quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um país de A à E



O Brasil não é como outros países em que a população é politicamente dividida em classes, ou castas, ou outras espécies de hierarquia social. No entanto, economicamente, aceita-se facilmente ser definido como A, B, C, D ou E.

A crise que tanto assombra os países – uns mais que outros – parece ter chegado ao Brasil com intensidade diferente para cada nicho populacional. Enquanto alguns empresários tiveram prejuízos milionários, o pobre mais pobre enfrenta e sofre com a alta nos preços dos alimentos. Entre um extremo e outro está a dita “nova classe consumidora”, que alguns nomearam como classe C. Essa multidão de trabalhadores vêm segurando a economia nacional e desempenhando papel crucial no modelo econômico assumido pelo governo. Como?


No passado, os trabalhadores sustentavam a economia de uma nação trabalhando; em nossa transitória atualidade de incentivo ao crédito, os trabalhadores sustentam o modelo econômico consumindo, e o Brasil se torna famoso internacionalmente por seu mercado consumidor. A exemplo disso, recentemente, em várias cidades, viu-se multidões fazendo filas quilométricas em frente às lojas que abririam suas portas com promoções.

Uma pesquisa realizada pela FGV Projetos previu que o Brasil será o quinto maior mercado consumidor em pouco mais de vinte anos. Atualmente é o oitavo. Um mar de ávidos cidadãos com cartão de crédito em riste. Um sem fim de ofertas de crédito. Mas é exatamente isso que assusta, o crédito. Teria ele vida eterna?

Enquanto expectativas e estatísticas parecem otimistas, quem costuma olhar para além do horizonte se depara com economias abaladas e medidas de emergência espalhadas pelo mundo. Até quando o mercado consumidor brasileiro permanecerá longe do contágio dessa crise? Despontam duas hipóteses: ou o crescimento e o poder de compra são um truque de ilusionismo, ou o país realmente passa por um período de reestruturação econômica que o posicionará num novo patamar de credibilidade financeira.

A mesma pesquisa apontou uma futura elevação na distribuição de renda no país, o que aumentaria a classe média e confeccionaria uma nova quantidade de “novos-ricos”. Essa elevação só não se estenderia à classe E. Ou seja, mesmo na possibilidade de concretização da hipótese mais otimista, ainda assim o Brasil continuará um país dividido em classes econômicas, ou pior, talvez essas classes tenham seus extremos cada vez mais distanciados, talvez a classe E se torne F, a C se transforme em B, e a classe A finalmente seja apenas A e não o Alpha de uma minoria de milionários. Ou não.


Por Maricy Ferrazzo


Fonte: Folha Online. <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u435311.shtml.> “Brasil será quinto maior mercado consumidor do mundo em 2030, diz estudo”

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