sexta-feira, 20 de março de 2009

Salvem os animais



É nauseante ficar a par das inúmeras histórias envolvendo maus-tratos contra animais. É humanamente impossível perdoar quem fere ou mata um ser que não tem meios de se defender nem de pedir ajuda. O sadismo contra animais é logicamente a linha que define um ser humano de alguma outra coisa que não merece seu espaço entre o céu e a terra.

Além do sadismo, há o oportunismo. Pessoas que sequestram animais de seus habitats naturais para comercializá-los e, nessa empreitada grotesca, acabam sacrificando a maior parte de seus reféns.

Há ainda a necessidade de narrar as diversas atrocidades cometidas contra os bichos? Infelizmente sim. São milhares de aves silvestres transportadas em gaiolas minúsculas, sem espaço até mesmo para morrer, em prol do tráfego de animais. São cachorros abandonados por donos que se mudam ou que enjoam do bicho. São muitos gatos espancados, torturados sem que recebam nem sequer o golpe de misericórdia para cessar sua dor. Fora os envenenamentos, atropelamentos (dolosos), enclausuramentos, rinhas e daí para pior.

O que aconteceu com a Humanidade?

Houve uma época em que o Homem era dependente da caça para sua sobrevivência. Hoje, ele é dependente da criação industrializada em massa de bovinos, suínos e galináceos. São esses outros animais que nascem com o único objetivo de serem abatidos. E quão cruel é isso? Obviamente, nós não conseguimos nos livrar do hábito de comer carne e, aparentemente, isso não acontecerá tão cedo, portanto, é um assunto que se afasta do pensamento sempre com um certo embaraço.

Para os que ainda têm uma visão dos “outros” animais como seres inferiores, desprovidos das faculdades do Homem, algumas informações. Não, os animais não compartilham da racionalidade do homem, mas têm sua própria maneira de pensar, não são 100% movidos por instinto. Animais são capazes de ter um leque de diferentes emoções: alegria, tristeza, mágoa, entusiasmo, raiva, amor. Eles têm um sistema nervoso, sentem dor como nós humanos, com a única diferença que não podem se comunicar conosco e expressar sua dor. Sofrem quietos, no máximo emitem gemidos.

O que é mais injusto é que os bichos são uma manifestação magnífica da força e beleza da Natureza. Além disso, são seres que habitam o planeta sem prejudicá-lo, têm sua própria forma de interagir com a terra e a água de forma a não causar danos. Ao invés do Homem trucidá-los ou extingui-los, deveria tentar realmente aprender com eles. É uma prepotência gigantesca acharmos que só porque podemos cozinhar no microondas somos melhores que aquele cachorrinho que, sentado, nos observa com olhinhos úmidos e carinhosos. É doentio atribuir adjetivos pejorativos a uma espécie de animal partindo do padrão humano. Como por exemplo: a serpente é maligna, o gato é traiçoeiro, o lobo é mau e outros absurdos.

Malignos, traiçoeiros e ruins somos nós. Basta visitar os sites de ONG’s pró-ecologia e checarmos o que fizemos com os animais e o que fazemos ou deixamos fazer ainda hoje.

Existem muitas pessoas e organizações engajadas, existem as leis, mas nada disso poderá alcançar um resultado efetivo se todos não contribuírem para que a mentalidade mude. É preciso denunciar e rechaçar as atitudes criminosas. Há quem transforme a dor de um animal em piada. Rir é ser cúmplice do mesmo crime. Assim como deixar um bichinho procriar continuamente, comprar produtos feitos da pele ou outras partes de um animal, utilizar cosméticos que os usam para testes, comprar móveis de madeira de extração ilegal, consumir produtos de empresa poluentes, deixar lixo na praia, na mata. São inúmeras atitudes que, se transformadas, poderiam fazer o planeta voltar a ser um lar para as espécies e não um campo de concentração.

O tempo se esgota. Por favor, salvem os animais. Por favor.



Por Maricy Ferrazzo


terça-feira, 10 de março de 2009

Filmes sobre trajetórias femininas

Contratadas para matar (Les Femmes de L'ombre, 2008)– Filme de Jean Paul Salomé com Sophie Marceau e Julie Depardieu.
Em maio de 1944, cinco mulheres são designadas para uma missão na França ocupada pelos nazistas. Elas precisam proteger o segredo do desembarque do Dia D e eliminar o coronel Heindrich contra a intervenção alemã. Cada uma delas possui uma particularidade especial para persuadir o inimigo.

