
A rede de interesses que gira ao redor do mundo do entretenimento e da arte, que não se limita apenas à mídia, costuma se aproveitar até a última parcela de lucro que um nome e um talento podem gerar, seja para o bem ou para o mal. Quando essa rede percebeu que Michael poderia gerar mais lucro como o “excêntrico”, e mais tarde como o “esquisito”, trataram de armar o terreno para essa exploração.
Infelizmente, no caso de Michael, o que encontraram foi uma pessoa frágil o suficiente para ser manipulada em direção aos interesses escusos do dinheiro. Michael foi uma criança levada ao seu limite para realizar o que o talento já lhe proporcionava, contudo, sem a margem de erro a que todo ser humano tem direito. E acho que todos nós sabemos como a infância pode passar rápido. E fazer falta.
Mais tarde, já envolto por um sucesso que, ao mesmo tempo que enleva, causa uma pressão que nem todos conseguem suportar – continuou inovando, agradando, mas algo já se revolvia em seu íntimo, resultado de um psicológico exposto a singulares cobranças e outros traumas.
A alteração da aparência e do comportamento foram as consequências da dor e da solidão com a qual o astro convivia. Não acontece para todos, mas para alguns, muito dinheiro acaba trazendo mais decepção que satisfação. E em Hollywood, principalmente, o dinheiro tende a atrair toda espécie de sentimento não-genuíno e de atitudes perigosas. Podemos nos perguntar, quem foi o cirurgião que aceitou desfigurar o rosto do músico e por quanto? Onde estavam as pessoas que o amavam para orientá-lo? E a acusação de pedofilia – quanto rendeu ao garoto e sua família?
Tudo isso o sistema da rede de interesses não coloca em pauta. E ainda agora, após a morte do artista, cada manchete ainda movimenta lucro, não podemos esquecer. O bom de tudo isso é que uma nação inteira – e imensa – de fãs conseguem enxergar o ídolo mesmo escondido pela máscara da chocante decadência, e elevaram, numa demonstração de carinho e consideração, a essência de Michael, aquilo que realmente conta, aquilo que se leva da vida: a inocência, a bondade, a generosidade gigantesca, o humanismo, a preocupação em passar mensagens de esperança e solidariedade em muitas de suas músicas, a beleza de seu talento, e o que tudo isso junto significa num mundo atolado de superficialidades.
Acredito que a questão seja essa mesmo: aos que se apegam às superficialidades, o Michael falido e desfigurado. Aos que procuram a intenção e o coração, o Michael em seu auge, um artista no sentido total da palavra e um cidadão do mundo, que doou o que tinha de mais especial com tamanha intensidade que acabou por se consumir. Mas o legado de sua história é nosso. Aprendamos com ela.
Trechos da música Will you be there de Michael Jackson:
Everyone's taking control of me
Seems that the world's got a role for me
Will you show it to me?
You'll be there for me
And care enough to bare me