causou um grave acidente nuclear, várias tentativas continuam sendo feitas para deter o vazamento radioativo da usina de Fukushima Daiichi. Quatro dos seis reatores da usina registraram aquecimento perigoso, provocado pela falha do sistema de resfriamento, o que originou explosões e liberou fumaça radioativa. Segundo a Tókyo Electric Power Company (Tepco), empresa que administra a usina, ela foi projetada para resistir a ondas de seis metros, mas não de 10, como foi o caso. Localizada próxima do Oceano Pacífico e a 250 km ao norte de Tóquio, o vazamento na usina nuclear está longe de ser sanado. No dia 2 de abril, foi detectada uma rachadura de cerca de 20 centímetros em um poço da usina, que facilita o escoamento da água ‘contaminada’ para o mar. De acordo com declarações feitas pelo governo japonês, “não há alternativa senão despejar no mar essa água radioativa, acumulada nas instalações da central da usina, como medida de segurança”. Os índices de radiação na água são aproximadamente 100 vezes acima do normal.


Medidas paliativas - A Tepco tentou reter o vazamento selando a rachadura com concreto e injetando polímero em pó para absorver a água, mas ambas as medidas foram em vão. A empresa analisa ainda tapar a fenda com produtos químicos ou instalar uma barreira no litoral para conter a água radioativa. A Tepco informou que usou líquido com corante para determinar a rota pela qual a água radioativa chega ao mar. De qualquer forma, o próprio governo japonês reconhece que “será uma longa batalha” e que serão necessários vários meses para conter o vazamento. O maior desafio são as quase 10 mil barras de combustível usado, cuja retirada levará muito tempo.


Histórico- Desde 1979 já ocorreram vários acidentes nucleares no mundo, entre eles o de Tchernobil (Ucrânia), em 1986. A maior catástrofe nuclear civil da história fez mais de 25 mil mortos, segundo estimativas oficiais, e contaminou três quartos da Europa. No Japão foram quatro acidentes – em 1997, 1999, 2004 e agora em 20011, sendo este último o mais grave de todos. Atualmente estão em funcionamento 143 usinas nucleares nos 27 países membros da União Européia. No Brasil, as usinas nucleares Angra 1 e 2 estão em operação, já a terceira se mantém em fase de construção. As usinas custam U$ 20 milhões por ano em manutenção, mas mesmo assim preocupam, pois faltam mais investimentos em infraestrutura na região onde estão localizadas. A estrada que dá acesso às usinas que também funcionaria para fuga, em caso de acidente, está em péssimo estado de conservação. Em dias de chuva chega a ser interditada, pois há risco de deslizamentos de terra nas encostas da rodovia Rio-Santos.


Ainda é cedo para saber qual será o preço a pagar pelo vazamento radioativo de Fukushima, mas já sabemos de antemão que os benefícios gerados pela energia nuclear não superam os danos possíveis de serem causados ao homem e ao meio ambiente, estes irreversíveis, na maioria das vezes. Depois de tantas lições, já era hora de aprender. Como disse Jawaharlal Nehru: “Não se pode mudar o curso da História apenas com a troca dos retratos pendurados à parede”.

Por Joelma Godoy de Mello



Para saber os níveis de radiação na região do Japão: RDTN.org


Informações sobre brasileiros no Japão: comunidade@brasemb.org.jp Fontes: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,prefeito-de-angra-diz-que-cidade-nao-esta-preparada-para-um-vazamento-nuclear,699865,0.htm

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/887879-conheca-os-acidentes-em-usinas-nucleares-desde-1979.shtml http://www1.folha.uol.com.br/mundo/897413-comissao-europeia-avalia-que-usinas-nucleares-devem-fechar.shtml http://g1.globo.com/tsunami-no-pacifico/noticia/2011/04/deter-vazamento-radioativo-vai-durar-meses-diz-governo-do-japao.html http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2011/03/mapa-colaborativo-indica-niveis-de-radiacao-por-todo-o-japao.html

Imagem: newsome.com

domingo, 16 de janeiro de 2011

ENCHENTES 2011

600 vítimas da imprudência
Por quantas vezes errar será humano?