Terra fria (North Country, 2005) – Dirigido por Niki Caro com Charlize Theron, Frances McDormand, Woody Harrelson e Sean Bean.
Charlize Theron faz o papel de uma mãe solteira que retorna a casa dos pais em busca de uma nova vida. Em 1989, no estado da Virgínia, ela começa a trabalhar como mineradora e é assediada por seus colegas de serviço. Após ser humilhada e ignorada por seus superiores, ela decide ir à justiça para impedir tal tratamento.

Em busca da liberdade (Chasing Freedom, 2003) – Dirigido por Don McBrearty com Juliette Lewis, Layla Alizada e Brian Markinson.
Baseado em eventos reais, este filme conta a história de uma mulher (Layla Alizada) torturada que foge do Afeganistão, controlado pelo Taliban. Mas quando ela chega aos Estados Unidos é presa por estar ilegal no país. Então, sua advogada (Juliette Lewis) vai tentar pedir asilo e impedir que ela volte ao Afeganistão, onde certamente poderá ser morta.

Grito de Alerta (Amber’s Story, 2006) – Produzido por Joseph Nasser e Jack Nasser com Teryl Rothery, Elizabeth Rohm e Adrian Hough.
Em 1996, na Califórnia, a menina Amber foi raptada e encontrada morta quatro dias depois. Sua mãe, Donna Norris passa a dedicar-se a criar o Alerta Amber, um sistema local de transmissão de emergência, usado para resgatar crianças seqüestradas e que possam ser capturadas logo após o desaparecimento delas. Baseado em fatos verídicos, o filme mostra que graças à determinação de uma mãe, 50 estados americanos adotam esse sistema sem ser necessário que se aguarde mais de 24hs para procurar uma criança.
Por Joelma Godoy de Mello

O estigma de ser mulher na mídia


A complexidade feminina não permite definir exatamente como é ser mulher, ainda mais nos dias de hoje, num mundo globalizado e cheio de diversidades culturais, sociais e religiosas. No entanto a ‘alma feminina’ não se perde com o passar dos anos, com a mudança de valores e conceitos que se definem, e não exprimem por completo, os desejos e anseios de uma mulher.

Prova disso pode ser constatada pela mídia que tende a retratar uma visão estereotipada e distorcida da mulher, como se o comportamento de uma minoria pudesse corresponder à maioria. Cada mulher é única - em sua forma de se vestir, se posicionar frente à sociedade, se manifestar por meio de sua arte e personalidade. Justamente por isso a mulher não pode e nem deve ser generalizada.

Mesmo assim, os comerciais de cerveja, por exemplo, apelam para os dotes físicos femininos, mostrados em trajes mínimos, para ressaltar os prazeres de se beber uma ‘loira gelada’. Outros comerciais até inovam colocando o cabelo como a parte mais importante da vida de uma mulher. Uma marca de cosméticos, por exemplo, criou uma propaganda, que não está mais sendo veiculada, no qual uma dona de casa não ficava ‘entediada’ e sim ‘apática’ com os afazeres domésticos e o cuidado com a família simplesmente porque o cabelo estava sedoso e bonito. Então somos tão superficiais assim?
Recentemente, uma novela, que não está mais no ar, explorou de maneira deturpada o ‘adultério’ - o enredo amoroso envolvia uma mulher casada que traía o marido com o melhor amigo dele. O tema, recorrente nos folhetins, foi tratado com forte apelo pejorativo. Além de ser totalmente ignorada pela população local e expulsa de casa, a personagem teve um final trágico na novela.


A mulher, quase sempre, é estigmatizada pela mídia como a boazuda, a infiel, a ingênua, a relapsa ou outros adjetivos que influenciam negativamente o telespectador ou o leitor. Nós mulheres queremos ser valorizadas pelo que realmente somos: pela nossa delicadeza, pelo nosso senso aguçado e delicado de olhar o mundo; pela maneira carinhosa com que tratamos nossos filhos e maridos; pela dedicação a família; pelos nossos acessos de emoção e sentimentalismo; pela nossa coragem e fibra; pela resistência a dor; por tudo isso e muito mais. Não queremos a força bruta e o racionalismo dos homens, pois eles nos completam por serem assim. Uma vez, o psicólogo e escritor americano, Timothy Leary (1920-1996) disse: “querer se tornar iguais aos homens demonstra apenas a total falta de ambição das mulheres”.



