quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pequeno grande negócio


Termos como fidelização do cliente e imaginário do consumidor não são novidade para os adultos consumidores que prestam o mínimo de atenção à retórica das propagandas, mas, também não deixam de figurar no que é conhecido como “marketing infantil”. A diferença está, obviamente, no fato de que as crianças não têm ainda bagagem social-psicológica para fazerem uma triagem do que lhes é benéfico ou não.

Produtos infantis utilizam-se de elementos diferentes para conquistar seus consumidores, há uma exploração do lúdico, da imaginação e do fantástico – fatores cruciais na infância e, por isso, a margem entre brinquedo e produto é quebrada, tornando quase imperceptível o limite entre o incentivo à diversão ou a necessidade por um produto e o consumismo puro e simples.

As provas estão nas vitrines. Calçados utilizam a imagem de super-heróis ou bonecas famosos para despertar uma vontade de incorporação do personagem na criança. A maioria traz uma espécie de souvenir, um brinquedo, etc. Os anuais ovos de páscoa aderiram à surpresa no interior do chocolate. Cadernos e canetas, não são mais simples objetos de estudo, são projeções do desenho animado ou do filme favorito. Mochilas, roupas, móveis, bolachas, balas, xampu, pasta de dente, toda espécie de produto destinado ao consumo das crianças se anuncia por meio de um nome, imagem ou idéia inspirados nas histórias e personagens infantis.

Há algo errado nisso? Não. Não há erro em tornar as coisas do cotidiano da criança coloridas, divertidas e criativas. Com exceção dos brinquedos reais, há erro, sim, em deixar que a criança desenvolva sua necessidade de consumo guiada por fantasias, o que claramente leva ao excesso e à tendência ao consumismo emotivo, desorientado.

Se por um lado as empresas esperam conquistar os “jovens consumidores”, por outro deve haver a orientação por parte dos pais para que se evite transmitir às crianças o hábito do consumismo. Comprar algo quando há necessidade faz parte do consumo saudável, comprar um produto para suprir alguma outra necessidade diferente da que ele se destina é um sintoma de que algo está errado nessa relação produto-consumidor. Deve-se lembrar que o atual sistema econômico literalmente exige um consumo interminável e rápido para se sustentar, a questão é saber se proteger da voz imperativa que manda o indivíduo comprar mesmo quando não há uma necessidade concreta. Então, se imagina, se os adultos têm dificuldades para lidar com a doença do século, quão importante é a necessidade de se proteger as crianças?

Regras

De qualquer forma, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) estabelece, desde 2006, regras às propagandas infantis e a todas as outras na hora de usar da imagem de crianças para anunciar produtos. Há uma preocupação em não envolver as crianças num consumo excessivo, especialmente no que diz respeito a produtos alimentícios que em grande quantidade possam fazer mal à saúde. Há também a proibição quanto a imagem de crianças em propagandas de bebidas alcoólicas e loterias. Contudo, a proibição que diz respeito à utilização de voz imperativa no anúncio de produtos muitas vezes é desrespeitada em certas embalagens e propagandas, que praticamente veiculam apelos intensos ao público infantil.




Por Maricy Ferrazzo


Fontes:
www.conar.org.br
www.medialit.org/reading_room/article61.html

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