Podia ter sido evitada a tragédia que abateu a região serrana do Rio, tivessem as autoridades refletido um pouco mais sobre a série de deslizamentos e enchentes do início do ano passado. Quantas outras desgraças ocasionadas por fenômenos naturais serão necessárias para fazer compreenderem aqueles que são responsáveis pela segurança pública que não se pode mais arriscar vidas deixando áreas de risco sem alerta e ações mais objetivas?

As alterações climáticas inauguraram períodos de chuvas intensas, a temperatura mais alta trouxe os temporais intermitentes, com grande precipitação. É possível permanecer aquém dessa nova realidade? Sim, é o que nos diz o número de mortos.

Mesmo com toda a cobertura jornalística das tragédias de dezembro de 2009/ janeiro de 2010, houve quem ainda permanecesse em locais de risco neste verão. Culpa da população? Talvez, em parte, sim, mas os verdadeiros culpados são aqueles que trabalham no setor público, que não providenciaram medidas preventivas. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, o Estado do Rio de Janeiro havia encomendado um estudo sobre as áreas de risco, que ficou pronto e apontou a necessidade da retirada da população. Faltou “apenas” a retirada dos moradores, foi o que o Secretário do Ambiente do Rio, Carlos Minc, disse. Exatamente o crucial não foi feito. Seria isso uma demonstração da inércia de um país doente com a burocratização, satisfeito apenas com o ‘andamento da papelada’?

Agora, o Brasil emergente, que sediará a Copa e as Olimpíadas, com grandes investimentos em infraestrutura (pagos pela população), figura em muitas manchetes pelo mundo como o lugar onde se morre às centenas por causa das chuvas de verão, onde as autoridades públicas são surpreendidas (todos os anos) pelas tempestades.

Será que daqui a um ano ainda seremos “pegos de surpresa”?


Por Maricy Ferrazzo


Fontes:
CNN - http://ireport.cnn.com/docs/DOC-541183?ref=feeds%2Foncnn
Folha Online
Intercontextos - http://intercontextos.blogspot.com/2010/01/enchentes.html

Imagem: montrealgazette.com


Como ajudar? – Veja na Folha como enviar auxílio às vítimas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ECONOMIA

Inflação teleguiada

A taxa inflacionária brasileira atingiu o maior crescimento dos últimos seis anos, segundo o ponto de referência IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Agora, quando o brasileiro tenta encontrar formas de manter seu consumo equilibrado a partir da alta dos preços, resta saber até quando a atual taxa de inflação persistirá. Contudo, tão importante quanto o crescimento da inflação também é a franqueza com a qual ele é admitido.

É, assim, interessante que as estimativas dos economistas tenham atingido agora, num momento de transição política, proporções mais alarmantes. Habitualmente, cenários menos otimistas da economia nacional costumam gerar contra-argumentos por parte dos setores econômicos do governo, porém, no presente momento, a inflação alta permanece ponto pacífico. A partir daí, seria errado considerar que o adiamento dessa constatação tenha sido deliberado?

Poderá ser instrutivo observar atentamente o que se desenvolverá com a política econômica do novo governo, especialmente se logo mais houver uma melhora na situação inflacionária, uma mudança certamente geradora de pontos positivos ao início da administração da presidente Dilma Roussef.

Seria, então, a política monetária do país um campo extremamente sensível à vontade do poder político? Ou pior, estaria ela à disposição das necessidades da política eleitoral? Mesmo diante de uma possibilidade decepcionante e antidemocrática, creio que a resposta seja ‘sim’.



Por Maricy Ferrazzo


Fontes: Exame, O Globo, Veja, Estadão, G1, Jornal do Comércio, Bloomberg, Economic Times, Financial Times, Telegraph.
Imagem: clipartguide.com