Por Joelma Godoy de Mello

terça-feira, 3 de março de 2009

Uma força de outra grandeza

No dia 8 de março, celebrar o Dia Internacional da Mulher é lembrar quão tortuoso têm sido o caminho trilhado pelas mulheres em busca de igualdade. Mas é também constatar que o erroneamente tido como “sexo frágil” teve que usar de muita força para chegar até aqui.





Direitos da Mulher


Os direitos da mulher no mundo contemporâneo, ainda que não completos, resultam de uma história em que, aos poucos, e ao longo de muito sofrimento, os conceitos de igualdade e liberdade foram defendidos. Nas épocas primitivas, quando o ser humano habitava cavernas e ainda não havia desenvolvido a capacidade de organização social, as mulheres eram submetidas ao domínio masculino por não se equipararem em força corporal.

A ascensão das mulheres a uma posição de igualdade em relação aos homens significa, então, primordialmente, uma vitória da capacidade mental sobre a força física. Significa que, aos poucos, a civilização se desenvolve em direção à racionalidade e se firma num sistema baseado na capacidade do pensamento. Obviamente, o papel fisiológico do sexo feminino não pode se alterar, mas passa a ocorrer baseado na vontade e não na submissão.

Falar em igualdade entre homens e mulheres é, pelo menos, complexo. Para cada região ou cultura do planeta a história é diferente. No entanto, tanto a civilização ocidental quanto a oriental compartilham conquistas em prol da autonomia feminina, mesmo que, muitas vezes, pequenas ou aparentemente insignificantes. É curioso constatar que nem sempre foi o lado ocidental do hemisfério que permitiu mudanças positivas para as mulheres. A tão criticada cultura islâmica no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade elaborou reformas sobre direitos no casamento, de divórcio e de herança já na Idade Média - séculos antes que as populações do Ocidente. Entre eles, o direito da mulher administrar os bens que gerasse com seu próprio trabalho.
Em contraposição, o direito a voto é hoje menos abrangente nas culturas do Oriente Médio, muito embora existam esparsas iniciativas femininas que clamam por esse direito, e que talvez já o tivessem alcançado não fosse a generalizada crise democrática que a região enfrenta.

Infelizmente, ainda há muito para mudar em prol da mulher. Os problemas continuam e assolam tanto o lar quanto a constituição do papel da mulher na sociedade: são a agressão doméstica, a violência e exploração sexual, a desigualdade nos direitos do trabalho, o veto ao direito do voto e outras igualdades políticas em relação aos homens, o impedimento do controle da saúde reprodutiva e o preconceito de uma forma geral.

Entre as iniciativas existentes, a ONU mantém o UNIFEM - ou Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher, que trabalha para promover a igualdade de gênero e os direitos humanos das mulheres. Fundado em 1976 após a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher na Cidade do México, o Fundo fornece assistência técnica e financeira a programas e estratégias que visam melhorar os direitos humanos das mulheres.

A construção do direito a serviço de uma sociedade mais igualitária é o principal instrumento existente. No entanto, por vezes, o que se vê discutido são direitos “de” mulher e não direitos “da” mulher. Há que se exigir respeito pelos direitos conquistados e exigir também que sua existência não seja vista como uma evidência de fraqueza ou inferioridade do sexo feminino. A mulher não quer se igualar ao homem quando reivindica os mesmos direitos, pelo contrário, quer sim chamar a atenção para outras formas de força, e para a mesma capacidade de evolução. Numa construção lógica e simples: é a sua diferença que sustenta seu direito por igualdade.

A verdade é que cada passo em direção a essa evolução é decisivo e deve continuar a figurar entre tantas outras reivindicações humanas que miram um mundo melhor.


Nem tudo é coisa do passado


No início do século XX era comum jovens mulheres trabalharem em fábricas em países industrializados ou em processo de industrialização, como o Brasil. Nos Estados Unidos, em 1911, uma fábrica de camisas de Nova York se incendiou e mais de 140 mulheres (entre elas crianças) morreram queimadas porque as instalações do prédio não tinham os mínimos cuidados de segurança. No entanto, havia algo mais incriminador: o testemunho dos bombeiros que tentaram apagar o fogo do prédio revelava que a porta de saída da fábrica estava trancada. E mais, os donos do negócio vinham enfrentando reclamações das trabalhadoras que clamavam por melhores condições de trabalho. No dia em que os donos da fábrica compareceram a julgamento, todos os jurados eram homens – nessa época as mulheres não tinham direito a voto nem a participar de júris. Os donos da fábrica foram condenados a pagar U$ 75 por família de cada vítima.

O mais assustador é que essa história vem se repetindo até hoje.

Lenasia, África do Sul - 17 de novembro de 2000 – 11 mulheres morreram queimadas num incêndio que destruiu as instalações da ESS Chemicals. As evidências mostraram que o incêndio ocorreu devido às perigosas condições de trabalho a que as operárias estavam expostas. Houve rumores de que elas estariam trancadas no local quando o fogo começou.
Daca, Bangladesh – 3 de maio de 2004 - cinco mulheres foram mortas numa explosão que destruiu uma fábrica de roupas em Mirpur.
Pune, Índia – 27 de agosto de 2008 – dez mulheres morreram incineradas numa fábrica que manipulava substâncias químicas para construção de munição.
Beed, Índia – 28 de janeiro de 2009 – seis mulheres foram mortas numa explosão em uma fábrica de fogos de artifício. Logo após o ocorrido, o dono da fábrica fugiu.
China – 23 de fevereiro de 2009 – 2 mil mulheres são mantidas em condições sub-humanas de trabalho em fábrica de computadores. Os turnos duram 12 horas sem interrupção e há câmeras que vigiam para impedir qualquer movimento de distração.



Por Maricy Ferrazzo



UNIFEM - http://www.unifem.og/Gourley, Catherine. Gibson Girls and Suffragists. Twenty-first Century Books, 2007.


Imagem/ Pankhurst: www.wikipedia.org

Deterioração da imagem feminina em sociedade

Mulheres ao longo da História já foram escravas, queimadas em fogueiras, condenadas ao apedrejamento, enclausuradas, torturadas e submissas a diversas formas de flagelos físicos e mentais – tudo isso para conquistar os direitos hoje previstos e ainda escassos ou inexistentes em muitas partes do mundo. A menor força física e a atração sexual natural do sexo oposto por muito tempo foram os elementos trágicos da trajetória feminina. Comparada às épocas remotas, nossa atualidade permite uma liberdade edificante às mulheres, permite o direito de ir e vir, de trabalhar, de se expressar, de escolher e de exigir respeito. No entanto, nem sempre o que está outorgado no papel se impõe na prática.


Parece ainda distante o dia em que uma mulher poderá optar por realizar atividades que não a exporão ao preconceito e até mesmo à violência, como a possibilidade de transitar por qualquer lugar sem temer ser vítima de abuso sexual pelo simples fato de ser mulher. E esse abuso não se limita à agressão física, mas se estende à agressão verbal. Por que as mulheres têm às vezes de sair de casa para trabalhar, por exemplo, e ouvir grosserias de estranhos na rua? Por que alguns homens acham que têm o direito de dizer o que bem entenderem para uma mulher nessa situação? Ou de tratá-las com violência e descaso?



Talvez se possa culpar, além de uma insistente cultura machista, a construção de valores baseada na exploração da imagem feminina. Basta ligar a televisão ou abrir uma revista para que se encontre a mulher novamente retratada como a escrava sexual da Antiguidade, um corpo e nada mais. Provavelmente, nesse caso, o maior inimigo das mulheres sejam elas mesmas, ao permitirem um culto limitado a seus dotes físicos - isso quando não vêm apregoados a conceitos de sensualidade que agridem exatamente o respeito próprio.


O fim do romantismo de que muitas mulheres se queixam se origina exatamente dessa industrialização e banalização dos encantos femininos. Não que uma mulher não possa tomar iniciativas ou permitir ser admirada, mas que o faça valorizando tudo o que é, ou seja, muito mais que apenas um corpo.



Por Maricy Ferrazzo



Imagem: i299.photobucket.com/.../MulherMelancia_03.jpg

Imagem/ mosaico: http://www.brandeis.edu/